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Thorne rodeado pelas várias Sonjas. |
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Wendy Pini como Sonja |
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Thorne rodeado pelas várias Sonjas. |
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Wendy Pini como Sonja |
Se há um personagem subestimado na Marvel é o Homem-Coisa.
Ele foi criado na mesma época que o Monstro do Pântano e há quem diga que o
Monstro do Pântano é cópia dele (Gerry Conway, o criador do Homem-coisa dividia
apartamento com Len Wein, o criado do Mostro do Pântano e os dois conversavam
sobre as histórias que estava produzido, de modo que é quase impossível
determinar quem veio primeiro).
O personagem teve uma fase de sucesso nos anos 1970, mas nos
anos 80, época em que o Monstro do Pântano alcançava o estrelato nas mãos de Alan
Moore, sua contraparte na Marvel não tinha mais revista própria e sobrevivia
apenas fazendo aparições em conjunto com outros heróis da editora.
Exemplo disso é “Pelas mãos do destino”, crossover da
criatura dos pântanos com o Homem-aranha publicado em Marvel Team-Up 122.
Na trama, Iam Destino aparece no pântano. O personagem é um
jornalista cuja família foi assassinada por mafiosos e, para se vingar estudou
artes místicas a ponto de se tornar extremamente poderoso.
E ele resolve levar o Homem-coisa para Nova York e mais
especificamente para o Clarin Diário, aparentemente com o ituito de produzir
matérias positivas, que elevem a humanidade. Mas, uma vez no Clarin, o monstro
provoca reação de medo generalizada e sai do controle (o medo machuca o
Homem-coisa e, ao tocar em uma pessoa que sente medo, ele a mata).
É uma trama fraca e o plano de Destino não só não fazo menor
sentido. Da mesma forma, o leitor ainda fica sem entender qual a função do
Homem-coisa na trama.
Ainda assim, o texto de JM DeMatteis e o desenho competente
de Kerry Gammill conseguem dar verossimilhança à história. DeMatteis era um
especialista em humanizar os heróis da Marvel e consegue fazer isso mesmo com
um personagem irracional como o Homem-coisa.
No Brasil essa história foi publicada em Superaventuras
Marvel 50.
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Edgar Alan Poe antecipou a discussão sobre a psicologia das massas. |
Na década de 1970 Jack Kirby, o co-criador do universo Marvel, foi para a rival DC Comics com o status de astro pop. Tinha liberdade total para criar, editar, desenhar e escrever os títulos. Entre os vários gibis lançados por ele nesse período está o demônio Etrigan, que revolucionou o universo mágico da editora.
Mas, por trás da genialidade desses títulos, das grandes
ideias, e do desenho extremamente dinâmico de Kirby – cujo estilo influenciou
praticamente todos os artistas dos comics americanos posteriores – algo fazia
falta: um bom texto.
Os números 9 e 10 demonstram bem essa deficiência.
O número 9 começa com um conto isolado, que não tem nada a
ver com a saga de Fairfax e Galateia, a principal trama desses números.
Nesse conto é narrado como Etrigan evitou um ataque de demônios
a uma vila, na Idade Média.
A belíssima splash page de abertura traz um texto que
demonstra bem o estilo de textual de Jack Kirby, truncado como um carro andando
com o freio de mão levantado:
“Muitos anos depois da morte de Camelot e do desaparecimento
de Merlin, o feiticeiro do domínio dos homens, o triunfo do mal espalhou
escuridão e terror pelo mundo. Homens lutaram contra o poder da magia e
encolheram-se em cantos sombrios ante seu poder”.
Mesmo descontando alguma inabilidade do tradutor, é possível
perceber que falta fluência ao texto. Há frases sem sentido, como “feiticeiro
do domínio dos homens” e outras que simplesmente não funcionam, por serem
confusas, como “Homens lutaram contra o
poder da magia e encolheram-se em cantos sombrios ante seu poder”.
Segue-se uma impressionante página dupla, com Etrigan lutando
contra os demônios invocados pelo feiticeiro. O texto diz:
“Foi uma noite em que um mestre da magia fez uso de feitiços
antigos para comandar forças do impronunciável para que eles fizessem como
mandado e tomassem a cidade”.
Dá saudades da época em que a Abril cortava os textos
originais. Dava fácil para cortar um dos “ques”, da mesma forma que a expressão
“como mandado”. O texto ganharia fluência e ficaria menos truncado.
Depois desse pequeno conto, começa a história intitulada “O
que aconteceu com Farley Fairfax?!”, que começa com uma splash page, agora de
Jason Blood em primeiro plano segundo segurado por seus dois amigos. O texto,
confuso, repleto de orações subordinadas e com frases que não acabam diz:
“O demônio que viveu como Homem!!! De tempos em tempos ele
reaparece e se lança em ação em uma explosão de fúria cintilante! Mas aqui e
agora, em Gotham City, ele foi pego de surpresa e foi eliminado por sua
identidade mortal Jason Blood, que não podia mais viver à sombra de seu irmão
demoníaco, fez uso de feitiçaria ancestral e destruiu o demônio”.
A trama é interessante, sobre um ator que teve o rosto
arruinado por uma feiticeira e busca vingança sequestrando a namorada de Jason,
pois esta é, coinscidentemente, parecida com a feiticeira. Destaque para a sequência
em que Etrigan volta ao passado, na edição 10, para reviver o momento em que a
feiticeira invoca um demônio em pleno palco, para surpresa da plateia, que
acredita que se trata de parte do espetáculo.
A cada cinco páginas, Kirby traz uma belíssima e
impressionante splas page, mas que tem também os terríveis textos de abertura.
Os textos menos confusos são aqueles quem Kirby conta aquilo
que seu desenho já está mostrando: “Então as pedras das paredes se soltam sobre
Jason...” “A mão direita do demônio gesticula ritualisticamente, varrendo o ar.
Então, chamas demoníacas saem de seus dedos”.
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"Morram! Morram!" |
Os diálogos são puramente expositivos. Não há, por exemplo,
maneiras diferentes de falar entre os vários personagens ou demonstração de
emoção: “Detenham-no! Ele não pode nos vencer quando a vitória está em nossas
mãos!” “Morram! Morram!”. Não há personalidade nos diálogos.
Aliás, houve uma tentativa de Kirby de imprimir uma fala própria ao demônio. Em sua primeira aparição ele rimava, mas essa característica foi logo esquecida. Quem fez da rima uma característica do personagem foi Len Wein, em 1984, da revista DC Comics Presents 66.
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Etrigan só passou a ser um demônio rimador com Len Wein. |
Pouco depois, Alan Moore usou o personagem em Saga of the Swamp Thing 27 e consolidou essa característica de Etrigan ser um demônio rimador (posteriormente, em Monstro do Pântano, apareceria toda uma legião de demônios rimadores à qual Etrigan pertence). Ou seja, a característica textual mais conhecida de Etrigan foi estabelecida por outros escritores, posteriores a Kirby.
É de se perguntar o que aconteceria se o título fosse editado
por outra pessoa e os diálogos e textos ficassem a cargo de alguém que escrevia
bem. O conceito era impressionante, assim como a arte de Kirby. Talvez a
revista não tivesse durado apenas 16 números.