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quarta-feira, dezembro 26, 2018

A vida de Nosso Senhor, de Charles Dickens


Entre os anos de 1846 e 1849, Charles Dickens, o homem que tornou popular a celebração de Natal, queria que seus filhos aprendessem a vida e os ensinamentos de Jesus Cristo da maneira mais simples e clara possível e a melhor maneira de fazer isso seria ele mesmo escrever isso e dar de presente para sua família.
O texto, conhecido inicialmente como “O Novo Testamento para crianças” permaneceu inédito por anos. Dickens considerava que aquele era um texto escrito exclusivamente para sua família e não fazia sentido publicá-lo. A primeira geração de seus descendentes aceitou sua decisão, mas logo ficou claro que não fazia sentido privar os leitores de tão valorosa obra. O resultado é o livro “A vida de Nosso Senhor”, publicado pela Martins Fontes.
Dickens usa a capacidade narrativa que encantou milhões de pessoas em todo o mundo para tornar agradável e simples a vida e a mensagem de Jesus, definido já no primeiro parágrafo: “Jamais viveu alguém tão bom, tão afável, tão gentil, tão cheio de perdão para com todas as pessoas que erraram, ou que era de alguma forma doentes, ou miseráveis”.
Os principais fatos da vida de Jesus, do seu nascimento humilde, em uma manjedoura, à escolha dos apóstolos entre os pobres, sua inteligência, seus milagres e martírio, tudo é contado de maneira simples, com direito a paradas para definir ou explicar palavras ou contextos históricos.
O escritor fez de seu livreto uma ode à tolerância e ao amor ao próximo. Segundo ele, ser cristão é “agir bem sempre, mesmo em relação a quem nos faz o mal. Cristandade é amar ao nosso próximo como nós mesmos e fazer a todos os homens o que desejamos que eles nos façam”.
Em uma época como a nossa, em que pessoas que se dizem cristãs pregam a violência e a intolerância, em que as comemorações de Natal dão lugar a brigas e até mesmo assassinatos, um livreto como esse é um precioso presente para a humanidade.
E a edição da Martins Fontes é primorosa, com papel pólen, diagramação arejada e detalhes em dourado. 

segunda-feira, dezembro 24, 2018

O homem que inventou o natal



A imagem que se tem hoje do Natal é nitidamente influenciada pelas histórias de Charles Dickens, em especial nos contos Os carrilhões e Canção de Natal.
Canção de Natal foi adaptado para todas as mídias possíveis, a exemplo do filme com Jim Carrey no papel principal. Era a história de um homem avaro que, visitado por três fantasmas na noite de natal, um do passado, outro do presente e um do futuro, acaba descobrindo que o sentido da vida não se limita ao dinheiro. A história de terror é um hino sobre o verdadeiro significado do natal.
A influência dessa história pode ser sentida até nos quadrinhos Disney: o Tio Patinhas é uma versão do personagem. Seu nome em inglês é McScrooge, uma referencia direta ao protagonista de Canção de Natal.

Em Os carrilhões um pobre homem de recados é fascinado pelos sinos da igreja (os carrilhões do título) e sente como se eles o estimulassem a continuar vivendo apesar da pobreza e das dificuldades que ele e a filha enfrentam. No período de natal, ele deixa de acreditar nos sinos e se desespera. Mas serão os sinos que irão lhe mostrar como seria a vida de todos os outros caso ele morresse. Dickens, um cristão convicto, deixa sua mensagem: até o mais humilde dos homens é importante nesse mundo.

O conto, embora não seja creditado, nitidamente serviu de base para A felicidade não se compra, filme de Frank Capra que se tornou símbolo do Natal. Durante anos era uma das atrações obrigatórias na televisão na época das festas. Seu enredo: um homem afundado em dívidas pensa em se matar, mas um anjo lhe mostra que a vida de toda uma cidade estaria muito pior sem ele.
Só esses dois exemplos mostram o quanto a obra de Dickens povoou o imaginário ocidental.
Antes de se  tornar um dos maiores escritores ingleses de todos os tempos, Dickens teve uma infância pobre. Seu pai foi preso por dívidas e ele experimentou na pele todas as dificuldades do período da revolução industrial na Inglaterra, uma época em que poucas famílias faziam fortuna à custa da miséria de milhões de pessoas, que viviam em condições sub-humanas, trabalhando  até 14 horas por dia em troca de um salário que mal dava para a alimentação.
O rapaz conseguiu sair da miséria graças a sua verve humorística. Depois de ser explorado num trabalho em que sua função era pregar adesivos em latas de graxa, Dickens tentou estudar, mas a péssima condição financeira de sua família o levou a abandonar a escola. Para tentar ganhar um pouco mais de dinheiro, o futuro escritor aprendeu estenografia e passou a trabalhar  para o jornal True Sun anotando as reuniões parlamentares e campanhas eleitorais. Era um trabalho difícil, muitas vezes chato, e que o obrigava a viajar pelas cidades do interior e muitas vezes ficar sem comer. Mas Dickens compensava isso anotando casos pitorescos e divertidos.
Um dia ele tomou coragem e enviou uma crônica humorística anônima ao Monthly Magazine. O texto não só foi publicado, como foi lido com avidez e mostrou que o autor tinha talento. o sucesso fez com que ele escrevesse uma série de outras crônicas para o jornal londrino mais popular da época, o Morning Chronicle. Foi quando um famoso desenhista, , propôs realizar uma série de desenhos humorísticos satirizando a política local. Os editores lembraram de Dickens para escrever as legendas, mas este propôs que fosse feito o oposto: que os desenhos ilustrassem seus textos.

O resultado foi as aventuras de Mister Pickwick, uma série que despertou pouco interesse no início, mas virou febre quando Dickens introduziu na história o criado de Picwick, Samuel Weller. O sucesso é total e representa uma virada na carreira profissional de Dickens.
Mas os anos de pobreza permearam quase todo o seu trabalho posterior. Oliver Twist, um dos seus primeiros sucessos, conta a história de um pobre órfão explorado e maltratado por aquelas pessoas que deveriam cuidar de sua proteção. Emblemática a cena em que ele, no asilo, é sorteado pelas crianças para pedir um pouco mais de comida. O cozinheiro toma o pedido como um desacato, uma insubordinação, pois significa que os cálculos das autoridades sobre quanto cada criança deveria comer estava errado. A ironia de Dickens faz do romance uma obra-prima universal.
Essa ironia, colocada a serviço da crítica social, vai permear quase toda a sua obra. Em David Coperfield são mostrados os maus tratos sofridos pelas crianças e o encarceramento por dívidas. O romance é considerado por muitos como uma espécie de autobiografia romanceada.

Publicados em folhetins em jornais londrinos, os textos de Dickens fizeram chorar e rir. Encantaram milhões de pessoas e moldaram o imaginário popular, em especial sobre o natal. Sua importância pode ser percebida não nos prêmios que recebeu ou nos livros que vendeu, mas numa história singela. Dizem que ao receber a notícia de que o escritor havia morrido, uma pobre menina, vendedora de flores na porta de um teatro indagou: “Papai Noel também morreu?”. 

domingo, dezembro 23, 2018

A invenção do Natal


Até o início do século XIX o natal era uma data pouco comemorada e muitas vezes proibida por ser considerada não-cristã. Tudo mudou em 1843, quando Charles Dickens escreveu seu pequeno conto de natal sobre um homem rico e avaro que é visitado por fantasmas.
É sobre esse livro que se debruça Les Standiford no volume O homem que inventou o Natal.
O autor entremeia a biografia do autor (da infância miserável ao sucesso, passando pela decadência nas vendas, da qual seria salvo exatamente pelo Conto de Natal) ao processo de criação da história, passando pela ideologia de Dickens, segundo o qual a ignorância e a miséria eram males a serem combatidos (e seu conto seria uma arma importante nessa guerra).
Algo a se destacar é que o pequeno livro de Dickens (que dificilmente daria mais de 100 páginas) gerou uma obra de quase 200 páginas, o que mostra o quanto era rico o texto original.
Standiford faz um bom histórico do natal antes de Dickens e uma boa análise de como o conto influenciou a visão que hoje temos dessa data, com quase todos os elementos presentes na obra do autor inglês (exceto a troca de presentes, aspecto comercial que não se encaixava na proposta de Dickens).
A prosa é fluída mesmo quando o autor se dedica a analisar literariamente o texto de Dickens.
Talvez o aspecto mais fraco seja a parte referente às adaptações. São referenciadas apenas as adaptações diretas e o autor simplesmente ignora duas adaptações de grande sucesso. A primeira, delas, o Tio Patinhas (cujo nome original, Uncle Scrooge, é uma referência direta ao protagonista do conto de natal). A segunda, o filme Do mundo nada se leva, de Frank Kapra, talvez o mais famoso filme de natal de todos os tempos, diretamente retirado do livro seguinte de Dickens sobre o tema, Os Carrilhões.