segunda-feira, julho 07, 2025

Livro O roteiro nas histórias em quadrinhos

 


 

Neste livro sobre roteiro para HQ, o neófito pode encontrar todas as dicas para se tornar um roteirista de qualidade. Escrever quadrinhos, ao contrário do que muitos pensam, exige esforço, dedicação e preserverança. Exige também muita leitura. O primeiro passo é ler este livro. 

Valor: 25 reais (frente incluso). Pedidos: profivancarlo@gmail.com. 

Cristo abençoador, de Ingres

 


Poucas pinturas são tão conhecidas quanto Cristo abençoador. A razão disso é que a imagem acabou se tornando meme em decorrência da expressão “Não estou nem aí” de Jesus.
Pintado em 1834, o quadro é de autoria de Ingres, um dos maiores nomes do neo-clássico francês.
A imagem mostra Jesus com as mãos abertas e voltadas para cima, como era normalmente representado nos primórdios do cristianismo.
A expressão de Jesus está diretamente relacionada ao estilo de Ingres, que evitava ao máximo expor qualquer tipo de emoção nos seus quadros, o que gerou essa curiosa expressão de indiferença.

Tempestade e a claustrofobia

 

 


A primeira vez que vi uma história dos X-men foi em Almanaque Marvel 10, da editora RGE. Um colega tinha levado a revista para a escola e me emprestou, mas queria de volta. Devorei a revista no horário do recreio.
Na história, os X-men vão passar férias no castelo de Banshee na Irlanda e lá são surpreendidos pelo primo de Banshee, Black Tom Cassidy, que se aliou com o Fanático para destruir os mutantes.
O que mais me chamou atenção na história, na época, foi a reação de Ororo. Ao entrar no castelo ela se sente claustrofóbica e, paralisada pela sensação, ela fica incapaz de ajudar os amigos, massacrados pelo irrefreável Fanático.
A imagem que me impressionou à época: Ororo paralisada pelo medo. 


A splash page com ela em primeiro plano, em um grito suspenso, as mãos sobre o rosto em pânico, enquanto, ao fundo, Fanático derruba Colossus, Wolverine e Noturno, foi de um impacto tremendo para mim na época.
Enquanto a batalha ocorre, embarcamos num flash back que não só conta a história de Tempestade, como explica a origem de sua fobia – quando criança, sua casa foi atingida por um avião, ela ficou soterrada e seus pais morreram.
Um flash back conta a origem de Tempestade... 



Aquela aventura não era só sobre heróis uniformizados trocando socos. Era, essencialmente, um conflito psicológico, era sobre a odisseia de Ororo para vencer os seus medos mais profundos para conseguir salvar seus amigos.
... e a razão pela qual ela sofre de claustrofobia. 


Essa história, de 1976, escrita por Chris Claremont e desenhada por Dave Cockrun e publicada em X-men 102, é muito anterior à melhor fase do grupo, nas mãos de Claremont e  Byrne, mas já mostrava que aquela era uma série que logo se tornaria uma das mais revolucionárias do mercado de super-heróis.  
Essa história foi publicada pela primeira vez pela RGE. 

 

Em tempo: essa HQ foi publicada pela editora Abril em X-men Classic 2. Lida muito tempo depois, já não tinha o mesmo impacto da primeira vez, mas continuava sendo muito acima da média.

Homem-aranha e Justiceiro no beco da morte

 

 


Corria o ano de 1984. Uma revista do Homem-aranha tinha encalhado numa banca que eu conhecia. Na época eu só tinha dinheiro para comprar a revista que eu colecionava, a Superaventuras Marvel, mas aquela revista ali, encalhada, com o preço sendo corroído pela inflação, era tentadora demais. Além disso, a capa era chamativa, com o Homem-aranha, o Justiceiro e a repórter April no centro, cercados por bandidos apontando suas armas.
Quando minha mãe me perguntou o que eu queria de Natal, não titubiei: pedi o valor da revista, 700 cruzeiros (sim, nessa época nós estávamos na pendura mesmo) e foi assim que consegui adquirir essa revista, a única do aracnídeo que comprei na época.

Essa é uma bela história, com roteiro de Marv Wolfman e desenhos de Keith Pollard, um desenhista menos famoso entre os que ilustraram o amigão da vizinhança, mas muito competentente, especialmente nas cenas de ação e com muitos personagens.
Na trama o Justiceiro está caçando um traficante de drogas quando o acaso faz com que o Aranha entre em seu caminho. Após um conflito inicial (um dos melhores quadros da história é Peter Parker entrando em seu apartamento e dando de cara com o Justiceiro apontando para ele uma arma), os dois acabam se aliando.
Justiceiro reclamando de camelôs: um proto-Rorschach? 
Lembro que algo que me chamou muita atenção na época foi o fato da narrativa ser toda baseada nos diários do Justiceiro chamados Relatório de guerra, algo que até então eu não tinha visto. E esses diários mostram o quanto o personagem era mostrado como uma crítica pelos roteiristas (o criador do personagem, Gerry Conway, já disse diversas vezes que ele é um vilão) e essa história antecipa inclusive a narrativa de Rorschach em Watchmen. À certa altura o diário registra: “A zona leste de Manhattan é uma verdadeira imundice! Os camelôs estão em toda parte vendendo roupas pela metade do preço das grandes lojas!”. Não é o tipo de coisa que Rorschach escreveria em seu diário?  


Essa história foi publicada originalmente nos números 201 e 202 de The Amazing Spiderman. A Abril, como sempre, fez das suas: transformou as duas HQs em uma só. 

Veludo Azul

 

Uma cena idílica. Flores, uma cerca de madeira pintada de branco, o céu azul, crianças atravessando na faixa, bombeiros passando e acenando. Parece o retrato perfeito de uma pequena e feliz cidadezinha do interior dos Estados Unidos. Então, a câmera enquadra um homem que rega alegremente o gramado de seu quintal. Ele tem um ataque cardíaco e cai ao chão enquanto a câmera se aproxima do gramado e a música Blue Velvet, de Bobby Vinton dá lugar a um som perturbador unido a imagens de insetos se devorando.

Esse é início de Veludo Azul, filme de David Lynch, de 1986 e representa perfeitamente a proposta da obra: mostrar o que se esconde por trás da aparência de normalidade e felicidade. Mostrar a sombra de uma cidade aparentemente pacata e feliz.

Na trama, o estudante Jeffrey Beaumont volta para casa para visitar o pai internado (o homem que sofre um ataque cardíaco na cena inicial). No caminho de volta do hospital, encontra uma orelha humana num matagal. Ele a entrega para a polícia, mas insatisfeito com os rumos da investigação oficial, resolve investigar o caso por conta própria. Isso faz com que ele vá penetrando cada vez mais fundo num reino sórdido de crimes e abuso sexual.

Sua investigação o leva até uma cantora de boate, Dorothy Vallens, cujo marido e o filho foram sequestrados por um mafioso local, Jack. A cena em que Jeffrey, escondido no armário, vê Jack abusando da cantora enquanto usa drogas é uma das mais marcantes do cinema de todos os tempos.

O filmes só foi feito porque o produtor, Dino DeLaurents, prometeu que daria liberdade total a Lynch em um filme barato se ele aceitasse as mudanças feitas em Duna (o produtor retalhou a obra). Lynch aproveitou bem a liberdade. Não só fez um filme que desnudava uma América que todos queriam encobrir como fez isso usando elementos de surrealismo. O filme todo parece ora um sonho, ora um pesadelo. Do nada surgem cenas gratuitas, como o bombeiro que passa no carro acenando ao lado de um dálmata, ou quando um dos personagens pega uma lâmpada e começa a cantar, sem razão nenhuma. Essa sensação de sonho/pesadelo é ainda mais destacada pelo clima teatral da obra, inclusive do ponto de vista de posicionamento dos atores em cena.

O filme foi ignorado pelo Oscar (só teve uma indicação, de melhor diretor, que Lynch perdeu para Sydney Pollack, de Entre dois amores). Dennis Hopper, que simplesmente encarnou o papel de mafioso depravado sequer foi indicado.

Mas com o tempo se firmou um culto em torno do filme e hoje Veludo Azul é considerado hoje uma das obras mais importantes do anos 80, abrindo caminho para que Lynch revolucionasse os seriados televisivos com Twin Pinks. Houve também uma consequência inesperada: a canção Blue Velvet, interpetada pela atriz Isabella Rossellini se tornou uma das mais tocadas nas rádios.

Mister No – O último cangaceiro



É notório o fato de que Sérgio Bonelli tinha um fascínio pelos cangaceiros, tanto que já na terceira história do personagem deu um jeito de inclui-los na trama. Mas como fazer isso? Primeiro, porque os cangaceiros já não existiam na época em que a série acontece (década de 1950), segundo porque as histórias de Mister No acontecem na Amazônia.

O roteirista contorna esses problemas com inteligência. A questão da ambientação é resolvida através de um homem que contrata Mister No para levá-lo à Bahia, o que, aliás, nos fornece uma sequência maravilhosa de humor, com o tranbiqueiro e sua descupa fleumática “Sua digna confiança poderá vir a ser recompensanda, quando um dia eu tornar a ver a cor dos dólares! Então acertaremos nossas contas!”.

Um homem contrata Mister No para levá-lo à Bahia, mas é roubada. 


Aqui, já na terceira história, já é possível perceber um padrão: quando todo serviço que o Mister No pega é uma roubada que, ao invés de lhe render dinheiro, acaba deixando-o no prejuízo. O protagonista da série é, portanto, um divertido perdedor.

Sem dinheiro sequer para colocar gasolina no avião piper, o herói tenta conseguir algum desafiando um lutador de capoeira (uma forma inteligente do roteirista de incluir na história mais essa manifestação cultural brasileira). E, numa verdadeira inversão do que se poderia esperar, acaba levando uma surra. Um contraste total com o que até então era comum nos quadrinhos – em que os personagens norte-americanos eram geralmente invencíveis.

Mister No não é um herói invencível. 


Sem dinheiro, derrotado e cheio de hematomas, o herói vai para um bar tomar uma pinga para se consolar. É quando encontra um homem que o contrata para um serviço: levar alimentos para pastores que se perderam no sertão. Mas, como sempre, o serviço é uma roubada. Na verdade, os campangas que vão junto no avião estão ali para matar um grupo que se escondeu no meio da caatinga. E esse grupo é formado por... cangaceiros!

Aqui entra novamente a genialidade do roteirista. Ele consegue achar uma explicação verossímil para esse anacronismo. Na verdade, segundo a história, os cangaceiros são na verdade revolucionários, lavradores que se revoltaram contra a opressão dos grandes proprietários de terras e resolveram se vestir como cangaceiros como forma de ganhar a simpatia da população.

Cangaceiros em plena década de 1950? 


Nem mesmo quando o líder dos revolucionários começa um longo monólogo sobre os cangaceiros e sua importância social e histórica, a história perde o fôlego: “Mesmo privado de claras ideologias, fez nascer no povo os primeiros sintomas da revolta contra os latifundiários e os governadores corruptos que com seu poder esmagavam a miserável população do nordeste!”.

Essa situação inusitada gera uma longa trama, que se estende por dois números, repleta de reviravoltas.

O roteirista arranja uma explicação verossímil. 


Em tempo: posteriormente o personagem teria outra trama com cangaceiros, essa focada na cabeça de Lampião.

A morte do Super-homem e o deus ex-machina

 

A morte do Super-homem é um ótimo exemplo de deus ex-machina

A morte do Super-homem foi um sucesso estrondoso. Vendeu milhões de exemplares na década de 1990. No entanto, a grande maioria das pessoas que comprou na época hoje, ao reler, considera essa uma história ruim do personagem.
A razão disso é um deus ex machina.
Deus ex machina é qualquer solução que não faça parte da lógica da história. É um recurso que destrói o pacto de verossimilhança, pois o leitor percebe que há algo errado ali, algo parece não fazer sentido.
A maioria das pessoas costuma imaginar o deus ex machina como uma solução para salvar o herói. O protagonista está prestes a ser enforcado quando aparece do nada alguém para salvá-lo. Mas a morte do Super-home mostra que o deus ex machina pode ser também o oposto: alguém que aparece do apenas para matar o personagem.
A história dessa saga é atribulada.
Nos anos 1990 o departamento de marketing das editoras exigia eventos sensacionalistas que ajudassem a vender os gibis. A equipe do Super-homem decidiu casar o personagem. Mas surgiu uma dificuldade: na época o homem de aço tinha um seriado live action de sucesso e iria se casar com Lois Lane, mas só no ano seguinte. Se ele casasse nos quadrinhos, teria que ser em sincronia com o seriado.
Foi quando tiveram a ideia de matar o Super-homem. Mas o prazo era curto, então a solução foi simplesmente introduzir do nada um personagem super-poderoso que não fala uma única palavra durante toda a história, derrota todos os super-heróis (sem matar nenhum) e finalmente mata o Homem de aço. Apocalipse parecia ter sido criado com um único objetivo: providenciar a necessidade que os roteiristas tinham de criar um evento bombástico criado não só para vender gibis, mas também bonequinhos.
O personagem Apocalypse surge do nada, apenas para matar o homem de aço.

Um personagem tirado da cartola que derrota todo mundo, mas não mata ninguém além do Super-homem é um ótimo exemplo de um deus ex machina. Uma falha do roteiro que se tornou ainda mais evidente quando o personagem simplesmente voltou da morte.
Na contramão da correria que foi a morte do Super-homem temos uma das melhores sagas dos quadrinhos de super-heróis, a saga da Fênix Negra.
No número 125 da revista X-men, Claremont mostra Moira realizado testes com a Fênix e o diálogo posterior mostra ambas preocupadas que o poder imenso da personagem possa sair do controle. No número seguinte, uma “alucinação” mostra Jean Grey caçando um homem vestido de cervo, o que já demonstra o lado negro da personagem vindo à tona. A personagem pensa: “Um homem?! Eu queria matá-lo! Estava prestes a... o que está acontecendo comigo?”.
A saga da Fênix é um exemplo de solução dentro da lógica da história.

Assim como esse, vários outros indícios de que há algo errado com a personagem vão sendo mostrados até que ela se alia ao Clube do inferno na edição 132. Quando no número 134 ela se transforma na Fênix Negra, uma das maiores vilãs que o universo Marvel já conheceu, o leitor lê e pensa: “Sim, isso faz sentido. Ela era uma heroína, mas eu acomapanhei sua transformação em vilã”.
Claremont e Byrne levaram nove números construindo a lógica da história, de modo que o surgimento da Fênix Negra parece consequência óbvia do que veio antes.
Não é à toa que a Saga da Fênix é até hoje considerada uma das melhores histórias de super-herois de todos os tempos, e parece melhor a cada leitura. Ao contrário da morte do Super-homem.

domingo, julho 06, 2025

A ilha – uma distopia que derrapa no roteiro

 


A Ilha, filme de 2004, de Michael Bay, tem uma ótima premissa e tinha tudo para ser um verdadeiro clássico do cinema. No entanto, o roterio perde-se na tentativa desesperada de transformar uma distopia num filme de ação.

O grande problema é que o grande segredo do filme acaba se revelando cedo demais e sem impacto nenhum com o objetivo de partir logo para a ação desenfreada. A reviravolta é tão banal que todo mundo, mesmo aqueles que não assistiram o filme, já sabem: um grupo de pessoas é criada em um local afastado, um dos poucos refúgios seguros depois que a Terra foi devastada por uma doença. Todos ali sonham com o dia em que serão sorteados na loteria e terão direito a ir para A Ilha, o último local paradisíaco que sobrou.

Ocorre que a Ilha não existe, nem a doença que exterminou a humanidade. Tudo faz parte de um projeto médico e as pessoas que estão ali são clones de outras, que pagaram para terem clones cujos órgãos precisariam usar quando necessário. As pessoas sorteadas na loteria vão, na verdade, para a mesa de cirurgia, onde seus órgãos são retirados.

Um dos clones descobre a verdade e a partir daí tentar fugir e salvar uma amiga que foi sorteada na loteria.

Como havia uma necessidade tão grande de deixar tempo para a ação, não há tempo para que o telespectador crie uma empatia com os personagens. O expectador não sente, por exemplo, o medo do lado de fora (contaminado).

De resto, o filme sucinta várias discussões (não aprofundadas) e remete a várias outras obras. O mito da caverna, de Platão, em que pessoas vivem presas em uma caverna e tudo que vêm são sombras das coisas verdadeiras do lado de fora, é uma referencia óbvia. Para Platão, tudo que vemos tem a sua contraparte perfeita no mundo das idéias, da mesma forma que todos os clones do filme têm sua contraparte no mundo verdadeiro.

A questão da clonagem também é algo que não passa nem perto de ser aprofundado. No filme, os clones começam a desenvolver habilidades de seus originais. Matéria recente do Fantástico mostrou que pessoas que recebem transplantes começam a desenvolver características dos doadores, como se as células humanas guardassem algum tipo de memória não-genética.

Há algum tempo um cientista norte-americano concentrou suas pesquisas nas planária, um tipo de verme dos pântanos. As planárias têm características interessantes. Por exemplo, se você cortar uma ao meio, terá duas guzanos novas. É assim que ela se reproduz: agarrando-se a uma pedra e puxando o rabo até que cabeça e rabo se separem (convenhamos, o sexo foi uma descoberta bem mais divertida!). Pois bem, esse mesmo cientista descobriu que, se ensinasse um desses bichinhos a percorrer um labirinto, depois o retalhasse e desse de comer aos outros, os comilões aprendiam a percorrer o labirinto.

Tal experiência nos diz que talvez não fosse tão sem sentido a idéia dos índios brasileiros, que comiam a carne dos guerreiros abatidos afim de conseguir dele a sua coragem.

A estarrecedora conclusão de que habilidades e memórias podem ser transmitidas pela comida me faz pensar o que estamos comendo?

Ah, mas nem pense que A Ilha faz esse tipo de discussão: os tiros e perseguições de carro são bem mais importantes...

Esquadrão Atari – Contra Ataque

 


Até a edição 7, Morféa era vista como o membro mais inofensivo do Esquadrão Atari. Afinal, seu poder era apenas a empatia e ela até então se revelara uma pacifista, fazendo o possível para evitar conflitos (não por acaso ela atua como psicóloga).

No número 7, intitulado Contra ataque, vemos Morféa em todo o seu esplendor, a começar pela capa, na qual ela enfrenta o ser que na edição anterior havia torturado Tormenta.

Na história, Martin Champion se entregara ao vilão achando que com isso este libertaria seu filho, o que não acontece. Embora Dart e Paco Rato ainda estejam soltos, percorrendo os dutos de ventilação da nave, tudo parece perdido.

É quando a empata vai até a nave disposta a resolver a situação.

Então descobrimos que ela tem um ferrão mental forte o suficiente para deixar desacordado qualquer um dos soldados inimigos.

Morféa enfrenta um ser que se alimenta da dor...


Ao tentar libertar Tormenta ela se defronta com Psyklops, um ser que se alimenta da dor alheia. Usando seus poderes sobre a empata, ele a faz reviver seu passado, uma forma extremamente eficiente de aprofundar a personagem, pois acontece no meio da ação e está diretamente relacionada com ela. Não é o tipo de flash back que parece uma quebra da narrativa e, portanto, muitas vezes é pulado pelo leitor.

Nesse flash back descobrimos que Morféa foi criada numa sociedade em que todos são iguais, como formigas e o pronome “eu” é proibido. Levada à rainha por sua inadequação, ela se lamenta: “Eu sou tão solitária”. Por sua incapacidade de fazer parte da massa, ela é punida.

... e relembra seu passado. 


Todas essas recordações trazem muita dor para a personagem, para deleite de Psyklops, mas Morféa consegue se recompor numa sequência genial, em que texto e desenhos se unem perfeitamente. Ela inicialmente está caída no chão, com o uniforme usado por todos no mundo natal, mas vai se levantando aos poucos e sua roupa se transformando. Sua fala: “Este ser é importante! Este ser é real! Eu... sou importante! Eu... sou real! Eu... não serei destruída! Eu... não permitirei”. O uso do pronome pessoal se associa ao empoderamento da personagem, sua afirmação de identidade, que ganha vulto quando ela finalmente contra-ataca.

A sequência genial mostra a personagem superando o domínio do vilão. 


Essa união de ação empolgante, cenários e personagens diferenciados e aprofundamento psicológico fez com que Esquadrão Atari se tornasse uma das séries mais célebres da DC de todos os tempos. Cortesia de Gerry Conway e José Luís Garcia-Lopez.

Capas de revistas da Grafipar

 


Grafipar foi uma das mais importantes editoras brasileiras de quadrinhos. Especializada em quadrinhos eróticos, ela inundou as bancas no final dos anos 1970 e início dos anos 1980 com uma enorme variedade de revistas com a nata dos quadrinhos nacionais. Confira algumas capas da editora.