O número 142 de Júlia, a criminóloga criada por Giancarlo
Berardi, apresentou uma trama que parecia pueril e que seria uma chatice nas
mãos de um roteirista menor.
Na história, um ex-boxeador sofre um ataque do coração e seu
carro cai no rio. Ao fazerem a autópsia, os técnicos descobrem que ele havia
ingerido 12 comprimidos de viagra.
Inicia então, a investigação para tentar descobrir quem teria
matado o homem.
Os diálogos são o ponto alto da série.
Uma das suspeitas é sua filha, lutadora de judô olímpica, que
vivia um conflito com o pai por este não aprovar seu relacionamento atual. Além
disso, o pai pretende vender a casa da família, o que poderia ser outro
motivador do assassinato. Mas há outros complicadores: o homem se relacionava
com mulheres casadas e tinha conexões com a máfia e, possivelmente, estava
devendo para agiotas.
Curiosamente há uma conexão entre a trama e a vida de Júlia, uma vez que esta decidiu aprender defesa pessoal e se matriculara justamente na academia em que leciona a filha do homem assassinado.
Como dito anteriormente, é uma trama pueril. Nada de tanto impacto como a psicopata dos primeiros números. O que salva aqui são os diálogos inspirados, leves e realistas de Berardi e Mantero, o co-roteirista.
Um exemplo perfeito de narraitva visual.
Outro destaque é a narrativa visual, em perfeita conexão com os diálogos. À certa altura, por exemplo, Júlia e os policiais vão visitar um detetive que investigara o homem morto. Eles querem o nome de uma mulher que se relacionara com o mesmo. O detetive recusa a dar informações. Mas Júlia pega o nome na pasta enquanto ele está de costas, olhando pela janela. A mensagem é sutil: por ética profissional, o detetive não pode revelar os nomes, mas facilita para que Júlia consiga esse dado. Ou seja: o que cada um fala não significa que é o realmente estão querendo dizer. Um ótimo exemplo de como a arte dos quadrinhos pode ser explorada em todo o seu potencial.
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