quarta-feira, novembro 30, 2022

Conan – a fronteira do fim do mundo

 


Entre as várias sagas de Conan, a do Rio Negro é uma das mais memoráveis e uma das poucas que se alongaram tanto que ocuparam mais de uma edição da revista The Savage Sword of Conan, tendo sido publicada no Brasil em A espada selvagem de Conan 14 e 15 de editora abril .

Com desenhos de John Buscema e Tony DeZuniga e roteiro de Roy Thomas, a história conta a trama da invasão dos pictos contra os assentamentos da Aquilônia no território de Conajohara, às margens dos rios Negro e Trovão.

A história começa com Conan salvando um rapaz, Balthus, que pretende se juntar aos colonos. Os dois irão viver juntos essa aventura repleta de ação de suspense.



Os fatos se acumulam em ritmo acelerado: eles encontram o cadáver de um mercador que havia sido jurado de morte por um feiticeiro picto, tentando levar o corpo dele para o forte, são atacados por um demônio, que arranca a cabeça do cadáver. No forte, recebem a missão de matar o feiticeiro, mas, quando se aproximam de território picto, são atacados. Balthus é preso em um estaca e irá ser morto por uma serpente encantada, mas é salvo por conan.

Agora eles precisam desesperadamente tentar chegar até o forte e avisar sobre o ataque dos inimigos. Depois precisam avisar os colonos para que abandonem suas casas e se dirijam para um local seguro. No meio disso encontram um cachorro apelidado de Mutilador. Depois de ver seus donos assassinados por pictos, ele se tornou uma fera cujo único objetivo é matar selvagens.

A história é repleta de ação. 


Tudo isso é entremeado por aparições de criaturas místicas, demônios e muita, muita ação.

É uma saga tão monumental que ocupou mais de 80 páginas.

Na história o talento dos desenhistas John Buscema, Tony Dezuñiga é visível, mas o que se sobrepõe mesmo é a incrível habilidade de Roy Thomas para contar uma história. Não só pelo ritmo narrativo de tirar o fôlego, mas pelo texto impecável, que prende o leitor.

Entenda por que os comentários estão sendo moderados

 


 - Gian, entrei no seu blog e tentei comentar numa matéria, mas não ele não foi publicado imediatamente 

- Infelizmente eu tive que acionar a moderação de comentários. 

- Mas por quê? 
- Olha o tipo de comentário que os bolsominions estavam postando. 



- Caramba, são dezenas de comentários iguais o cara já começa te chamando de stalinista! 

- Pois é, virei um "extremista de esquerda stalinista"! 
- Caramba! 
- É o culto à personalidade. Como eles consideram o Bolsonaro um semi-deus, qualquer um que não o idolatre é imediatamente chamado de comunsita, petista, stalinista, dentista, skatista, surfista, remista. E pode colocar na conta vários outros "comunistas": Jim Starlin vira marxismo cultural, Raul Seixas vira marxismo cultural, Alan Moore vira marxismo cultural. E, para eles, comunista precisa ser preso ou morto. Para eles a Globo é comunista, a Folha de São Paulo é comunista, o Estadão é comunista. Esse tipo de gente só se informa pelo zap zap e por canais bolsonaristas como o Terça-livre. Qualquer coisa fora disso é comunismo. 
- O cara está te chamando de lulo-petralha?!!!



- Pois é, eu que nunca votei no PT, que sempre critiquei o PT, que na época da faculdade vivia em pé de guerra com os petistas da turma, de repente virei petralha só porque me recuso a idolatrar o mito. 
- E você praticamente nem fala de política no seu blog. 
- Pois é. Mas a estratégia deles é Dart Vader: ou você idolatra o Capitão ou é comunista, stalinista, petista, skatista, surfista, dentista, remista. Teve um "amigo" bolsominions que ameaçou me dar um soco só porque eu disse que político é para ser cobrado não para ser idolatrado. Outro disse que o pior tipo de "comunistas" são os "isentões": isentão aí significa alguém que se recusa a idolatrar o mito deles, mas ao mesmo tempo não idolatra o Lula, que se recusa a tecer elogios à ditadura militar, mas também não elogia a Coréia do norte. Antigamente para ser comunista precisava ser fã do Karl Marx, precisava ler o Manifesto Comunista, precisava acreditar em ditadura do proletariado. Hoje em dia, para ser comunista, basta não idolatrar o mito.
- Ele te acusa de cometer um gesto lulo-petista. Que gesto lulo-petista é esse?
- Me recusar a idolatrar o mito. Para quem escreveu esse comentário, qualquer um que não idolatre o mito está cometendo um gesto lulo-petista. Ou seja, na cabeça dele, está cometendo um crime. São pessoas que só se informam pelo zap zap e por vídeos de teoria da conspiração.
- Caramba, estou lendo aqui. O cara está ameaçando te denuncia... Te denunciar para quem? 
- Para os militres, provavelmente. 




- Estou vendo aqui. Ele te acusa de doutrinar os alunos. Fui seu aluno e você nunca falou de política em sala de aula. 
- Deve ser porque uso camisas da Marvel em sala de aula. Dizem que estou doutrinando os alunos a gostarem da Marvel. Nisso, confesso, sou culpado. Mas em minha defesa posso dizer que gosto da DC quando ela é desenhada pelo Garcia-Lopez.... rsrs... 
- Nossa, o cara diz que vai fazer você perder o emprego! Chega até a te chamar de estelionatário! 
- Só faltou dizer que vai me prender e  torturar pessoalmente para que eu confesse todos os meues crimes...kkkk Tudo isso porque eu me recuso a idolatrar o Capitão. E é esse pessoal que diz que é a favor da liberdade. A liberdade que eles querem é a liberdade de poder denunciar e prender quem pensa diferente deles. E como você pode ver, postaram essas ameaças dezenas de vezes no blog antes que eu bloqueasse os comentários. É por isso que não é mais possível comentar no meu blog. Infelizmente, tive que bloquear essa possibilidade de contato com meus leitores por causa desse tipo de comentário ameaçador.   
- Assustador, melhor manter os comentários do blog moderados mesmo.  
- Pois é. Melhor do que dar voz a gente desse naipe, que só se informa pelo zap zap e acredita em todas as teorias da conspiração possíveis. 

Fanzine Crash

 

Crash foi o primeiro fanzine de quadrinhos do Pará (antes havia alguns fazines que tinham quadrinhos, mas Crash foi o primeiro totalmente dedicado a publicar HQs).
Ele surgiu quando fui entrevistar Bené Nascimento para um trabalho de faculdade. O que era para ser uma entrevista virou uma conversa de horas e, ao final, Bené me convidou a produzir com ele um zine.
O número zero saiu em 1989 e publicou uma história do Bené com o Batman – o tipo de história que naquela época só poderia sair em um fanzine. Curioso que nesse primeiro número eu ainda estava definindo o pseudônimo , que em alguns momentos aparecia como Jean Danton e outros Gian Danton.
Foi em um número deste fanzine que publiquei pela primeira vez um texto sobre Watchmen, com desenhos de Bené com todos os personagens da série.
Crash teve quatro número (se contarmos o número zero) e marcou época nos quadrinhos paraenses.

Gonzaga - de pai para filho

 

Gonzaga, de pai para filho é uma cinebiografia lançada em 2012 de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha assinada pelo diretor Breno Silveira e pela roteirista Patrícia Andrade, os mesmos de Dois filhos de Francisco.
Breno Silveira se especializou em trabalhar vida de músicos no cinema e tirar delas o melhor. Em 2 filhos, ele foi inteligente ao focar a narrativa no pai e seu sonho de transformar seus filhos em astros da música, o que transformou o filme interessante até para quem não gosta de Zezé di Camargo e Luciano, como é o meu caso.
Em Gonzaga, ele focou sua narrativa no conflito entre pai e filho. Foi uma estratégia acertada do roteiro. Cinebiografias costuma pecar por falta de conflito, que é o motor de um filme.  O resultado são cenas soltas da vida do biografado. Em Gonzaga, Breno aproveita-se de uma visita que Gonzaguinha faz ao pai e grava com ele uma entrevista como a linha que costura os as cenas. Esse fato realmente aconteceu e em alguns trechos pode-se ouvir o áudio original de entrevista. Nele transparece não só a vida do cantor, mas sua relação difícil com o filho.
Gonzaguinha foi criado pelos padrinhos, quando criança nunca foi em um show do pai e sente-se abandonado por ele. Luiz Gonzaga acha o filho arrogante e comunista. Em meio à conversa, são apresentados os fatos da vida do rei do baião. Eles precisam superar suas diferenças para mostrarem o que realmente sentem um pelo outro (não é novidade para o expectador que os dois se reconciliam e Gonzaguinha torna-se o grande responsável por resgatar a obra do pai. O interessante é saber como isso acontece).
Um ponto positivo a mais é forma como diretor trabalha a música, muitas vezes compondo cenas inteiras em que a narrativa está focada na música, como na ótima cena em que ele volta para casa no sertão. A sequência não tem diálogos, sendo focada na música "Respeita Januário", cujo refrão é conhecidíssimo: "Luis, respeita Januário. Você é mais famoso, mas seu pai é mai tinhoso...". Alías, essa sequência termina com um fantástico plano emblemático: o carro se afasta e a família é filmada pelo vidro do carro e a locução diz: "Eu sai do sertão, mas o sertão não saiu de mim".
Quer um conselho? Assista Gonzaga, de pai para filho, mas separe um lenço.

Os escravos da górgona

 


Os escravos da górgona foi um dos livros que me influenciaram a escrever O Uivo da górgona (pelo menos foi a maior inspiração para o título ao ampliar o conceito de górgona para eventos que essencialmente mudam o ser humano para pior). Esse livrinho, originalmente denominado Os 100 dias da Górgona, foi escrito por Curtis Garland (pseudônio do espanhol Juan Gallardo) e publicado pela Cedibra em 1976 na forma de livro de bolso. Eu li provavelmente em 1984 ou 85 (comprei num sebo).
A história é fantasiosa: uma luz encobre o planeta terra. Quem a vê passa por transformações. O protagonista é um homem que sofreu acidente com ácido e está com os olhos enfaixados e por isso não se transforma. Ao acordar e tirar as faixas, ele descobre que todos estão paralisados, recobertos por uma película azulada.
Talvez seja coincidência, mas esse início me faz lembrar ao menos três obras. O homem que acorda num hospital após um apocalipse remete diretamente a Walking Dead e Extermínio. E pessoas sobrevivendo num mundo em que todas as outras foram paralisadas lembra muito o romance Blecaute, de Marcelo Rubens Paiva. Tpdas essas obras são posteriores, o que pode significar que alguém talvez também tenha lido esse livro de bolso. Ou talvez ele só tocasse em temas universais do imaginário terror e FC.
O protagonista percorre a cidade e, milagrosamente, encontra a namorada e descobre que ela não se transformou - Londres inteira estava na rua no dia de verão e por alguma razão ela estava trancada no porão, de modo que não viu o clarão.
O casal passa as 128 páginas do livro se livrando de perigos. Primeiro são os homens petrificados, que ganham vida, depois as crianças, que se tornam verdadeiros psicopatas, e, finalmente, gosmas espaciais que sugam as memórias da pessoa e se transformam nela.
Antes que perguntem: não, o livro não é bom. Há vários deus ex machina, desde o padre cego que encontram e que sabe contar tudo que eles não sabem até a própria sobrevivência da namorada do herói, quando todos os outros se transformaram. Ah, sim, e enquanto fogem do perigo, a moça só consegue pensar em se casar!
E os diálogos, ah, os diálogos! Talvez para lembrar o leitor quem estava falando - ou simplesmente para deixar os diálogos mais melosos, os protagonistas repetiam o nome um do outro a cada fala:
- Ewa, minha querida. Agora estamos sós diante de um mundo diferente, hostil e estranho. É preciso lutar com muita coragem e determinação... está disposta?
- Todd, ao seu lado eu sou capaz de tudo!
Mas, aos meus treze anos, eu prestava pouca atenção aos problemas de roteiro ou diálogos forçados. Na verdade, eu muitas vezes reescrevia a história em minha cabeça.
E, como disse, essa foi, provavelmente, a gênese de O uivo da Górgona.
Em outras palavras: mesmo livros ruins podem ser uma boa influência.

O traje do Homem-aranha de Roy Thomas

 

Roy Thomas e sua primeira esposa Jeanie Thomas no Hallowen de Rutland, VT, em 1969
Roy Thomas é um dos principais roteiristas dos quadrinhos norte-americanos e foi um dos principais editores da Marvel. Ele escreveu praticamente todos os personagens da editora, tornando-se imensamente famoso por seu trabalho em Conan, que ele escreveu por mais de uma década. Mas uma face pouco conhecida do escritor foi revelada pelo blog Hero Envy: Roy Thomas foi também um dos primeiros cosplays da Marvel. Isso graças a um traje que ele ganhou de Sol Brodsky. O traje havia sido encomendado pela Marvel para ser usado por um ator no Desfile de Ação de Graças da Macy's. Mas o ator ficou bêbado e não desfilou. Assim, o traje acabou sendo doado para Thomas, que o usou no Halloween em Rutland, Vermont e em convenções de quadrinhos. 
Thomas usando o traje em uma convenção de quadrinhos, junto com fãs fazendo cosplay dos X-men.

Esse evento era famoso por ter tirado o foco das bruxas e monstros e colocado em seu lugar super-heróis. Pessoas de todo o país iam participar do evento fantasiadas de super-heróis, inclusive gente da indústria. E Roy Thomas foi um dos pioneiros. Roy Thomas chegou a se colocar em uma história dos Vingadores vestindo o traje. 
Roy e sua segunda esposa, Dann Thomas

Em outra história, dos Defensores, ele aparece sem o traje, mas a história se passa no Halloween em Rutland. Ah, a Marvel também doou para o roteirista um traje da Mulher invisível, que foi usado tanto pela primeira quanto pela segunda esposa de Thomas em vários eventos. 
O traje chegou a aparecer até em uma revista da Marvel. 

E-book A linguagem dos quadrinhos

 


Já está disponível em versão digital o livro A linguagem dos quadrinhos. Organizado por mim, pelo Rafael Senra e pelo Matheus Moura reúne seis artigos sobre HQs, entre eles meu artigo O uso de elipse em Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller. Para baixar, clique aqui. Quem quiser adquirir a versão impressa, só mandar um e-mail para profivancarlo@gmail.com. O valor da versão impressa é dez reais (apenas para pagar o frete). 

A arte exuberante de J. Allen St. John

 


J. Allen St. John foi um célebre ilustradora norte-americano do início do século XX.  Era o desenhista predileto do criador do Tarzan e ilustrou várias obras de Edgar Rice Burroughs. Ficou famoso também pelas diversas capas que fez para pulp fictions na fase de ouro dessas revistas.












Feliz Natal

 


Conhecimento teológico

 

Você acredita em Deus? Por quê? A uma pergunta dessas, dificilmente alguém responderá que acredita em Deus porque o viu ou porque a lógica científica o diz.
         O conhecimento religioso, portanto, não surge da observação empírica ou da lógica. A história de São Tomé, que precisou ver as chagas de cristo para acreditar é contada como exemplo de falta de fé. A fé não depende da observação empírica. 
É um conhecimento revelado, razão pela qual dizemos que ele se baseia na fé. Uma pessoa tem uma revelação sobre uma verdade eterna e a divulga a outras pessoas, que acreditam na mensagem e passam a também propagá-la e assim surgem as religiões (ou através de diversas revelações).
         Existiram muitas tentativas de explicar Deus através da razão, da lógica filosófica, por exemplo, mas alguém que nunca ouviu esses argumentos pode, ainda assim, ter fé nos dogmas desta ou daquela religião. Só podemos entender suas verdades se acreditarmos.
         O conhecimento teológico está baseado no discurso da autoridade. A autoridade é Deus, que revela aos homens suas verdades, ou o profeta. Ao discutir com uma pessoa religiosa, ela certamente usará em seu discurso frases como “Está na Bíblia”, a “Bíblia diz isso”, que revelam a importância do discurso da autoridade para esse tipo de conhecimento.

terça-feira, novembro 29, 2022

7 vidas de um quadrinista

 

Em 2004, o roteirista de quadrinhos André Diniz resolveu tirar suas dúvidas sobre a terapia de vidas passadas submetendo-se, ele mesmo ao tratamento. 7 vida (ed. Conrad) é o relato quase literal das sessões que o levaram a descobrir detalhes sobre suas encarnações passadas e como elas influenciam no momento atual. É também um relato sobre a vida do escritor, num momento decisivo, de mudança física e psicológica (com a ida para Petrópolis e a perda de uma gravidez por parte da esposa).
Para desenhar a história, André chamou Antonio Eder, um companheiro das antigas, com os quais fez várias histórias curtas e o álbum Chalaça, lançado também pela Conrad.
André Diniz é um dos mais importantes roteiristas de quadrinhos surgidos no século XXI. Seu álbum de estréia, Fawcett, sobre o explorador americano que se perdeu nas selvas do Mato Grosso e influenciou a criação do Indiana Jones, com desenhos de Flávio Colin, rendeu-lhe o prêmio Ângelo Agostini. Antonio Eder é um desenhista já veterano, com um currículo invejável, incluindo a premiada graphic novel Manticore.
A dupla mostra uma interação poucas vezes vista em uma história em quadrinhos. O desenhista Antonio Eder tem um desenho simples, mas extremamente expressivo. É dos poucos que conseguem, com poucos traços, passar uma idéia, uma expressão. Esse traço enxuto casa perfeitamente com o roteiro realista e espontâneo de Diniz, que chega ao ponto de contar até mesmo detalhes irrelevantes das sessões como que para dizer: “isto é um relato, não uma ficção”.
Aliás, a espontaneidade e realismo do roteiro é a maior qualidade e o maior defeito da história. Exemplo disso é a questão da perna. André Diniz conta que a perna direita ficava tensa durante as sessões de terapia. Mais tarde, sabemos que essa perna é o ponto fraco do escritor em várias vidas. Há sempre algum tipo de incidente envolvendo-a. Num roteiro fictício, o mistério da perna seria solucionado lá na frente, talvez na última página, pois serve como elemento de suspense. André Diniz soluciona o mistério da perna muito antes do final, seguindo a ordem cronológica das sessões e dos acontecimentos de sua vida.
Com isso, se a história perde em estrutura narrativa, ganha em honestidade. 7 vidas é um relato sem artifícios narrativos, mas totalmente honesto. E não resvala em nenhum dos dois procedimentos comuns quando se fala do assunto: no terror ou na literatura de auto-ajuda ou espiritualista. Na verdade, não é necessário nem mesmo acreditar em reencarnação para ler e gostar de 7 vidas.
O tema reencarnação é pouco explorado nos quadrinhos, apesar de suas incríveis possibilidades narrativas. No Brasil, o próprio André Diniz havia feito uma HQ chama A curva, com desenho próprio, que ficou incompleta. Nela, uma mulher morre e, influenciada por um espírito vingativo, passa a perseguir o esposo.
A história em quadrinhos parecia uma versão romanceada de livros espíritas, como Nosso lar, mostrando detalhes da vida após a morte, inclusive com incursões ao umbral. Mas, competente, Diniz, teve o cuidado de não se deixar levar pelo discurso doutrinário. As ideias básicas do espiritismo kardecistas estavam ali apenas como elementos narrativos ou ambientação, sem o objetivo de convencer o leitor a acreditar nisto ou naquilo.
7 vidas tem essa mesma qualidade. Os autores são honestos e evitam a todo custo um discurso de auto-ajuda ou de misticismo de botique.
Curiosamente, a difusão do kardecismo no Brasil parece ter tornado a relação com o tema mais simples e menos traumática. É curioso comparar, por exemplo, 7 vidas com “A experiência religiosa de Philip K. Dick”, HQ curta de Robert Crumb, o mais aclamado nome do quadrinho underground norte-americano.
Em 1974, o escritor de ficção-científica Philip K. Dick passou por uma experiência que marcou sua vida profundamente. Ele sofria com dor após uma extração dentária e, quando abriu a porta para pegar o remédio, deparou-se com uma mulher com um pingente na forma de peixe dourado. Isso desencadeou a lembrança de uma vida anterior, em que ele morava em Roma e era cristão num período em que os praticantes dessa religião eram perseguidos. Era como se outra personalidade tivesse entrado em sua mente. Ele não conseguia, por exemplo, dirigir, pois o cristão da época romana que se introduzira em sua mente não tinha essa habilidade.
Crumb transformou a experiência do escritor em uma inspirada história em quadrinhos, mas com um foco totalmente diferente de 7 vidas.
O racionalismo cartesiano norte-americano mesmo expresso por um quadrinista underground, como Crumb, fez com que a história fosse densa e angustiante.
Enquanto André Diniz parece lidar com naturalidade com os fatos que lhe são apresentados sobre suas vidas passadas, Dick, mostrado por Crumb, espanta-se com eles e se angustia na tentativa de racionalizá-los.
André Diniz faz um relato quase poético pela simplicidade e sinceridade e isso parece dizer muito sobre a forma como os brasileiros lidam com fenômenos como a mediunidade e a reencarnação.
Curiosamente, essa versão simples e sincera de 7 vidas passadas parece estar agradando. O álbum já está na segunda edição.

Blueberry: o melhor faroeste franco-belga

 

 
     O faroeste sempre foi um gênero popular na Europa, com vários personagens e vários tipos de abordagens. Mas, no meio de tantos heróis, um se destacou e se tornou um verdadeiro clássico: trata-se de Blueberry, criação do roteirista Jean-Michel Charlier em dupla com o desenhista Jean Giraud, que posteriormente viria a assinar Moebius.
     Blueberry revolucionou ao mostrar um personagem que foge completamente do estereótipo do cowboy clássico: ele é um beberrão, jogador inveterado e indisciplinado. Em outra palavras: um anti-herói. Além disso, constantemente, Blueberry toma partido em favor do índios, uma novidade total, já que até então, com raras exceções, os índios eram mostrados como vilões.
     Além disso, as histórias de Blueberry mostravam um personagem que evoluía e se tornava mais experiente com o tempo. Aliás, essa cronologia era mostrada de forma não-linear, pois a juventude do personagem só foi contada depois que ele já era famoso.
     Jean-Michel Charlier, o roteirista, é uma verdadeira lenda nos quadrinhos franco-belgas. Aos 23 anos ele abandonou o curso de Direito para se dedicar aos quadrinhos. Começou escrevendo aventuras do aviador americano Buck Danny para a revista Spirou, em parceria com o também belga Victor Hubinon. Em 1959, junto com René Goscinny e Albert Uderzo, fundou a revista Pilote, posteriormente comprada pela editora Dargaud. Para o traço de Uderzo, criou os aviadores Tangui e Laverdure. Para Hubinon criou a série juvenil Barba Ruiva, sobre um garoto filho do famoso pirata.
     Jean-Giraud é, talvez, o desenhista europeu mais famoso de todos os tempos. Ele começou sua carreira como assistente de Jijé, criador do cowboy Jerry Spring. Seu primeiro trabalho importante foi justamente o tenente Blueberry. Inicialmente imitando Jijé, ele foi aos poucos criando um traço próprio, extremamente detalhista e original. Mas mesmo nas pranchas iniciais de Blueberry já é possível perceber que ele tinha um talento incomparável. Seu detalhismo chegava ao ponto de, ao desenhar um saloon, colocar dezenas de pessoas em posições diferentes. Na década de 1970, Jean-Giroud mudou seu nome para Moebius, juntou-se com outros desenhistas e roteiristas e revolucionou os quadrinhos franceses com histórias surrealistas de ficção-científica e fantasia para a revista Metal Pesado.
     A junção desses dois mestres não poderia resultar em algo que não fosse uma obra-prima. Embora outros cowboys (como tex) possam ser mais famosos, Blueberry é considerado pela maioria dos críticos como o ponto alto do gênero (honra que é disputada apenas com o quadrinho italiano Ken Parker).
     Charlier fez uma verdadeira investigação sobre a época, retratando de maneira muito detalhista o cotidiano do velho oeste. Além disso, ele introduziu fatos e personagens reais em sua história, num recurso característico da pós-modernidade que seria imitado posteriormente por outros autores.
     Se por um lado, Charlier teve uma grande preocupação histórica, ele também não descuidou da aventura. Como as aventuras de Blueberry eram publicada em seminários antes de serem juntadas num álbum, o roteirista colocava um gancho de suspense no final de cada página, deixando o leitor curioso para ler o resto. Essa técnica virou quase que um padrão no quadrinho europeu.

Cabanagem está em promoção na Amazon


 

Duas ótimas notícias. Meu romance Cabanagem está concorrendo ao prêmio Argos, o maior prêmio brasileiro de ficção-científica e fantasia. O e-book também está em promoção de black fryday por apenas 99 centavos. 

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Holambra – a cidade das flores

 


Holambra é a maior cidade de colonização holandesa do Brasil, daí seu nome, que mistura Brasil com Holanda. Localizada no interior de São Paulo a poucos quilômetros de Campinas, é uma das principais atrações turísticas da região e a principal produtura de flores do Brasil, respondendo por mais de 40% da produção nacional.

É uma cidadezinha pequena, com pouco mais de 12 mil habitantes, mas com ótima infra-estrutura e serviços públicos. A cidade é muito limpa (eu não vi lixo na rua em lugar algum) e conta com ótimo serviço de saúde. Eu tive uma alergia referente a um remédio que estava tomando e procurei a políclina do município. Fui muito bem atendido: não só recebi o anti-alérgico na veia, como ainda saí de lá com um remédio para substituir o que estava tomando. É também um local muito calmo, onde é possível andar mexendo o celular na rua de noite sem risco de assalto.

O grande problema da cidade é transporte. Nós fomos de ônibus e sofremos com a falta de Uber e os poucos taxis. O ideal é pegar um contato de um transporte (a maioria dos restaurantes e cafés tem cartões). Nós usamos o serviço de um motorista chamado Luís (19-991601836), que foi muito atencioso. Também é interessante contratar os serviços de um guia, especialmente se você for passar pouco tempo na cidade. Nós ficamos apenas dois dias e conseguimos ver tudo graças à guia Liliane (19 – 992724522).


Ficamos em um hotel muito bom, mas longe do centro. Ideal para quem está de carro. 


Nós ficamos no Parque Hotel Holambra, um local maravilhoso, muito agradável, como ótimo café da manhã, mas longe do centro. Perfeito para quem está de carro. Para quem está a pé o ideal é pegar um hotel ou pousada no centro da cidade. Há vários.

Holambra é a cidade das flores e a maioria das atrações estão relacionadas a elas ou à imigração holandês. A maioria dos pontos turísticos ficam próximos, como o corredor dos guarda-chuvas e o Deck do amor (onde os casais costumam colocar cadeados com seus nomes).



O Parque Van Gogh é outra parada obrigatória. É um belo lago circundado por casas no estilo holandês nos quais é possível tomar café ou saborear o sorvete de flores.

Outro ponto turístico é o Boulevard Holandês, uma rua na qual estão vários restaurantes típicos holandeses e lojinhas. Nas proximidades do Boulevard há vários mini-shoppings com vendas de flores e artesanato.

O moinho holandês reproduz um moinho típico. Os turistas podem subir, conhecer a estrutura por dentro e tirar fotos com a bela paisagem. Ao lado do moinho há um galpão com vários vendendores de artesanato.



As fazendas de flores sempre foram pontos obrigatórios dos turistas. Mas eram fazendas, não locais apropriados para turismo. Assim, uma família local criou o Bloemen Park, que reproduz uma fazenda de flores, mas com toda a estrutura para turistas. Esse parque é visita obrigatória.

Uma curiosidade é que a cidade é ponto de encontro de ciclistas das cidades próximas. Já na estrada para Holambra já é possível ver vários grupos. E, como não poderia deixar de ser, todas as ruas da cidade têm ciclovia.

COMO CHEGAR DE ÔNIBUS: O ônibus para Holambra sai de Campinas no terminal de ônibus (ao lado da rodoviária). Pegue o coletivo Arthur Nogueira e desça na rodoviária de Holambra. A passagem sai por R$ 8,50.  





A cidade é ponto de encontro de ciclistas - e boa parte da ornamentação é feita com bicicletas. 


Os tamancos holandeses são um dos símbolos de Holambra. 

O parque homenageia o famoso pintor holandês. 

O Parque Van Gogh é um dos principais pontos turísticos da cidade. 

Uma das atrações da cidade é saborear o sorvete de flores. 

Não deixe de parar na entrada da cidade para tirar foto no portal. 

O moinho reproduz um moinho holandês. 

O Deck do amor é ponto obrigatório para os casais apaixonados. 


Os casais colocam os nomes em cadeados e prendem na ponte. 




Os orelhões da cidade reproduzem os famosos tamancos holandeses. 

As lojinhas de comidas imitam o estilo arquitetônico holandês. 

A rua dos guarda-chuvas é uma das grandes atrações da cidade. 





O Bloemem Park reproduz uma fazenda de flores. 



Os ambientes da estufa do Bloemen são temáticos. Um homenageia Van Gogh...

Outro homenaageia o circo... 

... e outro homenageia o Rio de Janeiro. 


O parque tem o mais variado tipo de flores.