Houve uma época em que milhões de
crianças no mundo todo se deliciavam com viagens extraordinárias em que o mundo
se revelava diante delas trazendo consigo as maravilhas de uma nova ciência: a
geografia. Tudo graças a um escritor francês dotado de imaginação e rigor na
busca de informações. Seu nome era Júlio Verne.
Quando Verne publicou seu primeiro
romance, Cinco Semanas Num Balão, em 1863, as descobertas científicas
aconteciam a um ritmo cada vez mais rápido. Darwin publicara há cinco anos seu
livro A Origem das Espécies, de
Darwin. Há pouco tempo Pasteur divulgara suas descobertas, que derrubavam a
teoria da geração espontânea de vida e lançava a teoria dos vermes como
causadores de doenças. Entretanto, o povo, o cidadão comum, ainda via a ciência
como uma desconhecida, uma curiosidade de laboratório, de interesse apenas de
homens sábios. Pouco havia sido escrito que fosse do entendimento do homem
comum e, principalmente, das crianças.
Cinco semanas num balão começou
com o nome de A Viagem no ar. Em outubro de 1862, Júlio Verne apresentou o
original para o editor Pierre-Jules Hetzel. Hetzel foi tão importante no
direcionamento da carreira desse, então estreante escritor, que pode, de certa
forma, ser considerado co-escritor. O livro era uma referência direta aos
exploradores que revelavam os segredos da África. Nele, o doutor Samuel
Fergunson, seu amigo Dick Kennefy e um empregado se aventuram do Zanzibar até o
Niger em um balão, refazendo o percurso de muitos dos homens que desbravaram o
continente. Hetzel fez várias sugestões para tornar a história mais palatável,
inclusive a mudança do título para Cinco semanas num balão. Hetzel tinha tanta
confiança no texto de Verne que o fez assinar um contrato para outros livros. O
contrato dizia, abertamente que o objetivo dos livros era: “Resumir todos os
conhecimentos geográficos, geológicos, físicos, astronômicos, acumulados pela
ciência moderna e refazer, sob a forma atrativa e pitoresca que lhe é própria,
a história do Universo”.
Em Cinco Semanas Num Balão,
Júlio Verne, com o auxílio de Hetzel, introduzira um novo tipo de novela - uma
forma diferente de contar história, um misto de ficção e realidade.
Qualquer itinerário serviria
para o Vitória, mas a viagem tornara-se mais real porque acompanhava claramente
o percurso da expedição de 1850 levada a cabo pelos exploradores Richard
Francis Burton e John Hamming Speke.
Quanto à construção do balão,
Júlio Verne tornara-a perfeitamente praticável com seu complicado fogão que
provocava a expansão do hidrogênio por meio de aquecimento, fazendo o aparelho
elevar-se sem ser necessário sacrificar lastro. A idéia do balão duplo foi
tomada de Mensnier de Laplace e Nadar; a bateria elétrica viera das
experiências de Albert Wilhehn Bursen e
a luz brilhante do arco improvida para arrancar o desgraçado missionário
lazarista às torturas infligidas pelos selvagens africanos viera dos
manuscritos de Humphry Javoy.
Tudo isso deu à história uma
verossimilhança que jamais se vira em um livro de aventuras, abrindo caminho
para toda a literatura de ficção-científica do século XX. Mais: a obra de Verne
se tornou a base do gênero Steampunk, um dos mais populares e importantes do
século XXI.
Depois de Cinco semanas em um
balão, vieram diversos outros livros, como Viagem ao centro da Terra, A volta
ao mundo em 80 dias, Da Terra à Lua e, o mais famoso deles, 100 mil léguas
submarinas.
Júlio Verne faria aniversário
hoje, 8 de fevereiro. Uma boa forma de comemorar é passar em uma banca e
procurar a coleção Biblioteca Júlio Verne, da editora RBA. Trata-se de uma
edição de luxo, em capa dura, detalhes em dourado, ilustrações originais no
miolo e preço promocional (R$ 19,90). O primeiro número (A volta ao mundo em 80
dias) chegou em Macapá no final de janeiro, ao preço de R$ 9,90.