Alfred E. Newman é o mascote da revista MAD, famoso por suas frases repletas de ironias e uma sinceridade absoluta. É uma espécie de coaching ao contrário. Confira algumas das citações mais famosas desse mestre da sabedoria amalucada.
sexta-feira, julho 11, 2025
Jonah Hex – Bem-vindo ao paraíso
Quando o personagem Jonah Hex surgiu, no número 10 da revista All-Star Western, em março de 1972, foi uma revolução nos quadrinhos de faroeste.
Até então, a maioria dos quadrinhos mostrava mocinhos bonitos, cujo cabelo nunca despenteava e que atiravam na arma dos inimigos para desarmá-los.
A primeira imagem da história, uma splash page do filipino Tony DeZuniga, já quebrava totalmente com o estereótipo dos heróis quadrinínsticos, como Roy Rogers. O desenho mostrava Jonah montado em seu cavalo, arrastando pelos pés os cadáveres de dois bandidos que ele havia liquidado a serviço dos endinheirados da cidade.
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A primeira página já mostrava o quanto a série era revolucionária. |
O texto, de John Albano, dizia: “Matador a sangue frio, degenerado, demônio impiedoso, sem sentimentos ou consciência... um homem consumido pelo ódio... esse era Jonah Hex!”.
Nas páginas seguintes, quando vemos o personagem de perto, percebemos que a diferença dele para os heróis clássicos é ainda maior do que aparecia na página inicial. Ele tem um lado do rosto completamente deformado, os dentes à mostra, os olhos esbugalhados. Ao contrário dos mocinhos da década de 1950, Hex era sujo, feio e mal-educado. Em outras palavras, era o cowboy ideal para uma nova época, em que o faroeste americano perdia cada vez mais espaço para os bang bang italianos, repletos de anti-heróis, como o personagem sem nome de Clint Eastwood na trilogia de Sérgio Leone ou Django, de Sergio Corbucci.
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O personagem era muito diferente dos cowboys convencionais dos quadrinhos. |
Na história, Hex persegue uma gangue de malfeitores e, quando consegue eliminar todos e pega o pagamento, decide ficar na cidade, para horror dos cidadãos de bem, que conseguem convencê-lo a ir embora. "Ufa!”, diz um dos endinheirados. “Um selvagem como ele morando entre pessoas civilizadas como nós? Jamais!”.
A história termina com ele visitando uma família que ele havia ajudado e sendo escorraçado pela mulher: “Atirei no seu chapéu para mostrar que não é bem-vindo por aqui!!.
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O personagem é um anti-herói, rejeitado pela sociedade. |
Ao final, ele passa pela placa “Bem-vindo a Paradise Corners” e a destrói com um murro.
Era um final perfeito para um personagem que se tornaria tão popular a ponto de ganhar revista própria com quase uma centena de números.
Demolidor – Nas mãos de Mercenário
O primeiro grande evento do título do Demolidor na fase Frank Miller foi o confronto com o Mercenário nos números 160 e 161.
Nessa fase o roteirista ainda era Roger Mackenzie, que parecia cada vez mais se adaptar ao estilo e aproveitar ao máximo as potencialidades narrativas de Miller.
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O casal na rua era Peter Parker e Mary Jane, mas a Abril suprimiu a referência. |
A história começa com uma sequência eletrizante com a Viúva Negra entrando em seu apartamento e dando de cara com o Mercenário, que pretende usá-la como isca para se vingar do homem sem medo. A espião se revela uma adversária formidável, mas é difícil lutar contra alguém que pode usar qualquer coisa como arma.
Essa sequência inicial é uma demonstração perfeita de como Miller era um narrador visual revolucionário. Ele brinca com a diagramação, fazendo quadros que esticam por todo o sentido vertical ou horizontal da página. E usa isso como elemento para dinamizar a ação. À certa altura, por exemplo, o mercenário derruba um candelabro sobre a heroína e o quadro esticado amplia a impressão de algo caindo.
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Miller esqueceu de tirar as luvas do herói. |
A história tem direito até a referências a outras séries da Marvel. Num dos quadros, por exemplo, Matt Murdock vê um casal na rua e pensa: “Como eu gostaria que Heather e eu fôssemos um casal como esse. Não parecem ter nenhuma preocupação na vida”. O casal sorridente, que passa lá embaixo é composto por ninguém menos que Peter Parker e Mary Jane Watson, o que torna a cena irônica, já que o Homem-Aranha é conhecido exatamente por seus problemas pessoais. Em tempo: quando a Abril publicou essa história em superaventuras Marvel, a editora simplesmente cortou a referência.
Há também um erro narrativo, um descuido, provavelmente de Miller. Quando entra no apartamento da Viúva Negra e descobre que a ex-namorada foi sequestrada, o Demolidor percebe que o autor é o mercenário graças a uma foto de Natasha com os círculos concêntricos que caracterizam o Mercenário. Como é cego, ele usa o tato para visualizar a imagem. Mas na cena ele aparece usando... luvas!
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A sequência do parque de diversões é simplesmente eletrizante. |
Tirando as referências e pequenos erros, a história se destaca mesmo é pela narrativa frenética, que encontra seu auge na sequência do parque de diversões, onde o mercenário prende a Viúva Negra. O cenário é ideal para os planos e ângulos inusitados nos quais Miller era um mestre.
Infelizmente, toda essa preparação tem um fim pífio, com o Mercenário tendo um surto e sendo facilmente derrotado, algo que foge completamente de tudo que havíamos visto sobre ele até então.
Rosa e Azul, de Renoir
Aurora
Aurora é um filme clássico de F.W. Murnau (de Nosferatu) com roteiro de Carl Mayer (Caligari) considerado um dos melhores de todos os tempos.
À primeira vista trata-se de um filme muito bem dirigido, com roteiro óbvio: uma mulher da cidade convence um ingênuo rapaz do interior a matar a esposa e fugir com ela para a metrópole. E a trama parece girar em torno da indecisão do homem de cumprir o que prometeu. O que segura é a direção, absolutamente revolucionária para a época, que deve ter um injetado criatividade expressionista alemã no cinema americano. Numa cena, por exemplo, o protagonista é atormentado pela imagem da mulher sedutora, um espectro que inclusive o abraça (num efeito especial impressionante para a época).
Entretanto, perto do final, o filme apresenta uma virada que transforma a história, tirando dela seu ar ingênuo e introduzindo suspense.
A platéia americana parece não ter entedido e o filme foi um fracasso, mas deixou uma marca eterna no cinema americano, em especial o "noir", que teve grande influência do expressionismo.
Fundo do baú - Plic, ploc e Chuvisco
Plic, Ploc e chuvisco é um retorno da dupla Hanna-Barbera ao tema que os tornou célebres: a eterna disputa entre gatos e ratos.
Mas, ao contrário de Tom e Jerry, Plic, Ploc e Chuvisco apostava menos na violência gráfica e mais nos diálogos humorísticos. Além disso, a guerra entre gatos e ratos era mais simbólica que real. Em um episódio por exemplo, Chuvisco acerta com uma pá um dos ratos e se apavora com a possibilidade de tê-lo matado. Aliás, boa parte dos episódios eram calcados na ingenuidade do gato.
O desenho surgiu em 1958, sendo produzido até 1961, num total de 57 episódios.
Guerras Secretas – Começa a guerra
A série Guerras Secretas surgiu como uma encomenda para
promover uma linha de bonecos da Marvel. Jim Shooter, o roteirista e editor,
chegou a comentar que o objetivo da história era mostrar para os garotos como
brincar como os bonecos, colocando-os em confronto. E é isso de fato o que percebemos na primeira
história.
Nas revistas anteriores da Marvel, os roteiristas tinham
jogado ganchos com os heróis sendo atraídos até uma estrutura no Central Park.
No primeiro número de Guerras Secretas vemos o que aconteceu com eles: estão
numa estação espacial, no meio do nada. Essa sequência funciona principalmente
graças ao talento de Mike Zeck, com seu traço simples, elegante e funcional:
começamos com o espaço, a estação espacial surgindo do nada, um plano detalhe
dos heróis espantados e uma página dupla com os mesmos no meio da estação
espacial.
O roteiro apresenta os personagens.
Shooter é bem direto. Alguém pergunta quem está ali e o
diálogo seguinte é só apresentando, em sequência, cada um dos heróis escolhidos
por Beyonder. A mesma coisa acontece entre os vilões. Diante da perplexidade
dos vilões, o Doutor Destino tenta explicar o que está acontecendo, ao mesmo
tempo em que também apresenta todos os jogadores do lado do mal: “Alguém ou
alguma coisa nos transportou através do universo! Pelo que puder notar, aqui
estão a asgardiana Encantor, Ultron, o Homem-absorvente, a Guangue da
Demolição, Kang, Galactus, Lagarto, Homem Molecular e Dr. Octopus”.
Era como se o roteirista estivesse apresentando os bonecos
para os meninos: “Olhe, são com esses personagens que vocês vão brincar”.
Beyonder cria um mundo a partir de pedaços de outros mundos. A física mandou um abraço.
Logo após isso, Beyonder destrói uma galáxia e forma um
planeta, transportando para lá as duas estações espaciais.
Enquanto isso, os vilões começam a brigar entre si, sem
razão nenhuma até que Ultron resolva simplesmente eliminar todos até ser
neutralizado por Galactus. Afinal, Galactus é o vilão mais fodão da Marvel,
certo? Não. Quando ele tenta confrontar Beyonder, é simplesmente repelido como
um inseto.
Funciona como medida para mostrar o tamanho do poder do ser
que está manipulando heróis e vilões. Mas a presença de Galactus no time dos
vilões desequilibra absolutamente o jogo, afinal, Galactus sozinho poderia
derrotar todo mundo ali.
Se os vilões estavam brigando entre si, os heróis também,
mais especificamente pela presença entre eles de Magneto, visto como um vilão
pela maioria ali (era Shooter explicando para os leitores como brincar com os
bonecos, colocando-os em conflito). Da mesma forma, há uma discussão sobre quem
seria o líder – o escolhido acaba sendo o Capitão América.
Beyonder avisa que quem destruir seus inimigos alcançará o
maior dos prêmios: todos os seus sonhos serão realizados, de forma que o número
um acaba com os vilões atacando os heróis.
Apesar de todos os problemas, como falta de profundidade e
até de verossimilhança, há de se admitir que a história é empolgante e deixa o
leitor com uma pulga na orelha perguntando-se o que vai acontecer. Na época em
que eu li, aos 15 anos, foi exatamente isso que aconteceu.
Mike Zeck ainda estava se esforçando nesse primeiro número.
Hoje, lendo a versão sem cortes, o que mais chama atenção é
o belo desenho de Mike Zeck, com destaque para o quadro de Galactus caído no
chão, depois de se enxotado por Beyndoer. A presença do Doutro Destino no
quadro só serve para destacar a grandiosidade do ser cósmico.
Nas edições seguintes, à medida em que Jim Shooter
implicava com destalhes e mais detalhes, Mike Zeck foi perdendo o interesse pela
história, de forma que seu traço foi se tornando cada vez menos detalhado e
mais genérico. Quando foi publicado o último número, Shooter mandou uma garrafa
de champanhe para o desenhista. Ele abriu e jogou tudo na pia.
quinta-feira, julho 10, 2025
Roteiro para quadrinhos: o texto
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A forma diz respeito à abordagem textual escolhida pelo roteirista |
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Texto em primeira pessoa em Cavaleiro das Trevas |
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Exemplo de narrador em terceira pessoa |
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Texto em primeira pessoa |
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Gerry Conway usava muito o recurso do texto diálogo em sua fase no Homem-araha |
X-men – O início da saga da Fênix Negra
A saga da Fênix Negra foi o ponto máximo de um longo processo que transformou a revista dos mutantes de um azarão sempre à beira do cancelamento na revista mais vendida da Marvel.
Essa grande e revolucionária saga começa em The Uncanny X-men 129. É curioso como uma história que iria sacudir o universo Marvel tenha começado de maneira tão pouco impactante. Nos quadrinhos Marvel, a splash page de abertura geralmente mostra uma espetacular cena de ação ou uma situação inusitada, que estimula a imaginação do leitor. Aqui a splash page é usada para mostrar apenas a despedida dos X-men dos que iriam ficar na Escócia logo após a derrota de Proteus. Banshee está sem poderes e prefere ficar consolando Moira após a morte do filho. O Homem múltiplo, Destrutor e Polaris preferem se manter longe da vida de super-heróis. Essa sequencia inicial é Chris Claremont desenvolvendo os personagens e estabelecendo o estilo novelão que caracterizaria os mutantes.
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Uma splash page atípica. |
Enquanto isso, mestre Mental volta a invadir a mente da Fênix fazendo-a acreditar que está vivenciando a vida de uma antepassada do século XIX, um gancho para a parte principal da trama.
Mas logo as coisas esquentam quando a equipe se separa para contactar dois novos mutantes descobertos pelo cérebro.
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O Mestre Mental manipula a mente de Jean Grey. |
O professor Xavier, Tempestade, Wolverine, Colossus e Ororo vão para Chicago, tentar convencer os pais de Kitty Pride a matriculá-la no colégio para jovens superdotados. Na mesma sequência a garota vai, aos poucos descobrindo seus poderes.
Claremont manipula muito bem o roteiro para mostrar esse processo como um desabrochar equivalente à puberdade, num paralelo direto com Carrie, de Stephen King: “Ô cabecinha, dá um tempo... o que eu fiz de errado, hein? Putz, como dói! Esta é a pior de todas! Deus, eu só tenho 13 anos e meio! Não posso morrer!”, desespera-se a menina.
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Os X-men são atacados e Kitty Pride descobre seus poderes. |
Assim que surgiu, Kitty conquistou rapidamente a simpatia dos leitores. Ela era também um ponto de referencia para novos leitores que estavam chegando à revista naquela época, estimulados pelo buxixo provocado pela qualidade das histórias da dupla Claremont-Byrne.
Assim como esses leitores, ela estava descobrindo o mundo mutante e seus perigos. Perigos que logo aparecem quando homens com armaduras invadem a sorveteria onde ela, Ororo, Colossus e Wolverine estão. É nessa sequencia que temos também a primeira visão da rainha branca em sua roupa fetichista e seu fantástico poder mental. Poder, aliás, magistralmente ilustrado por John Byrne numa imagem em que os X-men, atingidos por sua rajada psíquica, são mostrados apenas em linhas e envoltos numa aura branca e vermelha.
Para as pessoas da minha geração, essa história prometia muito... e não decepcionou.
Guia dos Mochileiros das galáxias
Tom Strong e o planeta do perigo
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... para salvá-la, Tom e o genro vão para a Terra Obscura, mas o local está arrasado por uma pandemia. |
Chico Xavier - O filme
Chico Xavier é um filme de 2010 dirigido por Daniel Filho.
O roteiro, , de Marcos Berstein, mostra Chico em um dos pontos altos de sua vida: a participação no programa Pinga Fogo, da TV Tupi. Sua vida é contanda a partir dos flash backs provocados pelas perguntas dos entrevistadores. Essa estrutura de roteiro dá dinamismo à história evitando o tom de discurso que caracterizou, por exemplo, o filme Bezerra de Menezes.
Além disso, o filme conta com um trama paralela que ajuda a manter o interesse: a do diretor do filme, que perdeu o filho em um acidente com uma arma.Indo ao acordo com a personalidade de Chico, que dizem ter sido um piadista nato, a película também tem muito humor, até mesmo em cenas mais tensas, como naquela em que Chico diz para um assistente para usar o evangelho caso o espírito possesso em uma moça entrasse nele. O assistente não teve dúvidas: tascou-lhe a Bíblia na cabeça de Chico.
A direção de Daniel Filho também é muito segura. Um dos pontos interessantes é o uso econômico de efeitos especiais. Alguém comentou no Twitter que foi para economizar dinheiro da produção. Não acho. Hoje, CGI é a coisa mais barata e comum do mundo. Como diz Alan Moore, hoje vemos uma horda de ogros descendo uma coluna e bocejamos. O que falta hoje é um bom uso da linguagem do cinema, coisa que sobra em Chico Xavier. A quase ausência de efeitos computacionais faz com que, no momento em que eles apareçam, eles marquem a cena, como no primeiro momento em que Chico psicografa mensagens espirituais sob orientação de adeptos do espiritismo.
Um filme excelente, que segura a atenção até o último minuto. Nunca tinha visto a plateia inteira ficar sentada durante os créditos (que passa cenas reais de Chico no programa Pinga Fogo)