sexta-feira, dezembro 29, 2006

Experiêcias e livros






Monteiro Lobato já disse que um país se faz com homens e livros. Da mesma forma, um homem se faz de experiências e livros. Não há formação intelectual que não passe pela leitura.

Pensando em todos os livros que, de uma maneira ou de outra, influenciaram minha formação, lembro de um deles, parece-me, é pouco conhecido da geração atual. Mas fez as delícias de todos os jovens devoradores de livros da década de 80. Falo de Aventuras de Xisto, de Lúcia Machado de Almeida, publicado na época na coleção Vaga-lume.Esse foi o primeiro livro que li (não estou contando os pequenos livros infantis dos quais guardo poucas lembranças). Devia ter algo em torno de 10 anos. Pode parecer uma discrepância eu ler meu primeiro livro aos 10 anos, mas há de se considerar que eu cresci em uma família pobre, na qual livros eram um luxo supérfluo. Só consegui convencer minha avó a me dar o dinheiro para esse livro porque ele ia ser utilizado na escola. Na época vivíamos na pequena cidade de Mococa, no interior de São Paulo. Eu mesmo fui à livraria, no outro lado da cidade e comprei o livro. Antes que o dia terminasse eu já o tinha lido inteiro. No dia seguinte, dia de frio, coloquei uma cadeira no quintal e, enquanto tomava um sol, li pela segunda vez. Uma semana depois a professora iniciou a leitura em sala de aula, mas o rapaz responsável por ler o primeiro capítulo não havia nem mesmo aberto o livro. “Alguém já leu o livro?”, perguntou a professora. Eu levantei a mão: “Já li cinco vezes, professora”.

Aventuras de Xisto influenciou meu gosto pela história, especialmente pela história medieval. O clima sombrio e fantasioso também influenciou muito minha literutura. Minha novela O Anjo da Morte é uma espécie de Aventuras de Xisto para adultos. Gostaria de dar destaque também para as ilustrações do livro, de autoria de Mário Cafiero. Sempre imaginei ter uma história desenhada por ele. Depois disso, eu não tinha mais como convencer minha avó a comprar outros livros e só fui voltar a ler uns quatro anos depois, quando descobri a biblioteca pública e os sebos.

Foi época de conhecer Monteiro Lobato. Não houve um livro específico que tenha me influenciado. Nessa época lia tudo que me chegava às mãos do autor paulista. Curiosamente, li primeiro sua literatura adulta, depois a infantil. Na literatura adulta, Urupês é sem dúvida a obra-prima. Lobato estava menos preocupado em fazer literatura e mais em causar uma impressão no leitor. Lembro que a primeira vez que li me pareceu um livro de terror... Da literatura infantil, História do mundo para crianças é, certamente, a obra que li mais vezes. Lobato era uma dessas inteligências enciclopédicas, que escreviam sobre tudo e em tudo deixavam um gosto delicioso.

Mais ou menos por essa época, tinha um amigo que colecionava a revista Heróis da TV e descobri um sebo que as vendia por um preço irrisório. Eu comprava as revistas e as vendia pelo dobro do preço, e assim conseguia dinheiro para comprar minhas próprias revistas. Antes de vender as revistas, eu passava o final de semana lendo. Só muito tempo depois fui perceber o quanto essas leituras me influenciaram, especialmente as histórias do Mestre do Kung Fu, cujos autores são: Dough Moench (roteiro); Paul Gullacy e Mike Zeck (desenhos). Há coisa de um mês encontrei em um sebo as edições norte-americanas do personagem, da década de 70, e não hesitei em comprar.

1984, de George Orwell, foi a leitura que mais influenciou o período da universidade. Quando já estava no final do livro, fui comprar adubo para minha avó (que adora plantas). Como o troco demorasse, encostei no balcão e comecei a ler. Só sai de lá depois de ter lido a última palavra, para espanto dos balconistas. 1984 é um livro que deixa uma marca em quem o lê. É impossível sair dele o mesmo.

Também da época da Faculdade, O Nome da Rosa, de Umberto Eco foi um livro que prendeu minha atenção. Às vezes desconfio que só gostei tanto dele porque a ambientação era quase a mesma de Aventuras de Xisto. Em todo caso, li-o três vezes. Na primeira o que mais me chamou atenção foram os detalhes sobre a história da Idade Média. Na segunda, os aspectos relacionados às teorias da comunicação (especialmente semiótica e teoria da informação). Na terceira, eu já estava mais interessado em detectar as influencias de Jorge Luís Borges sobre a obra.

Chegamos a Borges. O que mais me marcou no autor argentino não foi um livro, mas um conto: "O Aleph". O texto parecia uma versão literária de meus estudos sobre teoria do caos. A partir daí comecei a devorar tudo que me caía as mãos sobre o autor portenho.

"O Aleph" me foi emprestado por um colega de redação na Folha de Londrina. Foi também ele quem me emprestou Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury. Eu já havia lido Farenheith 451, mas esse parecia uma versão menor de 1984, de Orwell. Crônicas Marcianas tinha vida própria e fez com que eu me interessasse pela literatura de ficção científica norte-americana. De Bradbury para Isaac Asimov foi um passo. Além das histórias de robôs, sempre me fascinaram seus textos de divulgação científica. Asimov produziu um verdadeiro tijolo, Cronologia das descobertas cientificas, que foi meu livro de cabeceira durante o mestrado.

Uma história em quadrinhos que mudou a minha forma de ver o mundo foi Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons. Moore virou de cabeça para baixo os comics norte-americanos ao mostrar os super-heróis de uma perspectiva realista. Histórias de heróis cuja vestimenta é uma fantasia sexual se misturam com casos de personagens que deixaram escapar bandidos porque precisavam ir ao banheiro. Pode parecer humorístico, mas a perspectiva não era essa. Moore realizou uma obra profunda sobre a condição humana em meio ao caos. O subtexto baseado na teoria do caos e na geometria fractal passou despercebido pela maioria dos leitores e só se tornou corrente no Brasil após o meu trabalho de conclusão de curso.

Já que falamos em teoria do caos, Caos: a criação de uma nova ciência, de James Gleick, é outro livro que exerceu grande influência sobre mim ao me mostrar o poder desse novo paradigma para explicar fenômenos não deterministas. Fenômenos deterministas são aqueles que seguem um padrão fixo, como um relógio. Para a ciência clássica, todo o universo era determinista. A teoria do caos demonstrou que esse modelo do universo como um relógio não corresponde à realidade. A maioria dos fenômenos, por mais determinados que pareçam, podem mudar de comportamento de uma hora para outra em decorrência de pequenas alterações, chamadas de efeito borboleta.

A teoria do caos foi uma das bases da teoria de Edgar Morin. Esse autor francês produz tanto que é quase impossível destacar um livro mais importante. Ciência com consciência, Sete saberes necessários à educação do futuro e A Cabeça bem-feita são alguns dos mais famosos. Morin defende uma nova visão de mundo, diversa daquela inaugurada por René Descartes, segundo a qual, para conhecer algo, é necessário dividir esse algo em pequenas partes e estudá-las um a uma. Para Morin, as partes não podem ser vistas senão em sua relação com o todo.

A teoria do caos demonstrou que tudo está relacionado. Uma pequena borboleta batendo suas asas na China pode desencadear uma série de eventos que redundam em uma tempestade em Nova York.Morin critica a fragmentação dos saberes e defende uma ciência que vê as coisas em suas relações com outras coisas. Pensando bem, isso tem tudo a ver com a filosofia oriental que aparecia nas páginas das histórias em quadrinhos do Mestre do Kung Fu. Talvez tudo esteja mesmo interligado.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Contos de Natal dos super-heróis

Por Marcus Vinicius de Medeiros22/12/2006

Histórias de quadrinhos de Natal estreladas por super-heróis costumam ser um deleite para os fãs, independente de como eles vejam o feriado. Para alguns, é sobre enfeitar a casa, comprar e receber presentes. Outros, porém, ainda acreditam que esta pode ser a época de mudanças, de realizações e de fazer algo pelas pessoas que precisam, algo que vai totalmente ao encontro das histórias de super-heróis, nas quais indivíduos tentam melhorar o mundo de alguma forma. Destacamos aqui cinco histórias de Natal que transmitem justamente esse espírito. Leia mais
Hoje fui em um supermercado famoso na cidade e comprei veneno para barata, doce e uma escova de dente. No caixa, colocaram tudo junto no mesmo saco... Fiquei me perguntando: os embaladores não recebem treinamento? O treinamento é um item importante. Todo o esforço de marketing vai por água abaixo se os funcionários que vão ter contato com os clientes não estiverem preparados para isso...

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Programação de cinema

CINE SHOPPING MACAPÁ
sala 1: ERAGON sessões: 16:20-19-21:15h
sala 2: CASSINO ROYALE sessões: 16:00-18:50-21:30h

CINE SANTANA
sala 1: JOGOS MORTAIS 3 às 19 e 21:20H e DEU A LOUCA NA CHAPÉUZINHO às 17h
SALA 2: HAPPY FEET às 16:40 e 19h e INFILTRADOS às 21:10h.

300 terá estátuas colecionáveis - incluindo uma de Rodrigo Santoro

Por Marcelo Hessel27/12/2006

A NECA, fabricante de estatuetas e brinquedos para colecionadores, revelou as imagens dos itens baseados no filme 300, aguardadíssima adaptação para as telas da HQ de Frank Miller.
A semelhança com o que se verá tela é incrível. Confira abaixo duas peças espartanas da série um, o Rei Leônidas e o traidor Ephialtes:

A série um - que sai em abril - ainda terá um dos soldados imortais e a Rainha Gorgo, mulher de Leônidas. O persa Xerxes - o primeiro bonequinho colecionável da carreira do brasileiro Rodrigo Santoro - vem só na série dois, que não tem previsão de lançamento. A NECA prometeu mais imagens até lá.
300 estréia nos EUA em 9 de março de 2007 e no Brasil no dia 30 de março. No elenco estão Gerard Butler, Lena Headey, David Wenham, Vincent Regan e Dominic West .

Fonte: Omelete

domingo, dezembro 24, 2006


Sandman é uma das melhores histórias em quadrinhos já escritas. Seu autor, Neil Gaiman, provou que mulheres também poderiam gostar de gibis, desde que eles não fossem sobre homens musculosos com a cueca sobre a roupa e trocando sopapos. Suas histórias trouxeram novos temas para os quadrinhos norte-americanos e chegaram a ganhar diversos prêmios literários. Além disso, as belíssimas capas de Dave McKean eram tão boas que mereceram uma edição especial pela Opera Graphica (o texto da contra-capa é meu). As histórias estão sendo lançadas em edição de luxo pela Conrad e ficaram entre os 10 livros mais vendidos pelo site Submarino. Para quem não puder comprar, uma opção é baixar na internet. Aqui vai o endereço: http://www.box.net/public/25mjzypil0#main
Ontem não estava me sentido bem e ficamos em casa assistindo filmes. Assistimos um ótimo filme sobre Psicopatas, Assassinatos em série, que explora mais os aspectos psicológicos da trama do que os assassinatos em si. Baseado em um caso real, tem uma direção nervosa, com uma câmera que não pára um único instante.

Ando meio demorado para atualizar pela dificuldade de acessar a net, mas gostaria de desejar a todos os meus leitores um feliz natal. Como presente, deixo um natal desenhado pelo Norman Rockwell, o maior ilustrador norte-americano.

sábado, dezembro 23, 2006

História de natal

“Imagine there’s no countries
It isn?t hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace”
Imagine - John Lennon

Estavam em guerra.
Durante anos a humanidade havia percorrido o universo em busca de outras civilizações, em busca da constatação de que não estamos sozinhos. Então encontraram os gafanhotos. Claro, eles não se chamavam gafanhotos. Mas as pernas e os braços compridos, além da pele na forma de couraça davam-lhe o aspecto de gafanhotos e era natural que os humanos os chamassem assim, por analogia.
No começo as relações foram bastante amistosas. Afinal, era a primeira forma de vida inteligente que o homem encontrava em seu caminho pelas estrelas.
Os problemas começaram a ocorrer quando as viagens de turismo ao planeta dos gafanhotos se tornaram freqüentes. Ficou claro, então, que havia séria diferenças culturais. Ocorre que todo o planeta era repleto de pequenos e incômodos insetos. Os turistas humanos usavam contra eles inseticidas e repelentes.
Entretanto, os gafanhotos consideravam os insetos sagrados, pois Deus os criara à Sua imagem e semelhança.
Os teólogos humanos acharam a idéia ridícula. Que tipo de Deus teria a aparência de um inseto? Afinal, a Bíblia deixava claro que Deus criara o homem à Sua imagem e semelhança. A religião dos gafanhotos foi considerada uma heresia.
O que era uma simples diferença teológica tornou-se um problema diplomático quando os gafanhotos começaram a matar humanos acusados de exterminar insetos.
Foi o início da guerra.
José lembrava-se de tudo isso enquanto olhava o céu repleto de estrelas. Uma estrela cadente fez com que ele atentasse para a data. Eram 24 de dezembro. Véspera de natal. Estavam tão preocupados com inimigo que nem ao menos haviam percebido.
O rapaz tentou lembrar o capitão, mas não conseguiu. Estavam todos ocupados demais com os preparativos para a batalha. Dizia-se que os gafanhotos preparavam um ataque surpresa e a ordem era contra-atacar com todas as forças.
José encostou a cabeça na parede da trincheira e dormiu. O cheiro de excrementos e dos cadáveres era tão forte que dominou seus sonhos. Acordou com um outro soldado empurrando-o.
- Acorde! O ataque vai começar!
José olhou para o relógio. Eram quase meia-noite.
De repente veio a ordem. O sargento berrava como um louco e empurrava os soldados para fora da trincheira.
- Atacar!
José avançou com os outros. Uma bomba explodiu, levantando uma densa cortina de fumaça e pó que desorientava os soldados.
Mísseis silvavam no ar, luminosos e terríveis, prestes a cair no campo de batalha. Eram máquinas de morte, ceifadora de vidas, incapazes de distinguir um amigo de um inimigo.
Mas não caíram. Algo aconteceu antes. Explodiram no ar, formando belos desenhos de luz. O som cessou. O barulho incessante das metralhadoras cessou. A respiração ofegante dos guerreiros. Tudo parou. Até mesmo o tempo. Uma forte luz branca tomou conta do campo de batalha, parecendo vir de todos os lugares e de lugar nenhum.
Então surgiu um menino. Surgiu no céu, e todos os olhares de voltaram para ele. Enquanto falava, os soldados largavam as armas e choravam.
- Hoje não haverá mortes. Não haverá guerras em meu nome. Nada de armas, sangue ou gritos de desespero. Paz. Apenas paz.
Do outro lado aconteceu algo semelhante, mas o que apareceu para os gafanhotos não foi um menino. Foi um inseto. Um ser de pernas e braços compridos e pele em forma de couraça. Ele falou com eles, da mesma forma que o menino falou com os humanos.
Depois disso inimigos se abraçaram.
O campo desapareceu e junto com ele os mortos, os ratos, as doenças e o cheiro pestilento. Humanos e gafanhotos não conseguiam entender porque estavam brigando antes e isso não interessava.
No dia seguinte o rádio guinchou dos dois lados, proferindo ordens de morte. Ninguém atendeu. E nem atenderia. Afinal, era natal...

quarta-feira, dezembro 20, 2006

As piores HQs de todos os tempos

1 – Yongblood, de Rob Liefield. Trabalho amador, que foi considerado durante muitos anos o top do mercado norte-americano. A grande maioria dos fanzineiros brasileiros desenha melhor que Liefield.
2 – Cavaleiro das trevas dois, de Frank Miller. Tão ruim quanto o primeiro foi bom.
3 – X-men da fase posterior à saída de John Byrne. Teve até alguns bons desenhistas, mas os roteiros eram um fiasco.
4 – Guerras Secretas, de Mike Zeck e (quem era mesmo o roteirista dessa bomba?). A história em si já era muito ruim. Tentaram fazer com o universo Marvel o que Crises havia feito na DC e o resultado foi catastrófico. Mas no Brasil a coisa foi pior ainda. Quando chegou no último capítulo, os editores brasileiros perceberam que o resto da cronologia dos personagens estava atrasada e resolveram refazer todo o último capítulo. E olhem que no capítulo anterior eles já tinham anunciado um pouco do que ia acontecer no último gibi!
5 – Beto Carrero. Sim, já houve HQ do Beto Carrero e, parece-me, era feita pelo Rodolfo Zalla. Eu já trabalhei com o Zalla e sei que ele era um cara que parou no tempo (ao contrário do Collonesse, que parece que melhora a cada história – quem dúvida dê uma olhada no Histórias de Guerra). O grande problema eram os roteiros. Sempre algum bandido atormentando uma cidadezinha, sempre chegava o Beto Carrero, vencia os bandidos e viviam felizes para sempre. Lembro que um leitor escreveu para lá reclamando que as histórias eram muito previsíveis. A resposta do editor é que, como a maioria das HQs eram imprevisíveis, com finais surpresa e reviravoltas, eles procuravam ser diferentes fazendo histórias previsíveis. Ah tá...
6 – A MORTE DO SUPER-HOMEM. Essa história mostrou a noção que a DC Comics tem de marketing: enganar o leitor. Marketing, na sua concepção original, é satisfazer as necessidades do consumidor, coisa que essa HQ passa longe de fazer. Um roteiro sem pé nem cabeça unido a um desenho fraco e uma morte que não era morte. Precisa de mais alguma coisa para entrar na lista?
7 – HERÓIS RENASCEM. Com o sucesso da Image, a Marvel resolveu reformular seus principais heróis, chamando os astros da Image. A versão do Capitão América por Rob Liefield foi tão ruim que eles tiveram que dar um pé na bunda no homem e chamar o brasileiro Bené Nacimento (Joe Bennett) e o inglês James Robinson para consertarem a lambança. Os dois fizeram histórias bem legais, considerando-se a situação.

sábado, dezembro 16, 2006

Conheci a Ceila Campos através de um artigo que escrevi para o Digestivo Cultural. Ela na época estava montando um site chamado Desabafo de Mãe. Por razões diversas, acabei não colaborando. Mas agora a Ceila me mandou um e-mail pedindo que indicasse alguma blogueira do Amapá que pudesse ser colaboradora do site. Se alguém quiser entrar nessa, deixe um recado.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Tese mostra papel dos quadrinhos na atividade cerebral

Há um ponto que une o Gazy Andraus desenhista com o Gazy Andraus pesquisador: a abordagem filosófica e mental dada aos quadrinhos. É papo cabeça, como se diz na gíria. Mas muito pertinente. Tão pertinente que virou tese na USP (Universidade de São Paulo), defendida nesta sexta-feira.

O agora doutor Gazy Andraus mostrou que o ensino acadêmico principalmente o universitário, coloca as imagens num segundo plano, toma como base um modelo estritamente racional.

Isso traria mudanças no comportamento cerebral. Desenvolveria mais o lado esquerdo do cérebro (mais lógico e racional) e menos o hemisfério direito (voltado à criação).

Segundo o pesquisador, os quadrinhos seriam o meio ideal para trazer um equilíbrio maior à atividade cerebral no meio científico, como sintetiza a ilustração ao lado.

"É por isso que as histórias em quadrinhos são o carro-chefe da minha tese", diz Gazy. "Se eu defendo que o ensino caduco tem que ser substituído por outro que abranja todas as funções das lateralidades cerebrais, os quadrinhos são, no mínimo, os ideais. Em cada história em quadrinhos há em geral uma junção entre os desenhos (ativando o hemisfério direito) e os textos contidos nos balões e nos recordatórios (que atiam o esquerdo). Há uma riqueza nessa fusão." Leia mais no Blog dos Quadrinhos.

Coincidências

Olha a coincidência. Sem querer, eu e a Alcinea Cavalcante acabamos fazendo uma blogagem coletiva. Eu publiquei um dicionário com expressões paraenses e a Alcinea publicou, no mesmo dia, um dicionário da linguagem amapaense.

Gonzo jornalismo


O nome mais importante do gonzo jornalismo é o norte-americano Hunter S. Thompson.
Na década de 70 ele foi mandado pela revista Rolling Stone para cobrir uma corrida de motos. Gastou todo o dinheiro que haviam lhe dado com drogas, carros, fez contas em hotéis e saiu sem pagar, arranjou problemas com a polícia e, para piorar, só chegou na corrida de motos quando esta já havia acabado. Ao invés de ser demitido, virou celebridade e acabou criando uma nova forma de fazer jornalismo: o gonzo. O batismo foi feito pelo repórter Bill Cardoso. Ao ver os textos de Hunter, ele comentou: Não sei o que está fazendo, mas você mudou tudo. Isso está totalmente gonzo.
Hunter continuou produzindo reportagens, sempre sob o lema: Quando as coisas ficam bizarras, os bizarros viram profissionais.
O gonzo, por suas próprias características, não é uma fórmula que possa ser aplicada a um texto. É muito mais uma atitude diante do mundo e do jornalismo.
É possível, no entanto, perceber algumas características no gonzo jornalismo.
A primeira delas é um ataque radical à teoria da objetividade jornalística.
Para os adeptos do gonzo, o discurso da objetividade quer criar confiança, convencer o leitor de que é isenta, livre de desejos, ideologias, medos e interesses de quem escreve.
Ou seja, a objetividade é um discurso de mascaramento da ideologia que permeia o jornalismo. Não interessa ao gonzo se essa ideologia é neo-liberal ou marxista. O importante é o princípio da objetividade serve para esconder o fato de que nenhuma linguagem é neutra.
O gonzo tira essa máscara e daí surge sua primeira característica formal: os textos são sempre escritos em primeira pessoa. O objetivo não é apenas narrar fatos, mas relatar a experiência de um determinado indivíduo com eles.
O fator de haver um mediador entre a experiência e o leitor é destacada, e não escondida.
O gonzo também quer ir contra a imagem que os jornalistas fazem de si mesmos, de sérios e respeitáveis (exemplo disso é o âncora da Record, Boris Casoy).
Tal imagem contribui para transformar o jornalismo em discurso autorizado. O jornal é a expressão da verdade, e não de uma verdade.
Em contraste, os gonzo-jornalistas não pretendem ser nem sérios nem respeitáveis.
A carta de princípios da irmandade Rauol Duke (pseudônimo utilizado por Hunter para evitar problemas com a polícia) nos diz que o repórter deve se envolver na história e alterar ao máximo os acontecimentos dentro da media do Impossível, de forma a transformá-la não em um mero RELATO do evento, mas sim em uma história ENGRAÇADA e CÁUSTICA.
Entretanto, a ficção pura e simples não serve ao gonzo. Ainda segundo a mesma carta, o conteúdo dos textos deve ser JORNALÍSTICO, ou seja: um fato precisa estar acontecendo necessariamente.
Para fazer jornalismo gonzo não é necessário procurar fatos bizarros. Aliás, o ideal é abordar fatos normais, banais, sob ponto de vista bizarro e pessoal.
Exemplos de jornalismo gonzo estão se tornando cada vez mais freqüentes na imprensa brasileira. Arthur Veríssimo, da revista Trip, foi o primeiro a celebrizar esse estilo no Brasil. Em uma de suas matérias mais antológicas, ele passou um dia como animador de festas infantis.
A revista Zero, lançada pelas editora Pool e Lester, também traz características gonzo.
O número de estréia trouxe uma matéria sobre as deusas-vivas do Nepal. O título e subtítulo deixam claro o distanciamento que a procura manter do jornalismo convencional: É DURO SER DEUSA - No Nepal, o dom divino já nasce com data de expiração. Luiz Cesar Pimentel passou uma tarde na casa de uma ex-deusa viva e mostra a realidade casca-grossa das divindades locais.
O texto é em primeira pessoa e não esconde o ponto de vista do repórter:
"Por mais que eu tenha me esforçado no parágrafo anterior para dar a real dimensão da discrepância de uma deusa dormir em um sofá-cama e possuir um vira-lata (que parece uma mistura de poodle com nada) como campainha, a cena para quem passa um período no país não é tão assombroso assim. No Nepal, todas as situações têm uma forte tendência ou a não funcionar ou a funcionar de um jeito totalmente estapafúrdio. E, como você deve imaginar, dá tudo certo no final. Ou quase".
Até mesmo a grande imprensa tem se rendido à bizarrice do jornalismo gonzo, embora de maneira mais comportada.
É na, até pouco tempo sisuda, revista Superinteressante que encontramos um exemplo típico de jornalismo gonzo.
Na matéria Puro Rock’n’roll, publicada na Superinteressante, número 8, ano 15 de agosto de 2001, o repórter Dagomir Marquezi se disfarçou de saxofonista do grupo Jota Quest e participou de show em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo. Como uma típica matéria gonzo, o jornalista também é personagem e o texto é em primeira pessoa:
"Não bastava tocar: um trio de metais que se preze também dança. Lembrava-me dos muitos shows de James Brown que assistira. Um passo para a direita, junta os pés. Um passo para a esquerda, junta os pés. Eu operava a coreografia e meus colegas de metais não se agüentavam de vontade de rir da minha picaretagem artística. O baixista PJ e o tecladista Márcio Buzelin, entre risadas disfarçadas, também faziam sinais de que estava me saindo bem".

Para ir além
CLARENC,Claudio A.. . Truman Capote: A sangre fría.
Disponível em: http://orbita.starmedia.com/~claudio157/Capote.htm
Truman Capote. In: Instituto Gutemberg.
Disponível em: http://www.igutenberg.org/newjorna.html
Bizarrice profissional: Ainda não entendeu o que é jornalismo gonzo?
Disponível em: http://www.eduf.com.br/gonzo.php?Tid=92
Desaforismos gonzológicos: Perguntas que você não teve a bobagem de fazer.
Disponível em: http://www.eduf.com.br/gonzo.php?Tid=37.
Ensaios de gonzologia: A ilusão de escrever em primeira pessoa.
Disponível em: http://www.eduf.com.br/gonzo.php?Tid=36
Gonzologia: Gonzo pode dar mais ao mundo do que somente jornalismo?
Disponível em: http://www.eduf.com.br/gonzo.php?Tid=35
O MANIFESTO GONZO.
Disponível em: http://planeta.terra.com.br/arte/familiadacoisa/IRD/filo.html

Compre livros sobre jornalismo no Submarino.

sábado, dezembro 09, 2006

Há algum tempo a professora Silvia Góes, da escola Prof. Thereza Siqueira Mendes, em Santa Fé do Sul, usou a série Mundo Dragão na aula de leitura com seus alunos. Eles ficaram tão empolgados com a história que acabaram criando seus próprios finais alternativos. Agora esses finais foram publicados pela Virtual Books. Confira o resultado.
Tenho observado as provas do ENAD, o antigo provão. As provas são feitas por especialistas do MEC nas diversas áreas das graduações. Em todas esssa provas, uma coisa em comum: o que se pede é uma visão ampla de mundo. Um aluno de administração deve saber de cinema, de literatura e até de quadrinhos. Eu já tinha falado sobre essa visão ampla de mundo quando comentei o programa O Aprendiz... a era dos especialistas, que sabiam apenas da sua área de atuação está no fim.
No meio do ano fui convidado a escrever um texto para o Digestivo Cultural sobre os 20 anos do disco Legião Urbana 2. Na época estava muito ocupado e acabei não colaborando, mas hoje me arrependo. Esse foi um dos discos que mais ouvi e algumas de minhas músicas prediletas, como Acrilic on canvas e Andrea Doria são desse disco. Para relembrar, coloco aqui a letra de Andrea Doria. Para quem não sabe, esse é o nome de um navio que naufragou. Uma metáfora interessante para falar de um relacionamento que acabou. Ah, fiquem atentos ao Digestivo. Em breve vai ao ar um artigo que escrevi sobre minha colaboração no site.

Andrea Doria
Composição: Renato Russo
Às vezes parecia que, de tanto acreditar
Em tudo que achávamos tão certo,
Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais:
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços de vidro.
Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente,
Quase parecendo te ferir.
Não queria te ver assim -
Quero a tua força como era antes.
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada.
Às vezes parecia que era só improvisar
E o mundo então seria um livro aberto,
Até chegar o dia em que tentamos ter demais,
Vendendo fácil o que não tinha preço.
Eu sei - é tudo sem sentido.
Quero ter alguém com quem conversar,
Alguém que depois não use o que eu disse
Contra mim.
Nada mais vai me ferir.
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada que eu segui
E com a minha própria lei.
Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais,como sei que tens também...

quinta-feira, dezembro 07, 2006


Para quem gosta de literatura, uma dica: O museu Edgar Alan Poe, em homenagem ao melhor escritor de todos os tempos.
Uma boa dica para quem gosta de marketing: um texto sobre merchandising, com os conceitos básicos.
Ontem inaugurou o supermercado Favorito. Passamos por lá para ver rapidamente e fiquei impressionado com o belo trabalho de marketing. Para começo, é possível visualizar as placas do supermercado a quase um quilômetro, vindo pela Santos Dumond. Lá dentro, um trabalho excelente de merchandising... e, para completar, uma promoção de inauguração interessante: os clientes que compravam acima de 100 reais podiam tentar fazer um gol num trave especialmente preparada no estacionamento. Se conseguissem ganhavam uma cesta de produtos...

... enquanto isso, outro supermercado da cidade resolveu descontinuar seu cartão fidelidade. Vá entender!

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Morreu Joacy Jamys


Joacy Jamys era um dos grandes batalhadores da história em quadrinhos nacionais, um cara que se destacava não só pelo talento, mas também por sem bem visto pelos mais variados artistas. Certa vez fui no Maranhão, onde ele morava e acabei não me encontrando com ele. Desde então a gente vivia trocando e-mails e marcando algo (ele pensava até em vir a Macapá). Reproduzo abaixo um texto de um amigo dele:

"Um grande amigo nos deixou. Joacy Jamys, quadrinhista, referência no meio alternativo sofreu um Acidente Vascular Cerebral no dia 04 de outubro. Os médicos que o atenderam, confirmaram, hoje, morte cerebral. Estamos todos imensamente tristes, pois Jamys é amigo muito querido. Um dos maiores batalhadores pela profissionalização dos quadrinhos no Maranhão, nos incentivava a todos para produzir e ele próprio era, para nós, grande inspiração. Produzia continuamente, divulgava os trabalhos dos artistas locais e estava montando um livro com sua toda a sua obra. Uma imensa quantidade de tiras, charges, cartuns, hq’s poemas, capas de cd’s, de livros, publicidade.... enfim. O homem era uma máquina (no bom sentido). Carioca de nascimento, Jamys nasceu em 09 de outubro de 1971. Mudou-se para o Maranhão ainda adolescente e ficou, encantado com as histórias, praias e mulheres de São Luís, onde fez sua base de lançamento de quadrinhos e idéias.
Vá em paz, amigo. Iramir Araujo"

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Pequeno dicionário das expressões paraoaras


Belém, como toda a Amazônia, é rica em tudo. Em bio-diversidade, em minérios, e até em expressões e lendas. O caso das expressões é particular porque eu acabei participando, direta ou indiretamente, da criação de algumas que se tornaram célebres. O que apresento a seguir é uma amostra de palavras e expressões relacionadas por mim e por Alan Noronha (algumas definições são dele). Tal dicionário pode ser útil, caso você tenha a temerária idéia de visitar Belém. Saber que égua não é xingamento pode ser tão útil quanto saber que, em Curitiba, salsicha é vina...
Égua - essa é, depois de deveras, a única palavra brasileira que pode ser usada em qualquer situação. Você pode usar égua para expressar dor, tristeza, alegria, admiração, espanto e até mesmo enfado. Se, por exemplo, passar pela sua frente uma morena jeitosa, você pode exclamar deliciado: “Égua!”. E não se preocupe que ela não vai achar que você está chamando-a de eqüina. Se, por outro lado, descer um disco voador no seu quintal, não pense duas vezes. Grite: “Égua!”.
Pai d´égua - é uma derivação do égua. Significa legal, bacana. Se um paraense gostar de você, vai dizer que é um cara pai d´égua. Sinta-se orgulhoso, pois você acaba de receber um grande elogio
- é o primo pobre do égua. Também pode ser usado em qualquer situação, mas não tem autonomia para constituir uma frase. Geralmente é usado para dar ênfase à frase: “Mas quando, já?”; “Mas maninho, tu já bebe...”.
Mofino - entristecido, quieto. Geralmente boladas no saco, foras da namorada e ônibus que não param (muito comuns em Belém) deixam o indivíduo mofino.
Noiado - redução de paranóico que, com o tempo, ganhou outras significações. Usa-se para designar um indivíduo neurótico, problemático. Você, por exemplo, pode estar mofino porque é um indivíduo noiado. Mas a experiência tem demonstrado que, assim como chifre, nóia é coisa que botam na sua cabeça.
Rolar o mal - jogar sinuca. Diz a lenda que um metaleiro que jogava sinuca soltava a cada dois segundos: “Pô, cara, muito mal”. Assim que ele saiu, os outros começaram a usar a expressão, por sarro, até que a expressão acabou se aplicando ao próprio jogo. Esse é um termo que surgiu num grupo de amigos meus e acabou se alastrando assustadoramente pela cidade. Estar em mal significa estar em situação de sinuca. Em Belém você pode convidar um amigo para rolar o mal, ao que ele vai responder, indignado: “Eu não. Você só gosta de deixar a gente em mal”.
Ah se eu te pego, te requebro, na cabeça do meu prego - cantada sutil e malevolente. Deve ser empregada no tom de voz adequado.
Pariceiro - colega, amigo. Pejorativo muito usado pelas mães em referência aos amigos do filho.
Pano de bunda - trouxa, mala. Normalmente usado pelas mães que querem expulsar os filhos de casa. Exemplo: “Você só vive com esses seus pariceiros! Pega os seus panos de bunda e vai morar com eles!”.
Teba - grande. Geralmente usado para aquilo. Comum a expressão “Olha a teba!”, com gesto indicativo do tamanho da coisa em questão.
Miúdo - pequeno, de pouco valor.
Graúdo - grande. Certa vez fui assaltado e o e ladrão, depois de examinar minha carteira, perguntou enfurecido: “Cadê o dinheiro graúdo?”. Eu só tinha dinheiro miúdo...
Rolar o chocolate - fazer amor. Essa expressão surgiu depois que passou no cinema o filme Como Água para Chocolate e chegou a ter uma certa popularidade. Atualmente foi substituído por comparecer. Há também quem use conhecer, no sentido bíblico.
Tocar piano - é o que você faz quando está com uma garota, mas não pode rolar o chocolate. Foi inspirada no filme O Piano. Talvez por causa da origem nobre, não chegou a ter ampla repercussão, embora fosse a expressão predileta de alguns alunos meus. Provavelmente porque eles ainda não haviam chegado na idade de rolar o chocolate.
Hermético - fechado, difícil. Palavra recuperada do português formal, de uso corrente em alguns bairros.
Leso - doido, abobalhado. Se, por exemplo, você tem oportunidade de rolar o chocolate com uma gatíssima, mas acaba só tocando piano, então você corre o risco de ser chamado de leso.
Broca - comida. Comendo uma broca, você deixa de estar brocado.
Cachorro-quente - a expressão não é pitoresca, mas o que ela representa sim. Belém é, provavelmente, o único local do Brasil onde o cachorro-quente é feito com carne-moída (chamada de picadinho). Em cada esquina de Belém há uma banca de cachorro-quente e essa é, pasmem, a razão pela qual a McDonalds demorou tanto a se instalar na cidade...