domingo, junho 04, 2023

Fundo do baú - Manda-chuva


Manda-chuva é uma série de animação da Hanna-Barbera exibida originalmente entre 1961 e 1962, num total de 30 episódios.

A série tem como personagens um grupo de gatos no beco Hoagie, em Nova York (no Brasil, os tradutores colocaram as histórias se passando em Brasília).

Manda-chuva é um típico malandro, que só pensa em tirar vantagens das situações. Abertura dava o tom da série ao mostrá-lo andando numa limusine (na verdade, ele estava no para-lamas do carro), entrando num restaurante chique e se servindo da marmita de um trabalhador. A letra dizia: “Chegou O Manda-Chuva o tal, é O chefe, o maioral, malandro como ninguém Mas com pinta de ‘gente-bem”".

Manda-chuva usa frequentemente um telefone num poste que deveria ser de uso exclusivo da polícia, serve-se do leite deixado na frente das casas e lê os jornais que os jornaleiros jogam nos quintais.

Além de Manda-chuva, o grupo tinha batatinha, um simpático gordinho, Gênio, um gato tristonho pouco inteligente, Bacana, o galã do grupo, com seu cachecol francês, sempre tentando conquistar as gatinhas que encontra, Xuxu, um gato oriental que está sempre com as mãos nas costas e Espeto, que na versão brasileira virou nordestino e tem como bordão o famoso “Ó xente, Manda-chuva”.

Os episódios geralmente giravam em torno de algum plano mirabolante de Manda-chuva e as tentativas do Guarda Belo de deter os malandros.

A mulher hiper-real

 


Observe a mulher acima. Parece perfeita mais é mais do é isso. É uma mulher hiper-real. Ela não envelhece, não tem rugas, não tem celulite, não tem estrias. Jamais estará doente ou indisposta. Trata-se de uma boneca de silicone. Até há pouco tempo, era uma curiosidade entre pesquisadores de hiper-realidade e pós-humanide, um produto para poucos, caro e difícil de encontrar. Hoje em dia o produto é ainda mais perfeito do que era há alguns poucos anos e pode ser encontrado com facilidade em sites como Ali Express por preços que variam de 2 a 5 mil reais.

A mulher acima é reflexo direto de um mundo hiper-real em que as ficção, coisas criadas pelo homem, parecem mais reais do que sua contrapartes naturais. Sua perfeição levanta questões sobre a que ponto essa hiper-realidade poderá chegar e até que ponto ela já domina nossas vidas.

Alguns poderiam dizer que a boneca tem dois defeitos: não fala e não se move, o que é verdade.

Mas atualmente, programas de Inteligência Artificial já podem ser facilmente encontrados a preços populares em produtos como o Eco Doth, da Amazon, uma caixa de som que não só toca músicas, mas acende luzes, liga a TV e fala com o usuário (experimente dizer que é seu aniversário e ela cantará parabéns para você; experimente dizer que está com saudade e ela responderá: “Vamos matar essa saudade ouvindo um pouco de música?”). Já existem algumas sendo vendidas com essa tecnologia e não falta muito para que ela se popularize e todas as bonecas do tipo tenha esse tipo de tecnologia.

Por outro lado, pesquisadores têm desenvolvido robôs que se movimentam de forma cada vez mais parecida com a de um ser humano. Também não demorará a essa tecnologia ser incorporada a essas bonecas.

Quando tais bonecas tiverem inteligência artificial e forem capazes de se movimentarem, será difícil distingui-las de um ser humano, exceto por um fato: elas serão mais perfeitas do que qualquer ser humano jamais será.

Uma história curiosa sobre o pseudônimo Gian Danton

 


Algo que nunca contei sobre meu pseudônimo é que meu nome era para ser Gian Carlo (um nome muito comum na Itália). Alguns dias antes do parto, minha mãe mudou o primeiro nome para Ivan e ficou Ivan Carlo. 
Dezenove anos depois, quando precisei escolher um pseudônimo, escolhi Gian em homenagem ao Gian Lorenzo Bernini. E eu não sabia que era para ter sido esse o meu nome de batismo. Só fiquei sabendo 20 anos depois, quando minha mãe finalmente se lembrou de me contar a história.

Os herdeiros da terra

 


A série espanhola A catedral do mar foi uma surpresa da Netflix. Lançada sem muito alarde, foi aos poucos conquistando fãs e se tornou uma das mais populares da plataforma. E agora gerou uma série derivada: Os herdeiros da terra, também baseada em um livro de Idelfonso Falcones.

A história se passa após o final de A catedral do mar e é centrada em um protegido de Arnau Estanyol (o protagonista da série anterior), chamado Hugo Llor.

A vida de Hugo é uma drama com D maiúsculo. A série já inicia com a morte do pai, vítima de um naufrágio. A morte do pai faz com que a família caía na miséria absoluta a ponto de não terem sequer dinheiro para comida. Como forma de resolver a situação, a mãe é colocada como criada numa casa na qual não deixam que ela veja os filhos e a irmã de Hugo é colocada num convento (no qual permanece enclausurada). Hugo recebe um posto de ajudante num estaleiro.

Mas a morte do pai é apenas a primeira das muitas desgraças. Quando o rei morre, seu filho assume e Arnau Estanyol, até então um respeitável membro da burguesia de Barcelona, cai em desgraça. Hugo é o único que o defende e por isso é linchado, tendo que se abrigar entre os judeus, com os quais aprende a cultivar uvas, tornando-se um dos mais importantes enólogos da região.

Hugo Llor ressuscita o papel que tinha sido de Arnau em A catedral do mar: a do homem bondoso, que sofre os maiores reveses, mas não perde a sua humanidade. É um herói diferente do que estamos aconstumados, que não resolve conflitos com lutas, mas com sua força de vontade.

A série conta com a mesma equipe de A catedral do mar, o que garante uma direção acertada, mas lenta. Isso poderia fazer o seriado se tornar arrastado se não fosse o roteiro extremamente dinâmico em que os fatos acontecem com uma rapidez incrível. A quantidade de reviravoltas num único capítulo é impressionante. 

Making of do Astronauta de Gian Danton e JJ Marreiro

 

Um dos meus trabalhos mais conhecidos e elogiados foi a versão do Astronauta publicada no álbum MSP + 50, em homenagem aos 50 anos de carreira de Maurício de Sousa. 
O processo de produção envolveu três roteiros até que chegássemos à história ideal para o traço de Marreiro. 
Ao começarmos a discutir nossa história, concluímos que o ideal seria algo que remetesse aos clássicos da FC, tanto nos quadrinhos quanto na literatura pop, quanto nos seriados. Assim, nosso Astronauta deveria ser uma mistura de Perry  Rhodan, Jornada nas Estrelas e Flash Gordon. Abaixo, alguns dos estudos do JJ para o visual da hístória:




O JJ começou pelas armas. Embora o visual estivesse legal, eu pedi que ele não usasse uma arma, pois ela não se encaixaria no personagem criado pelo Maurício.
O visual da nave passou por várias versões, mas acabou sendo definido como uma homenagem às naves da série alemã Perry Rhodan, do qual sou fã.

Foram feitas três versões do roteiro (chamadas de tratamento). Numa das primeiras versões, o herói chegava a um planeta que mostrava uma versão alienígena dos principais personagens da Turma da Mônica. As tiras abaixo são dessa primeira versão.

Tom Strong - nos confins do mundo

 

 

O último volume da série Tom Strong volta a trazer roteiristas e artistas convidados (com a volta de Alan Moore na última história). O grande destaque sem dúvida é a participação de Michael Moorcock, famoso escritor de fantasia, criador do personagem Elric. 
Moorcock coloca o herói em uma história de piratas dimensionais. Há várias referências aí: o investigador metatemporal que contata Tom Strong é nitidamente uma referência ao Dr. Who e o vilão da história parece ter saído diretamente Melniboné (a ilha de Elric). O desenho de Jerry Ordway se encaixa perfeitamente na narrativa, com um traço mais sujo que a média da seríe.

 Steve Moore constrói uma HQ explorando os elementos pulp fiction do personagem. Joe Casey escreve uma história em que Pneuman começa a assumir comportamento estranho para um robô e Peter Hogan costura uma ponta solta da série.
E, claro, temos a volta de Alan Moore, na última história, interligada com a saga final de Promethea. Alan Moore é Alan Moore, de modo que mesmo que as outras histórias sejam boas, esta é um salto de qualidade no texto, a ponto de tornar interessante uma HQ em que nenhuma ação de fato acontece (embora o final nos reserve uma grande virada).

O imperador de Nova York

 


Revoltas de robôs são um tema básico da ficção-científica. Claro que uma série tão ampla como Perry Rhodan deveria em algum momento abordar o assunto. É o que acontece em O imperador de Nova York, número 31 da série, escrito por W.H. Shols.

Na história, os saltadores – adversários que haviam surgido no número 28, Cilada Cósmica – reprogramam os robôs da terceira potência, fazendo com que eles se revoltem contra os humanos. Isso cria uma dificuldade a mais numa situação que já tinha duas outras frentes de batalha (a batalha contra a frota dos saltadores e a batalha no planeta gelado), o que demonstra a competência do organizador da série àquela altura, K. H. Scheer.

Shols, o autor deste volume, tem o irritante hábito de abusar de frases nominais, algo que se repete à exaustão no volume, a começar pelo início do (“Uma transição no hiperespaço”), mas, quando não está insistindo nesse cacoete, escreve bem e sabe trabalhar com o suspense, como no trecho:

- Foi um serviço excelente – disse Rhodan, elogiando o capitão. Faltou alguns segundos antes da hora. No mesmo instante veio a reviravolta.

Shols reforça que aquela é uma ameaça que deixa até mesmo Rhodan receoso. Mas no final, os terranos conseguem debelar a rebelião dos robôs e o leitor não entende exatamente como isso aconteceu, até porque são muitas frentes de batalha e nem todas são abordadas. À certa altura, Rhodan consegue capturar um dos robôs rebelados. A impressão que se tem é de que ele usará aquele para descobrir uma maneira de reprogramar os outros robôs, mas isso não acontece.

A capa original alemã. 


É curioso hoje observar como os escritores daquela época  -  início dos anos 60 – imaginavam o futuro. O que causa mais estranhesa é o momento em que Rhodan precisa introduzir informações no computador e faz isso com cartões perfurados. Os caras imaginaram naves de um quilômetro de diâmetro com uma tecnologia super-avançada, mas não conseguiram pensar nas utilidades de um teclado.

Em tempo: o título O imperador de Nova York se refere a um robô que se auto-denomina imperador (depois se descobre que pelo menos uma dúzia de outros robôs fizera o mesmo). Como o assunto não é muito explorado, a impressão que fica é de que o autor pensou primeiro num título de impacto e depois adaptou o livro a ele.

sábado, junho 03, 2023

O uivo da górgona mistura zumbis e crítica social

 


Um som se espalha pela cidade (ou pelo estado, ou pelo país, ou pelo mundo?). Um som que ouvido transforma as pessoas em seres irracionais cujo único o objetivo são os instintos básicos de violência e fome. É o uivo da Górgona.
Acompanhe a história dos sobreviventes neste livro de terror, uma história de zumbis diferente, em que qualquer um pode se transformar, bastando para isso ouvir o terrível uivo da górgona.
Escrito em capítulos curtos, o livro transforma o suspense em elemento de fantasia, prendendo o leitor da primeira à última página. 
Valor: 25 reais. 
Pedidos: profivancarlo@gmail.com. 

Livro Jornalismo em Quadrinhos

 

Em Jornalismo em Quadrinhos, Gian Danton não apenas traça um histórico dessa área, mas também analisa as principais obras publicadas no Brasil e no mundo. Além do conteúdo servir como uma generosa introdução ao tema, o autor ainda traz os bastidores de diversas produções de Jornalismo em Quadrinhos feitas por ele mesmo.

Valor: 25 reais (frete incluso)

Pedidos: profivancarlo@gmail.com 

A arte clássica de Alex Raymond

 

Alex Raymond foi o homem que revolucionou os quadrinhos de aventura. Seu personagem Flash Gordon foi tão popular que serviu de inspiração até mesmo para Star Wars. Seu traço clássico serviu de inspiração para milhares de artistas e, durante muito, tornou-se um paradigma da ficção científica nos quadrinhos. Confira abaixo algumas de suas artes espetaculares.











Será que ele é?

 


Ali pelo início dos anos 90 eu fiz teatro. A principal motivação é que eu era extremamente tímido, um defeito terrível para quem queria ser professor e jornalista.

Bem, todo mundo sabe a grande quantidade de homossexuais no teatro e no grupo que participei não era diferente. Mas sempre me respeitaram e eu sempre respeitei eles, de modo que a convivência sempre foi pacífica.

Mas no grupo havia dois rapazes extremamente homofóbicos, do tipo que não perde uma única oportunidade de fazer piadas com gays. Isso era tão exacerbado que começou a chamar atenção.

Certa vez o grupo foi se apresentar num local que tinha praia e, claro, foram aproveitar e tomar um banho de mar. Os dois homofóbicos não quiseram ir para não se misturarem com os “gays e lésbicas” do grupo.

Eu estava em prova na faculdade e não pude ir. Mas depois soube do que aconteceu.

Quando o grupo voltou da praia encontrou os dois rapazes... bem... como posso dizer? Engatados foi a palavra que usaram. Os dois estavam engatados. Ficaram tão envergonhados que depois simplesmente sumiram.

A partir daí, toda vez que eu vejo alguém homofóbico, imediatamente penso: “Esse aí é”.

Conto Zen - O tigre e o morango

 


Certa vez um homem andava pela floresta quando foi perseguido por um tigre faminto. Sem outra opção, ele se agarrou a um arbusto e se pendurou num abismo na tentativa de escapar da fera. Quando olhou para baixo, percebeu que havia um outro tigre lá embaixo.

Ou seja: se a queda não o matasse, o felino o faria.

Mas o arbusto não era forte o bastante e a raiz começou a se desprender do solo. Além disso, dois ratos começam a roer a raíz.

A morte era certa.

Nisso, ele olhou para o lado e um viu morango crescendo na parede do penhasco. Largando uma das mãos, ele pegou o morango e comeu.

Foi o morango mais delicioso que ele já comera em toda a sua vida.   

Esse é uma das histórias mais famosas do zen-budismo. Ela reflete sobre assuntos essenciais: o homem pendurado no penhasco, à beira da morte representa todos nós, que em algum momento iremos morrer. Afinal, ninguém é imortal, a morte é inevitável.

Mas sua atitude é extremamente sábia. Ele percebe que a única forma de lidar com isso é viver o momento. Comer o morango representa isso, aproveitar o aqui e agora ao invés de nos preocuparmos com o passado ou o futuro. Isso é chamado no budismo de atenção plena.

Por outro lado, a certeza da morte, da transitoriedade da vida, faz com que cada momento seja especial. Talvez, se saboreasse a fruta em qualquer outra situação, o homem não se espantasse com seu sabor, mas ali, prestes a despencar no abismo, o sabor se torna inigualável. Como dizia Raul Seixas: “Morte morte morte que talvez seja o segredo dessa vida”.

Invencível

 

Parece que a Amazon Prime resolveu investir pesado em super-heróis. Depois da série de sucesso The Boys, baseada nos quadrinhos de Garth Ennis, a plataforma traz Invencível, uma animação baseada nos quadrinhos de Robert Kirkman, criador de Walking Dead.

O fato de se tratar de uma animação pode dar a entender que Invencível seja uma série menor em termos de ousadia, afinal, existe o preconceito de que animações são para crianças.

Não é o caso.

Invencível é uma animação para adultos. É violento, complexo e principalmente desruptivo. Logo no primeiro episódio fica claro que por trás dos uniformes coloridos se escondem segredos obscuros, traições e até indivíduos mau-caráter.

A história é focada em Mark Grayson, um adolescente norte-americano aparentemente comum. Mas ele é filho do Omini-man, um poderoso super-herói alienígena. Quando Grayson sai da adolescência, seus poderes aparecem e ele precisa lidar com super-vilões e, ao mesmo tempo, com os problemas da adolescência, como o namoro.

Mas há algo mais: os principais heróis do planeta, os Guardiões Globais, foram mortos e tudo leva a crer que o responsável é Omini-man.

Em pelo menos um sentido, Invencível é melhor que The Boys: como a animação não exige recursos adicionais, o roteiro pode viajar mais, a ponto do personagem ir, por exemplo, para Marte. E isso é muito bem aproveitado para criar diversos ganchos.

Enfim, Invencível é uma dica para quem gosta de super-heróis, mas está cansado do lugar-comum.

Thor contra Mr. Hide

 


Depois de uma sequência deplorável de histórias, o personagem Thor começou a pegar o ritimo em Journey into Mystery 99.

Embora Jack Kirby não tivesse voltado ainda ao título, Stan Lee estava de volta aos roteiros, com desenhos de Don Heck. O vilão da história era Mr. Hide, em sua primeira aparição. Heck não tinha a grandiosidade de um kirby, mas seu traço hachureado funcionou bem na história, dando um tom sombrio ao vilão.

A origem de Mr. Hide: de golpista a gênio da química. 


A origem de Mr. Hide é simplória. Ele vivia de dar golpes em consultórios, conseguindo a confiança dos médicos para depois roubá-los, e tenta esse golpe com Don Blake. Mas o médico manco já recebera informações sobre ele e o dispensa. O que um golpista desses faria? Provavelmente mudaria de cidade, mas essa é uma história da Marvel e ele simplesmente resolve fazer uma fórmula inspirada no livro O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson.

De fato, ele consegue sucesso: sua fórmula o transforma num monstro com a força de doze homens. Não sei como os leitores da época reagira a isso, mas eu pensei: se o indivíduo tem inteligência para criar uma fórmula dessas, por que ele simplesmente não trabalha como químico e ganha muito dinheiro desenvolvendo fórmulas para a indústria? Mas parece que Mr. Hide não gosta de trabalho honesto.



Suspense: Don Blake vai se espatifar no chão antes de se transformar no Thor? 


Uma vez transformado em monstro, ele resolve se vingar do médico que lhe recusou emprego, o que gera uma boa sequência de suspense que lembra muito os matinês (para quem não sabe, os matinês eram seriados, muitos com personagens de quadrinhos, que passavam no cinema e sempre terminavam numa situação de suspense para forçar a pessoa a assistir na semana seguinte): o vilão joga Don Blake do prédio. Se é imortal como Thor, como don blake o protagonista é perfeitamente mortal e pode se esborrachar no chão como qualquer pessoa. Claro que tudo se resolve com surpreendente facilidade.

A história se alongou para o número 100 da revista (sinal de que Stan Lee já estava pensando em tramas maiores) e mais uma vez apresenta situações curiosas.

Supostamente blake foi salvo pelo Thor, de modo que Mr. Hide resolve sequestrá-lo junto com Jane Foster. Ele amarra o médico num mastro, arma uma bomba e diz que ela explodirá caso aconteça algo com ele. Isso gera outra situação de suspense, pois Blake precisa alcançar seu cajado para se transformar no deus do trovão, mas gera também um jogo de erros. Achando que a derrota de Hide irá provocar a morte do seu amado, Jane Foster simplesmente esconde o martelo de Thor. Como o herói volta a ser o médico fraco e manco depois e 60 segundos longe de seu martelo, a situação faz com que ele fique em perigo.

Jane Foster esconde o martelo achando que assim está salvando seu amado. 


Aliás, Stan Lee usava muito bem esse recurso dos 60 segundos longe do martelo como forma de contrabalancear conflitos com vilões que eram nitidamente menos poderosos – mais à frente, quando Jack Kirby voltasse para o título, Thor enfrentaria ameaças realmente ameaçadoras.

Uma curiosidade na história é o trecho em que Hide fala com o médico: “Você representa tudo aquilo que eu odeio, Blake! É honesto, trabalhador, bem-sucedido... enquanto eu... sou o mal personificado!”. Na década de 60, mesmo na Marvel, era comum isso de vilões que se consideravam vilões. Todos nós sabemos que os vilões mais perigosos são justamente aqueles que se consideram heróis.

Perry Rhodan 55 – A sombra do Supercrânio



O segundo ciclo da série Perry Rhodan passou a focar principalmente nas tramas de espionagem e o volume que deixou isso absolutamente claro foi o número 55, A sombra do Supercrânio. Escrito por Kurt Brand, o livro foca em alerta de perigo emitido por um dos mutantes colocados como espiões nos muitos mundos do império arcônida. Antes de morrer ele envia para uma nave a mensagem: “Três toques de sino”, que significa uma ameaça extrema à Terra.

Para investigar o caso, Perry Rhodan envia outro mutante, o telepata Fellmer Lloyd, que ingressa no planeta Volat com a incumbência de descobrir qual é essa ameaça.

Apesar de algumas boas sequências de ação e suspense, em especial no início, esse é um volume morno, nitidamente de preparação de uma trama maior. Kurt Brand também não é um escritor de destaque, o que faz com que a história pareça muitas vezes estar se desenvolvendo na marcha ré. Há um momento, por exemplo, que Fellmer cria um grupo para invadir um prédio, grupo que é simplesmente eliminado sem mais nem menos e aparentemente sem consequências (vale destacar que embora cada autor recebesse um resumo do volume que ia escrever, havia muita liberdade para colocar mais elementos na trama).

Assim, o capítulo mais interessante do livro é quando Fellmer entra na selva e encontra a cidade dos volatenses, os habitantes originais do planeta. Os mesmos são insetos dotados de inteligência. Brand faz uma boa descrição de sua cultura e sua forma de organização social.

Assim por exemplo, “O centro da cidade era formado por uma gigantesca praça na qual se via uma construção em forma de favos, que sobressaía em meio às outras como se fosse um monumento”. As mulheres eram do tamanho dos machos, mas apresentavam um aspecto mais delicado e gracioso: “Suas antenas tinham quase o dobro do comprimento das dos homens, e eram muito mais robustas; e seus impulsos mentais chegavam a Lloyd com o dobro da intensidade”.

A sociedade era dominada pelas fêmeas, de modo que os machos não exerciam qualquer influência na vida pública ou privada. Mas, de três em três anos, a inquietação se apossava de todos os volatenses adultos, e então todas as diferenças se apagavam. Todos eram iguais”.

sexta-feira, junho 02, 2023

Fundo do baú - Ouro vivo e Faro fino

 


Olho Vivo e Faro Fino (Snooper and Blabber) são uma dupla de gato e rato detetives. Os personagens estrearam um desenho animado lançado pela Hanna-Barbera em 1959.

Olho vivo é o gato e Faro fino o rato. Os dois usam sobretudo no estilo dos usados por Humphrey Bogart nos filmes noir, mas Olho vivo usa um chapéu no estilo de Sherlock Holmes.

Os dois tinham um escritório de detetive, mas passavam a maior parte do tempo perseguindo bandidos.

Com tais prioridades, não admira que eles vivessem afundados em dívidas, como revela um dos episódios. Olho vivo lê o jornal e pergunta ao amigo:

- Adivinha quem voltou?

- Aquele cobrador da companhia de finanças?, aposta Faro Fino.

Não, quem tinha voltado era o maior ladrão de lojas, um transformista, capaz de se fazer passar por qualquer pessoa. Essa característica faz com que surjam diversas confusões, como o ladrão se fazendo passar por Olho Vivo e provocando a prisão do gato.

O desenho teve três temporadas, durando 45 episódios.  

Tom´s Bar

 

Ivo Milazzo e Giancarlo Berardi conquistaram uma fiel legião de fãs brasileiros com o personagem Ken Parker. Lançado aqui no início dos anos 80 pela editora Vecchi, Parker se destacava por ser um herói humano em uma época em que todos os caubóis dos quadrinhos eram estereotipados. O personagem foi publicado por várias outras editoras, inclusive a Mythos, que fechou a série recentemente, publicado a última aventura do chamado "Rifle Comprido". Agora a dupla de autores está de volta com Tom's Bar, editado pela Opera Graphica.

Em Tom's Bar o ambiente é a Chicago dos anos 40. O personagem principal é o Tom do título, um homem já idoso, que guarda segredos sobre seu passado.

O álbum reúne quatro histórias envolvendo Tom e o Bar. Parece monótono, mas não é. Berardi quer nos mostrar que por trás de um homem e um ambiente simples, sem glamour, há grandes histórias.

O primeiro conto, "Quase Sempre" é uma introdução e uma declaração de princípios. Um jornalista visita o bar e reclama de que já não há mais fatos interessantes para os jornais: "Devia aparecer outro Al Capone para aumentar a tiragem". Tom concorda: "É, bons tempos aqueles!".

Enquanto o jornalista toma um drinque, Tom sem que o último veja, se resolve com um gangster que veio cobrar proteção.

Ou seja: os fatos interessantes, assim como as pessoas interessantes, estão debaixo de nossos narizes. Basta ter olhos para ver.



Tom não é um herói bidimensional. Tem coração, mas também tem contradições. Ao mesmo tempo em que vende armas, evita que um garoto se envolva no mundo do crime.

Ler Tom's Bar é como ver um fractal (figura geométrica que representa fenômenos caóticos): à medida em que nos aprofundamos nos personagens, eles nos revelam novas complexidades.

Além do texto de Berardi, vale destacar a arte de Milazzo. Toda realizada, em aguada, a história é um colírio para os olhos cansados de ver histórias pintadas em computador.

A aguada é feita de nanquim misturado com água. Dá um efeito semelhante ao da aquarela, mas em preto e branco. É uma arte perdida. Com a popularização da impressão em cores e a difusão dos computadores, poucos artistas da atualidade sequer sabem o que é uma aguada. Milazzo sabe, e muito bem.

A técnica usada nos desenhos não é gratuita. A aguada dá à história um toque nostálgico de filme noir dos anos 40. Além disso, as angulações usadas por Milazzo também são muito cinematográficas.

Tom's Bar é um álbum indispensável para que gosta de quadrinhos, mas já está cansado de heróis com cuecas do lado de fora das calças.

A noite do jogo

 


A noite do jogo conta a história de um casal apaixonado por jogos. Eles se conheceram em um jogo, o pedido de casamento foi feito durante um jogo – e o casamento foi um jogo. Mas um dia, quando o marido recebe o convite de seu irmão para participar de um jogo em sua casa, tudo sai errado. O que era para ser apenas um jogo encenado se transforma em um sequestro de verdade – ou não?
É essa dubiedade entre jogo e realidade que permeia A noite do Jogo.
A premissa poderia gerar um belo suspense policial – ou um filme que discutisse as fronteiras entre realidade e ficção no mundo atual.
Mas não era esse o objetivo dos produtores. Desde a primeira cena sabemos que se trata de uma comédia de erros e que todas as situações serão usadas para causar humor – como na cena em que o dono da casa está sendo de fato sequestrado e luta contra seus sequestradores e os demais se deliciam com um queijo e comentam o realismo da encenação.
A noite do jogo é um filme descompromissa cujo objetivo é arrancar risadas – e isso conseguem. Direção-roteiro e atuações formam uma perfeita engrenagem cômica.