terça-feira, agosto 20, 2024

Na terra dos pinhões

 


Eu fui para Curitiba de ônibus, em maio de 1994, levando tudo que podia em uma enorme caixa de papelão que pesava mais do que eu. Ia ali dentro livros, quadrinhos e minha máquina de escrever Remington.

Quando paramos pela primeira vez no Paraná fiz questão de descer e ver os jornais, que ficavam presos em varais ao lado de uma banca de revistas. Fui andando pelos jornais, até parar na frente da Folha de Londrina. Era como se eu pudesse ouvir alguém me dizendo: “Você vai trabalhar nesse jornal”.

Folha de Londrina foi um dos últimos jornais que visitei, pois ficava afastado, no Centro Cívico de Curitiba e eu tive dificuldade de descobrir como se chegava lá. Fui com uma pasta debaixo do braço, com todas as matérias que eu tinha publicado nos jornais de Belém.

Tempos depois eu descobri que fui atendido porque o editor ficou curioso com a minha audácia.

Ao ser informado pela secretária que alguém queria falar com ele, o editor retrucou que estava muito ocupado.

- Pergunte da parte de quem.

Poucos minutos depois a secretária voltou.

- Perguntou da parte de quem?

- Sim, ele disse que da parte dele mesmo.

A resposta foi tão ousada e inusitada que ele resolveu conhecer o engraçadinho. Coincidentemente, eles estavam de fato precisando de jornalistas para a filial de Curitiba.

Apesar de ser um jornal de interior, a Folha de Londrina era um jornal descolado, principalmente se comparado ao jornal da capital, a Gazeta do Povo, até hoje um jornal ultra-conservador. Esse conservadorismo da Gazeta se refletia até mesmo na diagramação pesada e nos textos com parágrafos grandes, pesados. Ao contrário, a Folha de Londrina era um jornal leve, divertido, com uma diagramação bonita, textos menores, parágrafos curtos. Para melhorar, a Folha anunciava na rádio que ouvia, uma rádio rock e seu slogan brincava com o fato de não ser um jornal de Curitiba: “Porque inteligência é capital”.

O editor resolveu fazer um teste comigo e o teste foi exatamente fazer uma matéria sobre um grupo de quadrinistas que estava surgindo em Curitiba e fazendo sua primeira exposição. Era o Núcleo de Quadrinhos de Curitiba.

(Trecho do meu livro A árvore das ideias. Clique aqui para baixar gratuitamente. 

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