segunda-feira, dezembro 09, 2024

Homem vs abelha – a batalha

 

 

Um homem tentando a todo custo matar uma abelha. Parece impossível transformar isso num filme ou numa série. Mas é isso que Rowan Atkinson, famoso pelo personagem Mr. Bean, consegue em Homem x abelha – a batalha.

O filme, escrito por William Davies e dirigido David Kerr, conta a história de um homem contratado para cuidar de uma mansão cheia de obras de arte e carros valiosos enquanto os donos viajam.

Nesse meio tempo aparece uma abelha e, na tentativa de se livar dela, o homem bota fogo na casa, quase mata o cachorro do casal e destrói o carro mais valioso da garagem. No entremeio, danifica várias obras de artistas famosos.  

Como sabemos, Rowan Atkinson é um ótimo ator, especializado em usar a linguagem corporal para provocar risos e é exatamente isso que ocorre aqui. A maioria das cenas não arrancaria um sorriso se fosse interpretada por outro ator. O roteiro, por outro lado, consegue segurar a premissa, criando uma trama em que as coisas que parecem complicadas e vão se tornando mais complicadas a cada sequência.

O aspecto negativo é que o filme foi dividido em nove capítulos e transformado em série (sim, a ideia original era um filme), provavelmente por conta dos algoritmos da Netflix, que privilegiam produções que são maratonadas. Assim, uma série com nove capítulos de 10 minutos acaba ganhando mais visilidade que um filme de duas horas. Esssa divisão quebra a narrativa, mas nada que comprometa a diversão.

Homem-coisa - pelas mãos do destino

 


 

Se há um personagem subestimado na Marvel é o Homem-Coisa. Ele foi criado na mesma época que o Monstro do Pântano e há quem diga que o Monstro do Pântano é cópia dele (Gerry Conway, o criador do Homem-coisa dividia apartamento com Len Wein, o criado do Mostro do Pântano e os dois conversavam sobre as histórias que estava produzido, de modo que é quase impossível determinar quem veio primeiro).

O personagem teve uma fase de sucesso nos anos 1970, mas nos anos 80, época em que o Monstro do Pântano alcançava o estrelato nas mãos de Alan Moore, sua contraparte na Marvel não tinha mais revista própria e sobrevivia apenas fazendo aparições em conjunto com outros heróis da editora.

Exemplo disso é “Pelas mãos do destino”, crossover da criatura dos pântanos com o Homem-aranha publicado em Marvel Team-Up 122.


Na trama, Iam Destino aparece no pântano. O personagem é um jornalista cuja família foi assassinada por mafiosos e, para se vingar estudou artes místicas a ponto de se tornar extremamente poderoso.  

E ele resolve levar o Homem-coisa para Nova York e mais especificamente para o Clarin Diário, aparentemente com o ituito de produzir matérias positivas, que elevem a humanidade. Mas, uma vez no Clarin, o monstro provoca reação de medo generalizada e sai do controle (o medo machuca o Homem-coisa e, ao tocar em uma pessoa que sente medo, ele a mata).

É uma trama fraca e o plano de Destino não só não fazo menor sentido. Da mesma forma, o leitor ainda fica sem entender qual a função do Homem-coisa na trama.

Ainda assim, o texto de JM DeMatteis e o desenho competente de Kerry Gammill conseguem dar verossimilhança à história. DeMatteis era um especialista em humanizar os heróis da Marvel e consegue fazer isso mesmo com um personagem irracional como o Homem-coisa.

No Brasil essa história foi publicada em Superaventuras Marvel 50.

A teoria hipodérmica da mídia

 


A teoria hipodérmica surgiu no início do século XX, com forte influência da psicologia comportamental. Foi a primeira tentativa de explicar os efeitos dos Meios de Comunicação de Massa sobre a sociedade.
Amparada nos exemplos do uso da propaganda por regimes totalitários e pelo pânico provocado pela transmissão radiofônica do romance A Guerra dos Mundos, de H.G. Wells, dirigida por Orson Welles, esse modelo comunicacional via a mídia como uma agulha que injetava seus conteúdos no receptor sem qualquer tipo de barreira, criando um estímulo que provocava uma resposta imediata e positiva por parte dos receptores, vistos como atomizados e idiotizados.
Sua influência sobre os estudos a respeito da comunicação massiva foi enorme, o que alimentou a imaginação popular com a ideia de que a mídia tem um poder absoluto sobre sua audiência.
A teoria hipodérmica (ou da bala mágica, como também é conhecida) influenciou até mesmo um subgênero da ficção-científica, as distopias. Em obras como 1984, de George Orwell, Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, e Admirável mundo novo, de Adous Huxley, a televisão, o cinema e outras mídias são usados para massificar e idiotizar os indivíduos, tirando-lhes a capacidade crítica.
Na experiência de Pavlov, o cachorro passa a salivar mesmo sem a comida, apenas com o estímulo sonoro.

                A teoria utilizava o esquema estímulo – resposta da psicologia behavorista. A experiência de Pavlov com um cachorro seria a base da análise dos fenômenos midiáticos.
Pavlov observou que o animal salivava toda vez que lhe era apresentada a comida, um ato instintivo do organismo, preparatório para a digestão. Assim, toda vez que ia alimentar o animal, o cientista tocava uma sineta. Por fim, tocava apenas a sineta. Mesmo não havendo comida, o cão respondia ao estímulo (som da sineta) com uma resposta (salivando).
Por analogia, esse esquema foi utilizado no campo da comunicação de modo que as mensagens enviadas pela mídia seriam o estímulo que levaria uma resposta certa e imediata por parte dos receptores, vistos como atomizados, acríticos e condicionados.
Na perspectiva hipodérmica os efeitos são dados como certos, inevitáveis e instantâneos. Se uma pessoa é apanhada pela propaganda, passa a ser controlada e manipulada, leva a agir.
Os estudiosos viam os indivíduos como átomos isolados, com pouca influência dos grupos sociais e altamente manipulados pela mídia. Nessa perspectiva, seriam impensável respostas individuais ou que discordassem do estímulo midiático.
O nome, inclusive, refere-se à agulha usada para injetar medicamentos abaixo da pele do paciente, assegurando assim um resultado imediato. De fato, a agulha hipodérmica, é a usada por médicos em hospitais para injetarem medicamentos nos pacientes (hipo é abaixo e derme é pele), assegurando uma resposta mais rápida do paciente à medicação. Assima mídia é vista como uma agulha, que injeta seus conteúdos diretamente no cérebro dos receptores, sem nenhum tipo de barreira ou obstáculo.
Nessa percepção, o processo de comunicação é totalmente assimétrico, com um emissor ativo, que produz o estímulo e os destinatários são vistos como uma massa passiva à qual só resta obedecer ao estímulo. Os papeis emissor – receptor surgem isolados de qualquer contexto social ou cultural. 
                Pelo menos dois fatos contribuíram para a popularidade dessa teoria entre os intelectuais da primeira metade do século XX: o uso da propaganda por regimes totalitários e o pânico Guerra dos Mundos.
O pânico guerra dos mundos ajudou a popularizar a teoria hipodérmica.

Na noite do dia 30 de outubro de 1938, rádio CBS (Columbia Broadcasting System) interrompeu sua programação musical para noticiar uma invasão extraterrestre iniciada na cidade de Grover´s Mill, no estado de New Jersey.
O programa era, na verdade, uma adaptação do livro A guerra dos mundos, de H. G. Wells. O diretor, Orson Welles, organizou a adaptação como uma grande cobertura jornalística com reportagens externas, entrevistas com testemunhas, opiniões de peritos e autoridades, efeitos sonoros, sons ambientes, gritos e repórteres emocionados.
Muitas pessoas ligaram o rádio no meio da programação e acharam que estavam de fato diante de uma invasão extraterrestre. Os serviços telefônicos ficaram congestionados. Nas grandes cidades houve engarrafamentos devido às pessoas que tentavam fugir dos alienígenas.
O medo paralisou três cidades.  Houve pânico principalmente em localidades próximas a Nova Jersey. Além disso, houve fuga em massa e desespero em cidades como Nova York.
Na cidade mais próxima do suposto local da batalha, Newsmark, 50 mil pessoas fugram de suas casas, procurando abrigo na floresta. Pessoas se jogavam das janelas dos prédios. Outras saíam de casa atirando.
                O pânico total, provocado por um fato criado pela mídia convenceu pesquisadores de que esta tinha um poder absoluto sobre sua audiência. A audiência passou a ser vista como uma massa amorfa, que apenas respondia, passivamente, os estímulos dos meios de comunicação.
Outro fato fundamental para a popularidade da teoria hipodérmica  foi a maneira como os regimes totalitários utilizaram os meios de comunicação para manipular a população.
O nazismo, por exemplo, usou amplamente o cinema, o rádio e os jornais como veículos de doutrinação. Até mesmo os encontros do partido eram organizados no sentido de intensificar o sentimento de massa.
Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, afirmava que o cinema era um dos meios mais modernos e científicos de influenciar as massas. Dava tal importância ao mesmo que as filmagens continuaram até quando os russos já estavam às portas de Berlin, pois acreditava-se que a única forma de reverter a derrota era através da propaganda.
Filmes como O judeu Suss ampliaram o sentimento anti-semita entre os alemães.

O princípio básico de  Goebbels era unir propaganda e diversão de modo que o receptor não conseguisse diferenciar um do outro. O filme Os Rothschild (dirigido por Erich Waschmeck, 1940), por exemplo, conta como uma família de judeus ingleses enriquece graças às guerras napoleônicas. O judeu Suss (1940) mostrava um ministro das finanças ambicioso e libidinoso que se apaixona por uma moça ariana e faz de tudo para separá-la de seu amado, igualmente ariano. O filme, um enorme sucesso na época, era exibido no leste europeu, para soldados responsáveis pelo fuzilamento de judeus e para guardas de campos de concentração. O diretor, Veit Varlan, chegou a ser processado pelo Tribunal Estadual de Hamburgo por crime contra a humanidade.
Um dos clássicos da propaganda nazista é O triunfo da vontade, filme de Leni Riefenstahl sobre o congresso nazista de 1936. Em uma das cenas mais emblemáticas, o avião que traz Hitler plana sobre as nuvens, que se abrem enquanto ele desce sobre a cidade, como se o líder estivesse trazendo o sol para a Alemanha.
Filmes como esse tiveram importância fundamental na sustentação do regime nazista alemão.
                Embora seja um dos paradigmas mais difundidas na área de comunicação e também a que mais influência teve, a teoria hipodérmica é também a mais criticada.
Dentro da própria corrente funcionalista (Laswell, criador do da teoria hipodérmica, era funcionalista) surgiram pesquisas que colocariam em questão o princípio mecanicista de efeito direto e indiferenciado. Lazzarsfeld, por exemplo, descobriu que líderes de grupos primários poderiam até mesmo modificar o significado da propaganda, fazendo-a se virar contra os emissores.
Esses líderes de opinião influenciam o pensamento de sua comunidade e relativizariam o poder dos meios de comunicação.
                Mesmo a mídia traz os mais diversos tipos de estímulos, muitos contraditórios, como as campanhas contra o consumo de álcool por motoristas e as propagandas de cerveja. 
A campanha da antarctica chocou-se com o sentimento religioso da população.

                Existem também fatores externos, culturais, sociais e religiosos, que influenciam o consumidor, enviando estímulos diversos daqueles veiculados na mídia. Exemplo disso foi a campanha “Do jeito que o Diabo gosta”, da cerveja Antarctica, em que a personagem Feiticeira protagonizava uma diabinha.  A campanha, um sucesso em metrópoles, como Rio de Janeiro e São Paulo, foi rejeitada em cidades das regiões Norte e Nordeste. Muitos donos de bares se negavam até mesmo a pregar cartazes da campanha, oem protesto. Nesse caso, o estímulo da mídia chocou-se com o estímulo religioso, que vê a palavra “Diabo”, como algo negativo. Se nos grandes centros, o público interpretou a propaganda como uma brincadeira, nas cidades mais conservadoras, o público preferiu alinhar-se aos estímulos religiosos.

A arte impressionante de Rick Leonardi

 


Rick Leonardi é um desenhista de quadrinhos norte-americano nascido em 1957.

Ele decidiu que seria desenhista de quadrinhos ao ler uma história desenhada por Joe Kubert no gibi de guerra da DC Star Spangled War Stories #139.

Seu primeiro trabalho para a Marvel foi uma edição do Thor escrita por Bill Mantlo. Mantlo percebeu que ele era o artista ideal para uma dupla de heróis que ele havia criado, Manto e Adaga e, assim, seu trabalho seguinte já foi a clássica minissérie dos personagens pelo qual ainda é mais conhecido pelo público brasileiro.

Outro trabalho relevante dele foi o Homem-Aranha 2099 escrito por Peter David.

Rick Leonardi é creditado com o criador, junto com Mike Zeck, do uniforme preto do Homem-aranha.

Além desses trabalhos, ele fez uma infinidade de outros para a Marvel e DC.










Entenda por que os comentários estão sendo moderados

 


 - Gian, entrei no seu blog e tentei comentar numa matéria, mas não ele não foi publicado imediatamente 

- Infelizmente eu tive que acionar a moderação de comentários. 

- Mas por quê? 
- Olha o tipo de comentário que os bolsominions estavam postando. 



- Caramba, são dezenas de comentários iguais o cara já começa te chamando de stalinista! 

- Pois é, virei um "extremista de esquerda stalinista"! 
- Caramba! 
- É o culto à personalidade. Como eles consideram o Bolsonaro um semi-deus, qualquer um que não o idolatre é imediatamente chamado de comunsita, petista, stalinista, dentista, skatista, surfista, remista. E pode colocar na conta vários outros "comunistas": Jim Starlin vira marxismo cultural, Raul Seixas vira marxismo cultural, Alan Moore vira marxismo cultural. E, para eles, comunista precisa ser preso ou morto. Para eles a Globo é comunista, a Folha de São Paulo é comunista, o Estadão é comunista. Esse tipo de gente só se informa pelo zap zap e por canais bolsonaristas como o Terça-livre. Qualquer coisa fora disso é comunismo. 
- O cara está te chamando de lulo-petralha?!!!



- Pois é, eu que nunca votei no PT, que sempre critiquei o PT, que na época da faculdade vivia em pé de guerra com os petistas da turma, de repente virei petralha só porque me recuso a idolatrar o mito. 
- E você praticamente nem fala de política no seu blog. 
- Pois é. Mas a estratégia deles é Dart Vader: ou você idolatra o Capitão ou é comunista, stalinista, petista, skatista, surfista, dentista, remista. Teve um "amigo" bolsominions que ameaçou me dar um soco só porque eu disse que político é para ser cobrado não para ser idolatrado. Outro disse que o pior tipo de "comunistas" são os "isentões": isentão aí significa alguém que se recusa a idolatrar o mito deles, mas ao mesmo tempo não idolatra o Lula, que se recusa a tecer elogios à ditadura militar, mas também não elogia a Coréia do norte. Antigamente para ser comunista precisava ser fã do Karl Marx, precisava ler o Manifesto Comunista, precisava acreditar em ditadura do proletariado. Hoje em dia, para ser comunista, basta não idolatrar o mito.
- Ele te acusa de cometer um gesto lulo-petista. Que gesto lulo-petista é esse?
- Me recusar a idolatrar o mito. Para quem escreveu esse comentário, qualquer um que não idolatre o mito está cometendo um gesto lulo-petista. Ou seja, na cabeça dele, está cometendo um crime. São pessoas que só se informam pelo zap zap e por vídeos de teoria da conspiração.
- Caramba, estou lendo aqui. O cara está ameaçando te denuncia... Te denunciar para quem? 
- Para os militres, provavelmente. 




- Estou vendo aqui. Ele te acusa de doutrinar os alunos. Fui seu aluno e você nunca falou de política em sala de aula. 
- Deve ser porque uso camisas da Marvel em sala de aula. Dizem que estou doutrinando os alunos a gostarem da Marvel. Nisso, confesso, sou culpado. Mas em minha defesa posso dizer que gosto da DC quando ela é desenhada pelo Garcia-Lopez.... rsrs... 
- Nossa, o cara diz que vai fazer você perder o emprego! Chega até a te chamar de estelionatário! 
- Só faltou dizer que vai me prender e  torturar pessoalmente para que eu confesse todos os meues crimes...kkkk Tudo isso porque eu me recuso a idolatrar o Capitão. E é esse pessoal que diz que é a favor da liberdade. A liberdade que eles querem é a liberdade de poder denunciar e prender quem pensa diferente deles. E como você pode ver, postaram essas ameaças dezenas de vezes no blog antes que eu bloqueasse os comentários. É por isso que não é mais possível comentar no meu blog. Infelizmente, tive que bloquear essa possibilidade de contato com meus leitores por causa desse tipo de comentário ameaçador.   
- Assustador, melhor manter os comentários do blog moderados mesmo.  
- Pois é. Melhor do que dar voz a gente desse naipe, que só se informa pelo zap zap e acredita em todas as teorias da conspiração possíveis. 

domingo, dezembro 08, 2024

Mitologia nórdica, de Neil Gaiman

 


Quando era criança, Neil Gaiman se apaixonou pela mitologia nórdica graças à revista do poderoso Thor, da Marvel. Isso o levou a pesquisar o assunto e descobrir que a mitologia original era muito diferente da versão sci-fi expressionista dos quadrinhos, mas igualmente fascinante. O garoto, que pouco tempo depois se tornaria roteirista de quadrinhos e escritor de sucesso continuou fascinado por essas lendas. O resultado disso é o livro Mitologia Nórdica, lançado este ano pela editora Intríseca.
O volume, em capa dura, com belíssima ilustração de Steve Attardo tem quase 300 páginas divididas em pequenos contos no qual Gaiman narra algumas das principais lendas nórdicas, da origem do mundo ao ragnarok (que qualquer leitor da Marvel sabe se tratar do fim dos tempos).
O texto de Gaiman é primoroso, o que faz com que a leitura seja extremamente rápida. Mal percebemos enquanto viramos as páginas. Além disso, as tramas são divertidas e as versões diferenciadas de personagens famosos é um atrativo a mais.
Loki, por exemplo, não é um vilão clássico, como nas HQs da Marvel. É antes um espertalhão, que vive arrumando encrencas e muitas vezes, acaba tendo que livrar os deuses das confusões que ele mesmo arruma. Thor não é o galante guerreiro dos quadrinhos, mas um bruto meio atrasado das ideias que se sente melhor quando mata alguém.
Um dos melhores momentos do livro é o relato de quando o rei dos ogros rouba o martelo de Thor e exige em troca a mão da deusa Freya. Freya, mais linda das deusas, claro, recusa e Loki tem a ideia de vestir Thor de noiva e levá-lo ao reino do ogro. Toda a festa de casamento é hilária, com Thor comendo e bebendo como Thor e Loki tentando evitar que o rei ogro descubra o que está acontecendo. Quando finalmente resgata seu martelo, Thor, claro, mata todo mundo.
Gaiman consegue captar o humor, o drama, o épico e a poesia de cada uma dessas histórias. 

A árvore das ideias

 

Eu e Bené Nascimento, hoje Joe Benett, formamos durantes muitos anos uma das mais conhecidas e duradouras duplas dos quadrinhos nacionais. Na verdade, nós só paramos de colaborar um com o outro quando Bené começou a trabalhar para os EUA, e ficou sem tempo para nossos projetos em conjunto. Mesmo assim, de tempos em tempos ele me procurava para fazermos algo em conjunto. Mas quando os prazos da Marvel ou da DC começavam a apertar, ele voltava ao que dava dinheiro.

Nós tínhamos um método próprio de criação que lembra muito a parceria entre Stan Lee e Jack Kirby. O Bené aparecia quase todas as manhãs lá em casa. Como ele é enorme, ocupava quase todo o meu pequeno quarto, de modo que preferíamos ficar na frente da minha casa, debaixo de uma árvore da vizinha. E o Bené lembrava de uma lanchonete em Nova York que ficou famosa por ser o lcal em que Kirby e Lee criaram a maior parte de suas histórias, e dizia: “Um dia essa árvore também vai ficar famosa. Vão colocar uma placa aqui dizendo: Aqui Gian Danton e Bené Nascimento bolaram suas melhores histórias”.

Nós ficávamos lá debaixo da árvore, discutindo detalhes das HQs. Quando terminávamos, Bené ia para casa e depois me trazia um rafe sobre o qual eu colocava o texto e os diálogos. No começo ele, mais experiente, sempre dominava a criação e eu me limitava a dar alguns toques, a pedir algumas modificações. Com o tempo, fui ganhando domínio da linguagem e passei a dar mais idéias. O ponto alto desse processo foi na história “Noir”. Nós estávamos chateados com o conservadorismo dos editores de terror no Brasil. Enquanto o mundo lá fora pegava fogo com as histórias de terror sofisticadas de gente como Alan Moore (Monstro do Pântano) e Neil Gaiman (Sandman), no Brasil ainda se fazia terror nos moldes da década de 1960. Havia até uma regra implícita de que o protagonista sempre deveria virar monstro ao final da HQ de terror. Isso era feito com o objetivo de surpreender o leitor, mas mesmo o leitor mais obtuso, depois de ler três histórias, logo sacava a estrutura.
Outra estrutura era mostrar alguém muito mal, que era castigado por suas vítimas que voltavam do túmulo para se vingar. O quadrinista nordestino Luiz Eduardo já havia feito uma crítica disso na história “Mais do Mesmo”, e nós também queríamos expressar nossa revolta com essa camisa de força.
Então um dia eu sonhei com uma história completa. Quando acordei fiz um rafe e coloquei o texto. O Bené gostou tanto que seguiu rigorosamente o rafe. Na HQ eu mostrava um personagem que era, obviamente, John Constantine, andando por uma rua. À medida em que ele andava, apareciam monstros clássicos que eram eliminados da forma mais simples possível. Na verdade, para eliminá-los, Constantine usava apenas sua enorme sorte. Um vampiro, por exemplo, era atropelado por um carro. Ao final, ele encontrava com outro personagem, que mostrávamos na penumbra, mas dava para perceber que se tratava de Monstro do Pântano, e eles conversavam num papo que ecoava uma crítica ao terror clássico.
Surpreendetemente, essa história foi publicada na revista Mephisto, terror negro, uma das revistas mais conservadoras da época.

Uma outra exceção ao processo criativo da copa da árvore foi a história “Noir”, coincidentemente publicada também na revista Mephisto. O Bené tinha recebido um roteiro do editor, mas não gostou, achando o desenvolvimento óbvio demais. Estávamos discutindo isso no ônibus, quando o Bené me disse:
- Quer saber? Não vou ilustrar esse roteiro! Vamos criar outra coisa e mandar para eles! E vamos criar agora!
E assim começamos a conversar sobre como seria a história. Bené queria que ela tivesse um clima noir. Eu lembrei de um filme que tinha esse clima e que sempre esteve na minha relação dos 10 melhores: Coração Satânico, de Alan Parker.
Coração satânico tinha uma estrutura na qual um detetive procurava por um homem desaparecido. À medida em que a investigação avança, ele vai vendo todos os seus informantes sendo mortos. No final, ele descobre que o homem que ele procura é ele mesmo e o cliente é na verdade Lúcifer, para quem ele havia vendido a alma.
Imaginamos uma situação assim, mas com um contexto de vampiros, já que vampiros eram um tema clássico e, imaginávamos, iria agradar os editores. Assim, um detetive investigava assassinatos em séries cometidos por um vampiro e, ao final descobre que ele é o assassino.
Essa história foi barrada pelo Diretor de arte, Dagoberto Lemos, assim que chegou na editora. Ele argumentou que o desenho do Bené estava muito sujo e a história era incompreensível. Quem nos salvou foi a editora, Neuza de Castro Luz, que bateu o pé e foi falar com o dono da editora. Sua aposta valeu a pena: a revista, que antes vendia 40% da edição, pulou para 70% naquele número.
É um desses casos explicados pela teoria dos paradigmas: como não era da área, Neuza não percebeu que nossa HQ não se encaixava no terror anos 60, típico de revistas como Calafrio e Mephisto.

Fundo do baú - Wally Gator

 


Com o sucesso de suas animações baseadas em animais antropomorfizados (e a pequena quantidade de animais domésticos), o estúdio Hanna Barbera teve que apelar para animais cada vez menos convencionais. Mas nenhum consegue ultrapassar Wally Gator em termos de estranheza: a animação tinha um jacaré como protagonista.

Wally Gator era um jacaré que vivia uma vida cheia de mordomias no zoológico, num espaço com piscina e cadeira de praia.

Mas, apesar da vida folgada, Wally Gator sempre escapa do zoológico e quase sempre se dá mal, o que faz com que o tratador Sr. Twiddles vá à sua procura e o salve.

O humor do seriado surgia exatamente pelo fato contraste surrealista de um jacaré andando  pela cidade (de chapéu colarinho e gola, simulando uma camisa social) e se metendo em todo tipo de roubada.

Em um dos episódios, por exemplo, o Sr. Twiddles comenta que Wally está gordo, o que faz fugir para procurar um ginásio. Sem querer, ele acaba sendo envolvido num show de luta livre, onde apanha até não poder mais, sendo salvo pelo tratador.

Uma curiosidade é que no Brasil o dublador do personagem foi o ator Lima Duarte.


Sonja – a chave maldita

 

Quando as vendas de Conan estouraram, a Marvel ficou louca atrás de outros personagens criados por Robert E. Howard que pudessem repetir o sucesso do cimério. O mais próximo que conseguiram foi Sonja, ou Red Sonja, como é conhecida nos Estados Unidos (por conta do seu cabelo vermelho).

Para desenhar foi chamado Frank Thorne, um ilustrador que se tornou especialista em mulheres guerreiras. Seu desenho pouco convencional destacava o ar de magia da série, com destaque para cenários, roupas e ornamentações extravagantes. Mestre da anatomia, sua Sonja era linda, mas também dúbia. Seu olhar felino conferia à personagem uma característica que ia muito além da simples heroína.
E, entre os roteiristas que abrilhantaram a personagem, estava Bruce Jones, provavelmente um dos mais subestimados da era de bronze.
Bom exemplo do trabalho entrosado dessa dupla é “A chave maldita”, publicada no terceiro número da revista Marvel Feature, de 1975 e no Brasil em Superaventuras Marvel 17.
A história começa com a guerreira montada num cavalo, sendo perseguida e proferindo uma frase icônica: “Soldados malditos! Esses miseráveis estão atrás de mim há horas! Será que não se pode ganhar a vida por aqui roubando honestamente?”.

Essa primeira página, aliás, além do diálogo impagável de Jones, mostra o domínio de Thorne da parte visual: a imagem é emoldurada por uma corda que segura uma... chave!
Encurralada, Sonja é salva por uma bruxa, que cria uma ilusão para os soldados, dando a entender que a guerreira caiu num precipício.
O bruxa está interessada na chave roubada por Sonja (a razão pela qual ela está sendo perseguida) e lhe conta a história da chave: em tempos antigos, dois reis guerreavam. Um deles contrata um artesão que faz uma réplica do rei em tamanho gigantesco, mas seu castelo é invadido e, para se vingar, ele envia o gigante metálico feito à sua semelhança para destruir o local. O mecanismo era controlado por uma chave. Como logo fica óbvio, a bruxa está interessada na chave roubada por Sonja para fazer reviver o autômato.
Assim, mitologia e ação se misturam perfeitamente nessa trama muito bem escrita.

Depois do fim do mundo, de John Byrne

 


John Byrne é uma das figuras mais importantes dos quadrinhos de super-heróis norte-americanos a ponto de não conseguirmos imaginá-lo em outro gênero. Mas quem comprar Depois do fim do mundo, lançado em 2018 pela Mythos, verá que ele consegue se sair bem em um tipo completamente diferente de história: o pós-apocalíptico.
Na história, a humanidade é arrasada por uma monstruosa erupção solar, que destrói boa parte do planeta. A história é contada do ponto de vista de um grupo de astronautas, que consegue fugir do fenômeno e, voltando à terra, encontra o planeta devastado.
Byrne maneja bem o roteiro, criando situações interessantes, como uma cidade em que os únicos sobreviventes parecem ser ratos e baratas multiplicados aos milhões ou um penitenciária em que os detentos tomaram o poder.
Era de esperar que Byrne, acostumado ao gênero super-herói, exagerasse em algumas situações ou até mesmo destacasse a atuação de heróis salvadores, mas a história é bastante comedida nesse sentido.
Na série, Byrne revisita o seu primeiro trabalho. 


Outro aspecto interessante é a narrativa, com capítulos inciando após um salto temporal e flash backs explicando o que veio antes.
Uma curiosidade é que esse álbum, embora pareça um trabalho totalmente fora da curva do estilo de John Byrne, é, na verdade, uma volta do artista ao seu primeiro trabalho, Doomsday, publicado pela Charlton Comics em the 1976. A história original, entretanto, era bem menos realista, com o grupo de astronautas enfrentando robôs, sereias e aliens.
De negativo, a capa, com a estátua da liberdade encoberta por sombras, que diz muito pouco sobre a série.

Rashmon

 


Rashmon é uma adaptação de Akira Kurosawa de dois contos de Ryūnosuke Akutagawa.

A obra de Ryūnosuke Akutagawa foi reunida no Brasil no volume Rashmon e outras histórias, da editora Cavalo de Ferro. Rashmon era um portal que existia na entrada na cidade de Quioto e que, na época em que se passa a história, tinha sido abandonado, servindo de local de desova de cadáveres e de refúgio para ladrões. No conto, um servo se abriga no local durante a chuva e acaba encontrando uma velha que está roubando os cabelos dos mortos para fazer uma peruca.

Já No bosque de bambu conta a história de um samurai que foi assassinado depois que sua esposa foi violentada pelo bandido Tajomaru. O conto é a transcrição dos relatos das testemunhas. Primeiro é apresentado o testemunho de Tajomaru, que admite ter matado o samurai. Mas a coisa se complica quando a esposa do samurai testemunha e diz que foi ela a autora do assassinato. E complica mais ainda quando a vítima incorpora em uma médium para dizer que cometeu suicídio.

Kurosawa pegou esse material, que em si só já era bastante original, e o tornou ainda mais instigante. Assim, um lenhador, um monge e um ladrão se abrigam no portal Rashmon e começam a conversar sobre a história, de modo que os relatos são apresentados em flash backs.

Kurosawa e o roteirista Shinobu Hashimoto ainda acrescentam um quarto relato, o do lenhador, que, se por um lado, pode ajudar a elucidar o que aconteceu, por outro lado pode ser outra mentira, já que ele também tem interesse em esconder alguns fatos.

A estrutura narrativa foi tão revolucionária que rendeu a Kurosawa diversos prêmios e fez surgir o que hoje em dia é chamado de “efeito Rashomon”, termo usado para descrever situações em que o conflito entre relatos torna impossível descobrir o que realmente aconteceu. Na área de jornalismo o efeito Rashmon é usado para descrever o problema das fontes, que nem sempre são confiáveis, pois podem estar enganando o jornalista, ou sendo vítimas de lembranças falsas.

O filme também criou uma estrutura narrativa em que vários personagens contam suas versões sobre os fatos, versões que são discordantes entre si, a exemplo do faroeste Quatro confissões, dirigido por Martin Ritt.

O desafio das capas

  O desafio das capas é uma brincadeira entre fãs de quadrinhos no Facebook. Um desafia o outro a publicar as capas que mais o marcaram. Eu fui desafiado pelo amigo Dennis Oliveira. A ideia era publicar apenas imagens, mas imaginem se eu ia resistir a fazer alguns comentários. Abaixo as imagens e os textos que publiquei.

Essa eu nunca li, mas foi o primeiro gibi de heróis que vi, na vitrine de uma mercearia, único local que vendia quadrinhos na cidade onde eu morava, Mococa - SP. Lembro que ficamos todos olhando através da vitrine, impressionados com a capa, mas ninguém tinha dinheiro para comprar.
Desafio das capas que mais me marcaram. Essa foi a primeira revista que comprei em banca. Não é nem de longe a melhor dessa série, mas adoro essa capa e foi aí que começou a saga da Fênix, uma das melhores HQs de heróis todos os tempos.
O primeiro número de Sandman teve um impacto muito grande, não só pelo texto de Gaiman, mas também pela capa incrível de Dave McKean. Nunca tinha visto nada parecido.


Aventura e ficção era uma publicação em PB da Abril que publicava material inicialmente da Marvel, depois de outras editoras americanas e, na fase final, material europeu e nacional. Essa capa de Joe Jusko abriu a série com chave de ouro.
Eu não comprei a Epic Marvel em banca por causa do preço, que não cabia no meu orçamento da época, mas depois fui comprando todas em sebo. Difícil escolher qual das capas me marcou mais, então vai a da número 1.
Quando comecei a gostar de quadrinhos, eu não tinha dinheiro para comprar meus gibis. Então, vasculhava os sebos de Belém em busca de números antigos da revista Heróis da TV, que um amigo de escola colecionava. Eu comprava, lia, vendia para ele pelo dobro do preço e, assim, ia fazendo caixa para comprar os meus próprios gibis (eu colecionava Superaventuras Marvel). E na revista o personagem que mais me chamava atenção era o Mestre do Kung Fu.
Essa foi a primeira revista de quadrinho nacional que comprei. Eu lia Turma da Mônica quando criança, mas nunca tinha lido material mais adulto. Eu fiquei totalmente fascinado com a capa de Rodval Matias e com as histórias de Mozart Couto. Lembro que na época eu pensei: "caramba, os brasileiros são tão bons quanto os americanos!".