domingo, abril 30, 2023

Raul Seixas - Um Messias Indeciso

Certa vez houve um homemComum, como um homem qualquerJogou pelada descalçoCresceu e formou-se em ter fé
Mas nele havia algo estranhoLembrava ter vivido outra vezEm outros mundos distantesE assim acreditando se fez
E acreditanto em si mesmoTornou-se o mais sábio entre os seusE o povo pedindo milagresChamava esse homem de Deus
Ah, quantas ilusõesAh, quantas ilusõesNas luzes do arredorQuantos segredos teráQuantos segredos terá
E enquanto ele trabalhavaNa sua tarefa escolhidaA multidão se aglomeravaPerguntando o segredo da vida
E ele falou simplesmenteDestino é a gente que fazQuem faz o destino é a genteNa mente de quem for capaz

Fundo do baú - Popeye

 

Popeye é um famoso personagem de desenho animado, cujas aventuras encantaram gerações na TV. Mas o personagem surgiu nas tiras de quadrinhos e nem mesmo era o protagonista. Os personagens principais da tira eram a família Palito. Em uma das histórias, o irmão de Olívia Palito está procurando marinheiros no caís e perguntando para Popeye se ele é um marinheiro. “Pareço um cowboy?”, pergunta ele, nesse início promissor. 
Popeye era baseado numa pessoa real da infância de Elzie Segar, o autor da tira. Era um marinheiro aposentado que vivia com o olho direito fechado e mentia muito a respeito de aventuras e brigas imaginárias nas quais eram sempre vencedor. 
Popeye significa olho estourado (pop eye) e de fato nas primeiras histórias o personagem não tinha um olho. Com o tempo, Popeye se tornou o personagem mais popular do título e virou até namorado de Olívia (antes ela tinha outro namorado, que foi devidamente esquecido). 
Em 1932 o marinheiro chegou às animação, mais uma vez como secundário de um desenho de Betty Boop. Os responsáveis eram os irmãos Fleischer, cujo estúdio era o mais revolucionário da época. Mas logo Popeye seria popular a ponto de ter sua própria série. 
Nessa época os desenhos eram exibidos nas telas de cinema. Depois disso, o personagem passaria por vários estúdios, sempre com sucesso, especialmente na TV. Uma curiosidade é que o marinheiro só começou a comer espinafre como estratégia de marketing. Acredita-se que uma fábrica de espinafre enlatado teria dado dinheiro a Segar para que ele introduzisse espinafre na tira. Deu tão certo que as vendas de espinafre aumentaram consideravelmente a ponto de uma das cidades produtoras de espinafre nos EUA ter uma estátua em homenagem ao Popeye.

Direto da estante - coleção graphic novel

 

Graphic Novel foi uma coleção lançada pela editora Abril em 1988 para aproveitar o interesse por edições de luxo, voltadas para um público mais adulto. O conceito de graphic novel foi criado provavelmente por Will Eisner (há alguma controvérsia a respeito disso) para se referir a histórias com melhor qualidade artística e literária. No Brasil o interesse por esse tipo de edição começou com Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller.
No começo, a coleção se limitou a publicar histórias com super-heróis. Mas com o tempo começou a publicar material autoral norte-americano e até europeu. No geral, o nível era altíssimo. A coleção durou 29 números, terminando em julho de 1992.
O sucesso da coleção fez com que surgissem outras nesse mesmo formato, como a Graphic Marvel e até a editora concorrente Globo lançou sua coleção, a Graphic Globo. Outra editora que lançou uma coleção assim foi a Nova Sampa, a Graphic Sampa.

200 perguntas sobre nazismo

 

200 perguntas sobre nazismo foi um livro que escrevi para a editora Escala lançado em banca no ano de 2009. Era um daqueles livros no estilo perguntas e respostas. O livro inteiro foi escrito no feriado do carnaval (na época eu escrevia muito rápido). A diagramação era interessante, com o uso de links, com informações sobre algo que era citado no texto (algo que seria usado profusamente pela Escala em outras publicações). Entretanto, era difícil identificar o título na capa e até meu crédito tinha que ser procurado pelo leitor no expediente. Posteriormente, a Escala lançou pelo menos duas revistas com conteúdo  retirado deste livro.

Jornal O Liberal faz matéria sobre livro Cabanagem, de Gian Danton

 


O Liberal, principal jornal de Belém, publicou uma matéria dando destaque para meu livro Cabanagem, que está em campanha no Catarse. Clique aqui para ler a matéria.

Liga Extraordinária: século

 

Liga Extraordinária é um dos projetos mais curiosos de Alan Moore, por uma série de motivos. Para começar, como surgiu. O desenhista inglês Kevin O`Neil ouviu o boato de que Alan Moore iria fazer um projeto com ele. Não era verdade, mas quando foi conferir a história com o próprio Moore, os dois tiveram a ideia de realmente fazer uma série. Além disso, a proposta é interessante: reunir heróis da literatura popular do século XIX em uma liga para combater grandes perigos.
A primeira geração tinha o Capitão Nemo (do livro 20 mil léguas submarinas, de Júlio Verne), Nina (de Drácula, de Bran Stock) o aventureiro Allan Quatermain (De As minas do rei Salomão, de Henry Rider Haggard), Dr. Jekyll (de O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson), e Hawley Griffin (de O Homem Invisível, de H.G. Wells).
A história fez grande sucesso e ajudou a popularizar o subgênero steampunk nos quadrinhos. Também deu origem a um filme, absolutamente esquecível.
Liga Extraordinára Século integral, publicado pela editora Devir em 2015 reúne uma história posterior da Liga, ambientada entre os anos 1910 e 2009. É centrado em Nina, Alan e um agregado: o imortal Orlando, que de tempos em tempos se transforma em mulher. Os três investigam um mago que pretende gerar o anti-cristo e as investigações passam da era vitoriana para a era hippie, chegando n a era atual (embora em uma realidade paralela).
Essa saga foi escrita quando Alan Moore já estava em guerra declarada contra a DC, que comprara a editora Widstorm, e, portanto, o universo ABC, criado por ele. Em decorrência disso, Moore resolve literalmente chutar o balde, sendo mais provocativo que nunca. O anti-cristo, por exemplo, é um Harry Potter enlouquecido. À certa altura ele atinge os heróis com um raio saído diretamente de seu... pênis!
Um dos problemas da série é que o clima steampunk, que caracterizava a primeira história aqui se perde completamente, perdendo muito de seu charme. Outro problema: há um intervalo de tempo muito grande na trama, e, no meio dele, um outro álbum, Dossiê Negro. Quem não leu o Dossiê Negro, como eu, fica perdido em muita coisa.
De resto, é uma boa trama, com sequências memoráveis. Destaque para a sequência de alucinação de Nina ou aquela em que o mago troca de corpo pela primeira vez.

A arte cativante de C.C. Beck


Charles Clarence Beck, ou simplesmente C. C. Beck, como era mais conhecido, foi um dos mais importantes e influentes desenhistas de quadrinhos da era de ouro dos super-heróis.

Ele começou sua carreira em 1933,produzindo capas de pulp fictions para a Fawcett Publications. Em 1939, quando a editora resolveu investir em quadrinhos no rastro do sucesso do super-homem, ele foi escolhido para desenhar o personagem Capitão Trovão, que acabaria sendo rebatizado como Capitão Marvel.

Beck estabeleceu o estilo visual do personagem ao misturar o anatômico com o cartunesco (algo muito diferente, por exemplo, das histórias do Superman). O traço, simples, combinava perfeitamente com um personagem que, no fundo, era uma criança.

Com o tempo, C. C. Beck criou um estúdio, tornando-se uma espécie de Diretor de Arte, o que ajudou a manter o padrão visual nas revistas da Família Marvel.

Com o fim dos quadrinhos da Fawcett, Beck abandonou o meio, dedicando-se apenas a fazer ilustrações comerciais.

No final da vida, ele produzia pinturas recriando capas clássicas do Capitão Marvel que eram disputadas pelos fãs.   









Fome de poder

 


O McDonald´s é a maior rede de fast food do mundo. É tão popular que simplemente mudou a forma como as pessoas se alimentam, em especial nos EUA. Mas, por trás de todo esse sucesso há toda uma história de traições, ganância e total falta de ética. É esse lado sujo da franquia que John Lee Hancock mostra no filme Fome de poder, disponível no Brasil pela Netflix.
O filme começa com Ray Kroc tentando inutilmente vender um mixer para produção de milk shake. Ele tenta em várias lanchonetes e drive thrus, sempre sem sucesso. O roteiro aproveita para mostrar o vendedor tentando almoçar e enfrentando os mais diversos problemas para isso: a comida que demora, o prato que vem errado.
É quando a firma recebe a encomenda de seis mixers de uma lanchonete na pequena cidade de Santo Antonio, na Califórnia e liga para saber se não houve um mal entendido, afinal ninguém nunca tinha pedido tantos aparelhos. E descobre que havia de fato um erro: eram oito, e não seis mixers. Incrédulo, ele visita o local e descobre, assustado que, o pedido sai exatamente o que ele pediu, no momento seguinte ao pagamento.
Os donos do local o convidam para conhecer a cozinha, feita ao estilo da linha de montagem de Ford: nela tudo é pensado para produzir o máximo de comida no menor tempo possível, de maneira totalmente padronizada (cada sanduíche deve ter exatamente a mesma quantidade de picles, mostarda e catchup). Eles também eliminaram do cardápio tudo que vendia pouco, concentrando-se nos pratos mais populares: hambúrguer e batata frita, vendidos em sacos, e não em pratos.
É também um ambiente familiar, ao contrário dos drive thru, invadidos por adolescentes rebeldes. Os donos, os irmãos McDonald´s, têm o sonho de transformar o restaurante numa fraquia com lojas caracterizada por grandes arcos dourados, mas suas tentativas se mostraram infrutíferas: os restaurantes abertos simplesmente não conseguiram manter o padrão de qualidade.
Ray Kroc, que já tentara de tudo na vida e fracassara em tudo, percebe ali a sua grande chance de se tornar finalmente milionário. Mas o que parecia uma parceria logo se revela uma arapuca: Kroc manobra até retirar a rede das mãos da dupla, chegando ao ponto até mesmo de proibi-los de usar o nome McDonald´s no restaurante original.
O título original era The Founder (o fundador), mas o título brasileiro é muito mais feliz e conta muito melhor a história: Fome de poder é a perfeita definição de Ray Kroc.

sábado, abril 29, 2023

Marketing: segmentação

 

A segmentação trabalha com três grandes divisões: geográfica, demográfica e psicográfica.
            A segmentação geográfica divide os consumidores por área. Pode ser um bairro, uma cidade, um estado, um país e até um continente. Normalmente, as empresas começam com uma segmentação geográfica restrita e depois vão ampliando sua área de atuação. O Boticário, por exemplo, começou segmentado apenas em Curitiba (PR) e região metropolitana. Depois, por meio do sistema de franquias, esse segmento foi se espalhando. A segmentação pode ser ainda mais específica. Uma panificadora, por exemplo, geralmente atende clientes apenas de um bairro. Se ela estabelecer um sistema de entregas ou de vendas em mercearias, essa segmentação pode ser ampliada.
Uma coisa importante: o segmento geográfico não é onde está a fábrica, mas onde está o cliente. O chocolate Wonka é fabricado pela Nestlé de Caçapava, interior de São Paulo, mas é vendido, na sua maior parte, nos EUA.
Conhecer o local onde mora o consumidor é essencial para evitar problemas. Por exemplo, se seu negócio é uma loja de roupas elegantes, não vá instalá-la num bairro pobre. Se o seu negócio são guarda-chuvas, não vá vendê-los em um local onde não chove. Se o seu negócio é fabricar biquínis, nem pense em mandá-los para um país muçulmano, onde a mulher não pode mostrar o corpo.
Segmentação demográfica
A segmentação demográfica inclui variáveis como idade, sexo, renda, instrução, religião, raça. Esses dados são facilmente encontrados em instituições de pesquisa, como o IBGE. Uma pessoa que pretenda abrir uma loja infantil pode pesquisar no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para saber como está o índice de natalidade naquela cidade. Se a natalidade está aumentando, significa mais consumidores vindo aí.

Países com características demográficas diferentes apresentam oportunidades diferentes. Na China, as crianças representam um grande mercado para produtos infantis, pois cada casal pode ter apenas uma criança, o que os leva a mimar os filhos ao máximo. Já na Itália o mercado está diminuindo para produtos infantis, pois cada vez mais casais optam por não ter filhos. No entanto, o envelhecimento da população fez com a Itália se tornasse um grande mercado para produtos voltados para a terceira idade, como fraldas geriátricas e remédios.

Até a religião pode representar uma oportunidade de mercado. Uma cidade com muitas pessoas cristãs pode ser um bom mercado para uma loja de artigos religiosos.

Assim, antes de montar o negócio, tente definir o seu público-alvo. Alguns casos são tão óbvios que nem precisam de uma pesquisa de mercado. Batons, por exemplo, são para mulheres, gravatas para homens. 

Contos do Loop

 


Contos do Loop, série da Amazon Vídeo que estreou este mês é toda baseada nas incríveis pinturas de Simon Stalenhag. Isso resume as maiores qualidades e os maiores problemas da nova atração da Amazon Video. Trata-se de uma atração com aparência incrível, em que alta tecnologia se associa a um visual retrô e a eventos estranhos. Mas é também uma série de diretor, em que o roteiro parece estar a serviço das imagens.
A história se passa num local no qual está instalada uma empresa misteriosa chamada Loop. Nunca sabemos exatamente o que o Loop faz, mas vislumbramos algumas possibilidades através de pequenos acontecimentos que impactam os moradores locais: uma menina cuja casa desapareceu com a mãe, dois amigos que trocam de corpos, o homem que compra um robô para proteger sua família, a moça que descobre uma forma de congelar o tempo, um rapaz que vai para outra dimensão na qual encontra consigo mesmo. Aliás, deveria haver uma regra básica, sempre ignorada pelos moradores do Loop: jamais mexer em qualquer coisa que encontre na floresta ou em qualquer outro lugar.
Os episódios contam histórias completas, mas que se conectam, são interligadas. O personagen secundário de uma história vira protagonista na história seguinte e assim em diante até que a história de todos seja contada.
Há episódios muito bons, como “Êxtase”, em que uma garota descobre uma maneira de congelar o tempo e usa esse recurso para ter um interlúdio amoroso com seu namorado. Os dois passam um mês vivendo como querem na cidade paralisada. Curioso é que esse episódio vai fazer os moradores acharem que há uma quadrilha de assaltantes agindo, o que vira o gancho para o episódio do homem que compra um robô para proteger sua família.
Uma das ilustrações de Simon Stalenhag que serviram de inspiração para os episódios.
Outro que merece destaque é “Inimigos”: um rapaz é abandonado pelos colegas em uma ilha aparentemente deserta e descobre que há um habitante misterioso. O episódio tem um bom equilíbrio entre terror e poesia e se liga diretamente ao episódio seguinte, “Casa”, com a história do filho do protagonista de “Inimigos”.
Por outro lado, há episóidos como “Ecoesfera” que são decepcionantes. Nele, algo fantástico está acontecendo, mas não existem pistas do que seja. Deixar que o expectador imagine tudo pode ser interessante num quadro de Simon Stalenhag, mas não funciona em um seriado.
Contos do Loop foi anunciado como um anti Black Mirror, o que é uma boa definição. Se em Black Mirror a visão sobre a tecnologia quase sempre é pessimista e o resultado desastroso é quase certo, no seriado da Amazon há um otimismo inerente, mesmo quando tudo parece levar ao desastre.

A arte de Murphy Anderson, o homem de prata

 


Murphy Anderson foi um dos principais nomes da DC na era de prata dos super-herois. Seu trabalho em personagens como Adam Strange se tornaram antológicos. Confira algumas de suas obras.











Starlight - space opera em quadrinhos

 

Mark Millar é um cara que quando acerta, acerta maravilhosamente. Exemplo disso a série Starlight, lançada no Brasil como álbum pela editora Panini.

O protagonista é tido como louco e suas histórias são alvo de piadas entre os garotos. 


Na história, um aventureiro espacial – no melhor estilo Flash Gordon e Adam Strange – de repente se descobre velho e sozinho após a morte da esposa. Os filhos, assim como todos os outros, não acreditam nas suas histórias sobre como ele foi transportado para um planeta distante e lá se tornou o principal responsável pela queda de um tirano global. Lembranças da época de suas aventuras misturam-se com cenas patéticas de supermercado, em que garotos ironizam sua ida para outro mundo.
O herói volta à ativa quando um garoto alienígena pede sua ajuda. 


Tudo muda quando uma nave aterrissa em seu quintal. É um garoto alienígena que pede seu socorro: mais uma vez o planeta distante precisa de sua ajuda, agora para combater uma invasão alienígena.
A série oscila bem entre a aventura, a nostalgia, os conflitos psicológicos e físicos do protagonista e entrega ótima ação, numa história que é impossível deixar de lado. Contribui muito para isso o ótimo desenho do croata Gorlan Parlov, perfeito nas cenas urbanas e caseiras, mas simplesmente deslumbrante quando mostra o planeta extraterrestre.
Há muito tempo não via um quadrinho de ficção científica bom como esse.

Avohai, a homenagem de Zé Ramalho ao avô

 


Avohai, a primeira música de sucesso de Zé Ramalho, é uma homenagem ao avô, que o criou a partir dos dois anos, quando seu pai morreu afogado. Avohai é um neologismo, uma mistura de avô com pai.
Fiquem com parte da letra:
Um velho cruza a soleira
De botas longas, de barbas longas
De ouro o brilho do seu colar
Na laje fria onde quarava
Sua camisa e seu alforje de caçador
Oh meu velho e invisível
Avôhai!
Oh meu velho e indivisível
Avôhai!

Cavaleiro da Lua – um comitê de 5

 

No quarto volume de sua revista, o Cavaleiro da Lua enfrentou um grupo de mercernários: um especialista em explosivos, um especialista em lâminas, um atirador de elite, um campeão de karatê e Touro, um homem enorme e igualmente forte.

Esse grupo havia sido contratado pelo Comitê – e aqui Doug Moench aproveitou para costurar a primeira aventura do personagem com essa nova versão. O personagem tinha surgido como vilão da série do Werewolf, contratado pelo Comitê para aprisonar o Lobisomem, mas se revoltava contra seus empregadores. Na nova versão, o herói e Francês se infiltraram e apenas fingiram trabalhar para o grupo, quando na verdade seu objetivo era desbaratá-lo.

Nessa nova HQ, o Comitê, reestruturado, resolve se vingar e contrata os mercenários.

Cinco mercenários são contratados para matar o Cavaleiro. 

Algo que chama atenção na história é facilidade com que o Cavaleiro da Lua vence cada um dos mercenários – e o fato de que eles preferem atacá-lo individualmente e não em grupo, o que seria mais lógico. Mas o texto e o desenvolvimento da história de Doug Moench é tão eficiente que esse aspecto deve ter passado batido da maioria dos leitores, em especial porque Moech fazia uma parceria realmente memorável com Bill Sienkiewcz. 

A sintonia entre desenhista e roteirista era visível. 

A sintonia da dupla é perceptível desde as primeiras páginas, com o número 5 do título formado pelos mercenários ou o texto introduzido na capa no formato de lua do personagen, na segunda página. Além disso, os personagens vão sendo melhor desenvolvidos, incluindo Marlene, a namorada do herói, que aqui atua como espião ao paquerar um dos espiões.

Um aspecto negativo é a arte-final de Klaus Janson. Jason funcionava muito bem na parceria com Frank Miller, mas não se pode dizer o mesmo na parceria com Bill Sienkiewcz.

sexta-feira, abril 28, 2023

Fundo do baú - Galaxy trio

 


No final da década de 1960 a Hanna Barbera decidiu investir em super-heróis. Para isso ela criou duas séries, que deveriam ser exibidas juntas: Homem-pássaro e Galaxy Trio. Mas, quando foi exibi-los, a emissora NBC preferiu colocá-los em dias diferentes.
Galaxy Trio mostrava um grupo de patrulheiros espaciais que percorria o espaço a bordo da nave Condor 1. O grupo era formado pelo Homem-vapor, o Homem-meteoro e a Garota-Flutuadora. Como se pode ver, os roteiristas não eram originais ao denominar os heróis, já que os nomes refletiam os poderes dos mesmos.
O homem-vapor podia ficar em forma gasosa, podendo assim voar ou escapar de locais apertados.
O Homem-Meteoro era um nativo do planeta Meteorus e  podia aumentar e diminuir de tamanho, ganhando uma força sobre-humana.
Já a garota flutuadora era capaz de manipular a gravidade, conseguindo erguer objetos pesados só com a força da mente.
O grupo foi criado pelo gênio do design de personagens Alex Toth, o mesmo que trabalhou em Johnny Quest e Superamigos.

Charlie Brown e a psicologia

 

Conta-se que um psiquiatra, chegando ao seu consultório, encontrou um bilhete de seu primeiro paciente, dizendo que estava dispensando o tratamento com médico, pois havia encontrado a causa de seus traumas. E ilustrava a situação com uma tira de Peanuts.
A história, real ou lendária, ilustra a incrível capacidade que Schulz tinha de perceber os dramas e traumas humanos, sintetizando-os na figura de crianças. Umberto Eco disse que a ¨a poesia dessas crianças nasce do fato de que nelas encontramos todos os problemas, todas as angústias dos adultos que estão nos bastidores¨.
Nessa história aparentemente ingênua, encontramos os mais variados tipos humanos e seus conflitos.
Charlie Brown, o personagem principal, é o estereótipo do fracassado. Ele não consegue empinar uma pipa ou chutar uma bola. A única vez em que ganhou algo na vida, foi um corte de cabelo. ¨Mas eu sou careca, e meu pai é barbeiro!¨ retrucou ele. Noutra ocasião, dançou com a rainha do baile, mas foi incapaz de lembrar de nada desse acontecimento.
Se Charlie Brown é o a bigorna, na qual batem todos os males e dissabores da vida, a menina Lucy Van Pelt, irmã de Linus, é o martelo. Sua vida é provocar traumas no pobre Minduim, mostrando a cada momento o quanto ele é incapaz. Sua tirada mais clássica é fazer Charlie Brown acreditar que finalmente será capaz de chutar a bola, para tirá-la no último momento. Interessante que, apesar disso, ninguém jamais pensa em culpá-la pela derrota do time. O culpado é sempre aquele que não conseguiu chutar a bola.
Uma biografia escrita recentemente publicada com o título de Schulz and Peanuts dá a entender que o próprio autor colocava suas neuroses nas tiras, razão pela qual elas parecem tão reais. O autor o descreve como um homem solitário, tímido e infeliz, dominado por figuras autoritárias, como sua primeira esposa e sua mãe, ambas representadas na personagem Lucy. Schulz se identificaria tanto com Charlie Brown, o fracassado, quanto com Schroeder, o músico. Este último seria o lado artístico, através do qual ele se libertaria da tirania da esposa. Sintomaticamente, outra cena famosa é a de Lucy tentando conseguir a atenção do pianista, que a despreza solenemente enquanto toca.
Nesse sentido, Snoopy, provavelmente, representaria a liberdade criadora. Se Charlie Brown é o pé no chão, as tristezas e arguraras da vida, Snoopy pode viajar o mundo e até mesmo ser um famoso piloto da I Guerra Mundial. Não por acaso, Charlie Brown é o personagem predileto dos adultos, que vêm nele seus traumas (a tirinha é a mais recortada, exibida e enviada a colegas nos EUA) e Snoopy é o personagem preferido das crianças pequenas, que ainda vislumbram na vida mais seus pontos positivos que negativos.
A tira foi criada por Schulz no início da década de década de 1950 e rapidamente tornou-se um sucesso, chegando a aparecer em mais de 2600 jornais em todo o mundo, chegando a ter um público leitor estimado em 355 milhões, em 75 países.
Na década de 1970 o sucesso da tira levou ao surgimento do desenho animado, que era pessoalmente supervisionado por Schulz. Ao invés de descaracterizar a obra, o desenho a ampliou para além dos limites dos quatro quadros diários.
De todas as histórias exibidas, a de natal é provavelmente mais lembrada por uma geração que cresceu assistindo a esses desenhos. Indo muito além da melancolia habitual, o episódio captou o espírito natalino como poucas vezes isso foi feito. É como se, em meio a todos os traumas e problemas da vida, ainda houvesse espaço para a felicidade de momentos simples e singelos.

Batman – Perdoai meu filho mau

 


 

Dick Grayson é o filho adotivo de bruce Wayne. Tempos depois, o milionário teve outros filhos adotivos que também adotaram o uniforme de Robin. Mas o primeiro desses outros filhos adotivos foi Lance Bruner, surgido em The Brave And The Bold 83, de 1969. A história tinha roteiro de Bob Haney e arte de Neal Adams.  

Na história, Batman e Robin estão investigando uma quadrilha que está desviando petróleo da Zênite, empresa do grupo Wayne. Quando chegam na mansão, dão de cara com um moleque destruindo relíquias da coleção do herói.

A diagramação diferenciada de Neal Adams é o diferencial da história. 


O garoto é filho de um amigo do pai de Bruce Banner, o que faz com que o milionário aceite o garoto como pupilo e pretenda adotá-lo. Nesse meio tempo, ele apronta todo tipo de confusão, de pichar a moto da polícia a simular o próprio sequestro. A culpa, na maioria dos casos, acaba caindo em Dick Grayson.

No final, claro, o personagem tem sua redenção, mas o que mais impressiona na história é como o “maior detetive de todos os tempos” não consegue perceber o que realmente está acontecendo. Pior: à certa altura, o garoto consegue descobrir quem está por trás do roubo de petróleo, algo que Batman está investigando há tempos, mas não desconfia quem seja.

Persépolis

 

Persépolis (Cia das Letras) é uma história em quadrinhos da iraniana Marjane Satrapi que mostra a transformação do Irã em uma ditadura islâmica do ponto de vista de uma garota de 13 anos.

Marjanje, filha de uma família de classe média, relata as transformações em suas vidas. Nesse sentido, Persépolis lembra muito Maus, em que Art Spielgman, também na forma de quadrinhos, mostra a vida de seu pai, um sobrevivente dos campos de concentração.

Marjane pode não ter o domínio narrativo de Spielgman, mas seu relato pulsa vida.

Alguns momentos são impressionantes, como o que conta como as mulheres da família passaram a usar o véu. A mãe de Marjane saíra sozinha de carro e, quando o carro quebrou, foi interpelada por vários homens, que ameaçaram violentá-la por ela não estar usando o véu.

Especialistas na televisão afirmavam piamente que os cabelos das mulheres emitiam energias que excitavam os homens, de forma que eles não eram responsáveis caso decidissem executar o estupro.

Por ser escrito por uma mulher, o livro tem um enfoque especial na forma como as mulheres são tratadas no Irã. Como a religião islâmica proíbe que se matem virgens, as prisioneiras virgens são casadas com seus próprios algozes, que as estupram antes de matá-las.

O livro tenta explicar como as coisas podem chegar a esse estado. Amedrontadas e prontas a fazerem o que for necessário para continuarem vivas, as pessoas vão deixando que as coisas piorem a cada dia.

No álbum, uma vizinha da protagonista, que antes mostrava as coxas grossas em exuberantes mini-saias, passa a usar burka assim que a revolução se estabelece.

Algumas mulheres, chamadas de guardiãs da revolução, vigiam as mulheres que usam incorretamente o véu, ou que se vestem com roupas consideradas inapropriadas. Tais mulheres são levadas para uma delegacia, onde podem ficar presas por dias, sem conhecimento da família, e até mesmo levar chibatadas.

A perseguição às mulheres não tem nem mesmo fundamentação religiosa, já que Maomé tinha grande respeito pelas mulheres.  

No Irã de Marjane qualquer um pode ser um inimigo. A mãe da menina coloca cortinas pretas na janela para evitar que os vizinhos descubram que dentro de casa eles se divertem ou não usam o véu.

Somando-se ao clima de terror interno, há o terror externo, provocado pela guerra contra o Iraque. Mesmo quando o Iraque decide-se por um acordo, o governo iraniano não aceita, pois o estado de guerra é a desculpa ideal para endurecer o regime. Dessa forma, morrem um milhão de soldados iranianos. Quando começam a faltar adultos, o exército passa a recrutar crianças de 14 anos. Nas escolas davam aos meninos chaves de plástico, com as quais poderiam abrir as portas do paraíso, cheio de mulheres e comida, caso morressem na guerra.

Marjane foi mandada pelos pais para a Áustria e de lá para a França, onde estudou belas artes e pode realizar um relato comovente de como o fanatismo religioso é nocivo e irracional.  

Persépolis é um livro indicado não só para os que se interessam em saber um pouco mais sobre o situação do Oriente Médio, mas também para aqueles que se comovem com relatos sensíveis e inteligentes.