quarta-feira, novembro 20, 2024

Superman – entre a foice e o martelo

 

Um dos princípios básicos da teoria do caos é a dependência sensível das condições iniciais – a percepção de que pequenas mudanças no início do processo pode provocar grandes mudanças a longo prazo. O roteirista Mark Millar parece usar esse princípio na sua aclamada série Superman – entre a foice e o martelo.
Na história, o bebê kriptoniano cai em uma fazenda russa, sendo criado em plena União Soviética stalinista. Essa pequena mudança geográfica (à certa altura um personagem se pergunta: já imaginaram se ele tivesse caído 12 hora antes?) provoca uma mudança global absoluta. Com uma figura indestrutível, capaz de se mover à velocidade do pensamento e super-poderosa, a URSS ganha a guerra fria. Quando, após a morte de Stalin, o Super-homem é alçado ao poder, o império soviético se estende pelo mundo.
A HQ apresenta o que aconteceria se a nave com o bebê kriptoniano tivesse caído na Rússia Stalinista. 


Millar reimagina o universo DC: Lex Luthor, o arqui-inimigo do Homem de aço, torna-se a maior arma norte-americana contra o avanço do estado comunista. A Mulher Maravilha alia-se ao Super-homem e Batman, após ver seus pais sendo mortos por homens da KGB, torna-se um terrorista anti-sistema.
O roteirista consegue equilibrar esses elementos de forma segura e verossimilhante. Em nenhum momento a história parece forçada – tudo parece ser consequência óbvia do que veio antes – até mesmo o final duplamente surpreendente. Trata-se de uma verdadeira epopeia quadrinística que em nenhum momento resvala para o preto e branco. Ao contrário, explora muito bens os tons de cinza de personagens que acham, cada um a seu modo, que estão fazendo o melhor para o mundo.
Uma única palavra para descrever Superman – entre a foice e o martelo: obrigatório.

Adão Negro

 


 Adão Negro, filme dirigido por Jaume Collet-Serra e estrelado por Dwayne Johnson, tinha uma missão: salvar a Warner, estúdio que anda mal das pernas. Era uma aposta arriscada, já que Adão Negro é, originalmente um vilão, sendo inclusive o principal antagonista do Capitão Marvel (conhecido atualmente como Shazan). Pior: é um filme que conta com heróis pouco conhecidos até mesmo dos leitores de quadrinhos, a exemplo de Ventania e Esmaga Átomos.

Na história, Adão Negro é revivido quando a intergangue tanta se apossar de uma coroa de eternium, que pode dar poder absoluto a quem a possuir. A sociedade da justiça, composta pelo Senhor Destino, Gavião Negro, Ventania e Esmaga Átomos é enviada para tentar conter a ameaça.

Há um jogo interessante de roteiro: no início do filme a nossa visão é que Adão é um herói injustiçado, ali pelo meio há uma reviravolta que mostra seu lado sombrio, para termos uma redenção no final.

Dwayne Johnson tem as qualidades de interpretação de uma porta, mas, curiosamente, consegue angaria a simpatia dos expectadores. Além disso, as cenas de ação funcionam muito bem, fugindo do estilo confuso de Vingadores era de ultron. E o filme conta com Pierce Brosnan, numa interpretação realmente memorável de um dos melhores heróis da DC Comics, o Senhor Destino. Some a isso um bom trabalho de CGI, que se mostra efetivo principalmente com as sequências envolvendo o Gavião Negro, e temos um filme que agrada, tanto que tem batido recordes de audiência.

Ao que parece, um vilão transformado em herói salvou a Warner da falência.

Em tempo: se considerarmos que o outro grande sucesso da DC nos cinemas é Esquadrão Suicida, temos a impressão de que a DC se sai melhor com heróis menores ou pouco conhecidos. 

Quarteto Fantástico – Kurgo, o senhor do planeta X

 



Um dos grandes diferenciais do gibi do Quarteto Fantástico, mesmo na relação com outros títulos da Marvel, é a pegada de ficção científica do título, dando a ele um sense of wonder que outras publicações da casa das ideias não tinham.

Essa característica, embora já fosse entrevista nos números anteriores, vai se firmar Fantastic Four 7.

Na história, o planeta x está próximo de ser devastado por um asteroide que irá se chocar com ele (lá na frente o asteroide vira um planeta).

O raio de hostilidade é uma loucura. 


Assim, o governante local, Kurrgo, manda uma nave com um robô para a Terra para sequestrar o Quarteto e obrigar Reed Richards a encontrar uma solução.

Para convencer o grupo a embarcar, o robô  solta um tal de “raio de hostilidade”, que faz com que todos se voltem contra os heróis. Eles estão no congresso, recebendo uma homenagem quando um congressista diz: “É hora do povo descobrir que vocês quatro são a maior ameaça que já recaiu sobre este país!” e todo mundo à volta passa a atacar o quarteto.

O planeta X vai ser destruído. 


O robô poderiam simplesmente pedir a ajuda do grupo, mas o despótico Kurrgo não parece muito afeito a convenções sociais.

Quando chega ao planeta, Reed descobre que o asteroide (ou planeta, ou cometa, Stan Lee ainda está decidindo) está prestes a se chocar contra o planeta x e encontra uma solução para colocar toda a população do planeta em uma nave de fuga: encolher todo mundo. A solução funcionaria bem melhor se ele a usasse de outra maneira, encolher o asteroide, mas sem isso não teríamos o final no qual o ditador cai em desgraça em sua sede de poder.

Kirby estreia começa a usar splah pages grandiosas para abrir os capítulos. 


Essa solução deixou uma tremenda ponta solta.  No final o Senhor Fantástico diz que quando chegarem ao novo planeta, todos terão tamanho reduzido, mas então quem pilota a nave, que tem controles para pessoas de tamanho normal?

Essa história em específico tem uma grande inovação narrativa que ia ser um diferencial dos quadrinhos Marvel. De seis em seis páginas, a história apresentava uma abertura de capítulo, com um quadro de impacto e título. Mas nessa história, Jack Kirby resolveu transformou o quadro de impacto numa splah page. A primeira delas não é tão grandiosa, mas a segunda, mostrando os heróis descendo num elevador gravitacional, é de tirar o fôlego, com uma perspectiva incrível e os detalhes tecnológicos expressionistas que eram a especialidade de Kirby.

A arte impressionante de Gabriel Andrade Jr.

 

Gabriel Andrade Jr. é Músico, Animador, Ilustrador, Artista e Roteirista de quadrinhos. Nasceu em Macau, cidade do interior do Rio Grande do Norte. Seu primeiro trabalho publicado foram ilustrações para o livro A Ordem da Rosa Branca, de Daniel Nasser, no ano de 2005. A partir de 2009, Gabriel teve seus primeiros trabalhos requisitados por editoras norte-americanas, como Kingstone Comics (The Last Convert of John Harper), Dark Horse (Aliens), BOOM! Studios (Die Hard: Year One), Sea Lion Books (adaptação do livro O Alquimista, de Paulo Coelho) e Avatar Press (Lady Death, Feral, Uber, Crossed).  Atualmente desenvolve uma série de títulos de horror e suspense com o escritor inglês Alam Moore (V de Vingança, Watchmen), com quem foi co-autor da série de sucesso internacional Crossed One Hundred.












O violonista - A HQ em que mudaram completamente meu roteiro

 


 

Ontem eu recebi o número dois da revista Além da Imaginação e me espantei ao ler minha história O Violinista. O editor simplemente pegou a idéia básica de um comandante nazista atormentado por um violinista e mudou todo o resto. Acrescentou cenas, modificou o final para um clichê das histórias de terror... do meu texto acredito que não tenha sobrado uma única frase. Para quem comprar a revista e ler a história, fica um aviso: tirando a idéia básica, não tem nada meu ali.

O violinista virou o violonista. 


O nazista dá risinhos: ri-ri-ri. 
A morte aparece para levar a pessoa má. Mais clichê, impossível.


Abaixo coloco a primeira página na versão final e o roteiro, para comparação.


O violinista

Roteiro de Gian Danton

 

Página 1

Q1 -  Um violinista em primeiro plano, tocando seu violino. É um judeu, num campo de concentração. Ele está vestido com o uniforme dos judeus nos campos de concentração, o pijama branco e azul, mas neste primeiro quadro vemos pouco dele, então poderia ser qualquer violinista tocando em qualquer lugar.

Texto: O violinista toca uma melodia de morte.

Texto: O arco desliza suavemente pelas cordas, como se chorasse com elas n uma mistura de dor e beleza.

Q2  - Agora um ângulo mais aberto, mostrando que o violinista está num local com neve e pessoas passam à frente dele, nuas.

Texto: Enquanto toca, dezenas de pessoas nuas andam, apáticos, na direção de um prédio grande, sem janelas. Algumas tremem de frio, seus pés queimando de encontro à neve branca.

Texto: Dizem que tomarão um banho quente e muitos estão gratos por isso.

Q3 – Outro ângulo do violinista.

Texto: Mas o violinista sabe o que acontecerá. Ele já viu essa cena muitas e muitas vezes.

Texto: Eles estão marchando na direção da morte chamada ziklon b.

Q4 – Plano geral, aberto, mostrando o campo de concentração, com guardas nazistas armados e prisioneiros judeus marchando para o local onde serão mortos. O violinista aparece em destaque, tocando seu violino.

Texto: Em breve estarão lutando para sair, gritando, amontoando-se nas portas, arranhando a garganta, tentando desesperadamente sobreviver de alguma forma ou diminuir o sofrimento da asfixia.

Texto: Por isso ele toca. Para acalmá-los. Para parecer que está tudo bem.

Texto:

“Dance me to your beauty with a burning violin

Dance me through the panic 'til I'm gathered safely in

Lift me like an olive branch and be my homeward dove

Dance me to the end of love

Dance me to the end of love”

Leonard Cohen

Zona do crepúsculo

 


Quando comecei a parceria com Bené, essa série já estava sendo publicada na revista Calafrio. Bené tinha publicado uma primeira história, sobre um ladrão que entra num antiquário e acaba se dando muito mal. Ele denominou essa HQ simples de Zona do Crepúsculo em homenagem ao título original do seriado Além da imaginação.
Depois percebeu que havia ali potencial para uma série. Então veio Sonhos de outono.
E Belzebu, nossa primeira juntos nessa série. Lembro que Bené chegou um dia comentando que havia descoberto que Belzebu significava demônio das moscas e achava que isso podia ser aproveitado numa HQ. O resultado foi uma história totalmente não-linear, cheia de flash backs e com um forte conteúdo social. No fundo, o demônio não seria o preconceito? Gostamos tanto do resultado que passamos a usar narrativas não-lineares em quase todas as histórias que fizemos juntos depois disso.
Então o Rodolfo Zalla pediu uma última história para fechar a série, uma história que juntasse as outras.
Mas como? Não parecia haver nada em comum entre elas. Quebramos a cabeça durante muito tempo até perceber que, sim, havia algo em comum: o dono da loja de antiguidades! Assim focamos o último capítulo nele, inclusive com referências às outras.
O leitor mais atento vai perceber uma influência óbvia: A piada mortal. Sim, o demônio da história é nossa versão do Coringa.
Uma curiosidade nessa história é que Bené inverteu o processo. Ou seja: ao invés de desenhar em preto sobre papel branco, ele desenhou em branco sobre papel preto, uma técnica que poucos dominam.
Zalla estava gostando tanto da Zona do Crepúsculo que nos pediu uma capa. Nossa história ia ser a grande destaque da revista! De novo, tínhamos um desafio: como fazer essa página sem revelar o conteúdo a HQ e dentro do espírito. A forma como solucionamos isso mostra como já estávamos afinados à essa altura do campeonato. Passamos longos minutos em silêncio, matutando, e, de repente, os dois soltaram:
- Tive uma ideia!
E era a mesma ideia: o dono do antiquário abrindo a porta, com olhar assustado, a imagem vista como se o leitor fosse quem estivesse do outro lado da porta.

Não adiantou muito. Logo depois a revista acabou e tanto a capa quanto a última parte acabaram não sendo publicados na Calafri. A série só saiu completa na Calafrio mais de 20 anos depois, na nova versão de revista. A revista tem 52 páginas ao preço de R$15,00. Os pedidos da edição e números atrasados podem ser feito pelo e-mail: revistacalafrio@gmail.com.

terça-feira, novembro 19, 2024

Últimos dias! Saiba como enviar artigos para o livro Poética e Nona Arte: da poesia nos quadrinhos ao quadrinhos poético-filosóficos - últimos dias!

 


Poética e Nona Arte: da poesia nos quadrinhos ao quadrinhos poético-filosóficos

A antologia Poética e Nona Arte: da poesia nos quadrinhos ao quadrinhos poético-filosóficos reunirá artigos sobre os vários aspectos da relação entre poesia em quadrinhos, desde as HQs que usam elementos de poesia até os quadrinhos póéticos-filosóficos, passando por análises do texto nos quadrinhos.

Também serão aceitas histórias em quadrinhos que tenham relação com o tema da obra.

Os artigos deverão ter entre 10 e 15 páginas, incluindo imagens e referências (ver abaixo as normas de apresentação do artigo).

As histórias em quadrinhos devem ter no máximo 8 páginas.

O livro será lançado pela Marca de Fantasia e será organizado por e Ivan Carlo Andrade de Oliveira, Edgar Franco e Gazy Andraus.

Os artigos devem ser enviados até 26 de Novembro de 2024 para o e-mail profivancarlo@gmail.com.

 

 

 

[TITULO DO TRABALHO EM NEGRITO E CAIXA ALTA, CENTRALIZADO, FONTE 12, LETRA TIMES NEW ROMAN, ESPAÇAMENTO SIMPLES]

 

[nome completo do/a autor/a, alinhado à esquerda, fonte 10][1]

 

[Introdução e demais subseções com primeira letra em maiúsculo, fonte 12, negrito, alinhado à esquerda]

 

[Texto em espaçamento 1,5 cm, fonte times new roman 12, alinhamento justificado, deslocamento na primeira linha em 1,25cm. Mínimo de 10 e máximo de 15 páginas, incluindo referências bibliográficas e imagens. Notas de rodapé devem ser usadas apenas para complementar dados essenciais. Referências bibliográficas devem ser inseridas no corpo do texto conforme orientação de citação entre parênteses, com sobrenome do autor em caixa alta, ano e página. Ex (Reblin, 2013, p.28)]

[Citações com mais de 3 linhas devem seguir padrão ABNT: Fonte tamanho 11; recuo de 4 cm da margem esquerda; espaçamento das entrelinhas da citação deve ser simples. Ex:

Ao ler histórias de ficção, mergulhamos no universo que nos é contado. Esse universo contado para nós não é moldado a partir do nada, mas é criado com base no modelo que o autor e, num espectro mais amplo, a sociedade em que o autor habita possuem sobre a realidade e suas vicissitudes. Nessa perspectiva, é possível afirmar que as histórias dos super-heróis são uma espécie de “janela da realidade” a partir da qual temos acesso a um mundo ficcional, calcado no real (Reblin, 2013, p.28)

 

 

[Imagens devem ser inseridas no texto, centralizada, com legenda acima da imagem e fonte abaixo, ambas com fonte 10. Título da imagem em negrito. As fontes das imagens devem constar também na relação de Referências ao final do texto. Ex.

 

Quadro 1 - Título do quadro

 

Atividade

Tipo

Quantidade realizada

 

Percepção

Leitura de Quadrinhos

Álbuns 

5

 

Materialidade

Leitura de E-Comics

Tiras

8

 

Dispositivo

 

Fonte: (pode ser uma referência ou decorrente da pesquisa de campo)

 

 

 

Figura 1Capa da HQ Persépolis



Fonte: Quadrinhos na Cia, 2007.

Referências

Fonte times new roman 12, espaçamento 1cm, entrelinhas simples, alinhamento à direita.

Impressos

SOBRENOME, Nome. Título: subtítulo (se houver). Edição (se houver). Local de publicação: Editora, ano de publicação da obra. 

Exemplos:

SATRAPI, Marjane. Persépolis. São Paulo: Quadrinhos na Cia, 2007.

ARUZZA, Cinzia; BHATTACHARYA, Tithi; FRASER, Nancy. Feminismo para os 99%: um manifesto. São Paulo: Boitempo, 2019.

Online

SOBRENOME, Nome. Título do material. Negrito para a fonte principal (site/revista/periódico, etc.), volume, página, ano.  link, data de acesso. 

Exemplo:

SANTOS, Mariana Oliveira dos; GANZAROLLI, Maria Emília. Histórias em quadrinhos: formando leitores. Transinformação, v. 23, n. 1, p. 63-75, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-37862011000100006&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: 20 jan. 2021



[1] [Última titulação e vinculação acadêmica em nota de rodapé na primeria página, fonte times new roman 10, espaçamento simples, não ultrapassar duas linhas para cada autor/a, incluir link de orcid. E-mail opcional]

O escaravelho do diabo

 

 

Um dos livros mais célebres da coleção Vaga-lume era O escaravelho do diabo, de Lúcia Machado de Almeida.

A história foi publicada originalmente em capítulos, no ano de 1953, na revista Cruzeiro. Mas se tornou realmente popular quando foi publicada em 1974 pela editora ática, dentro da coleção vaga-lume. Na década de 1980, auge da coleção, tornou-se um dos títulos mais vendidos.

Na trama, a pequena cidade paulista de Vista Alegre é aterrorizada por uma série de assassinatos. Antes das mortes, o criminoso envia para a vítima um besouro – e o nome científico do mesmo indica como acontecerá o crime. O protagonista é um jovem estudante de medicina, Alberto, cujo irmão é a primeira vítima do assassino. É ele quem descobre a relação entre os besouros e os crimes e é quem passa a ajudar a polícia a decifrar o enigma.

Lúcia Machado de Almeida era uma escritora primorosa, cujo estilo marcou a literatura infanto-juvenil brasileira, influenciado muitos outros autores posteriores. Embora seja uma história de crimes, o livro é contado de maneira leve para agradar o público mais jovem.

Uma curiosidade é que esse livro é, provavelmente, um dos primeiros da literatura nacional a descrever um psicopata: “O assassino, certamente um anormal, raciociona com lucidez e possui inteligência fora do comum. De outro modo, jamais planejaria e levaria a cabo crimes tão perfeitos e que não deixam o menor vestígio. Possivelmente deve ser alguém igual a nós, de comportamente, aparentemente normal, alguém que arquitetou um plano e estudou-o com calma e tempo nos seus mínimos detalhes”.

Escrito na década de 50, a obra tem alguns aspectos que parecem estranhos hoje em dia. Motorista de taxi, por exemplo, é chamado de chofer. Em uma sequência, é necessário ligar para a polícia e não há nenhum telefone em todo o bairro, fazendo com que a pessoa se desloque pessoalmente à delegacia. Ainda assim, é um livro prende a atenção, especialmente pelo suspense criado sobre o que está de fato acontecendo. É uma trama que instiga a imaginação do leitor.

Infelizmente, embora a descrição do perfil psicológico do assassino fosse totalmente inovadora e incrivelmente acertada para a época, a descoberta do assassino e da motivação do caso passava longe disso. Compreensível, considerando-se que na década de 50 a psicologia praticamente desconhecia a psicopatia. É de se imaginar como a autora teria terminado o livro se tivesse acesso ao que se sabe hoje sobre o assunto.

As quatro nobres verdades do budismo

 


A primeira palestra de Buda após a iluminação trata de sua grande descoberta: as quatro nobres verdades.

A primeira verdade é existência do sofrimento. Vivemos num mundo em que existem doenças, velhice, morte. Negar isso é tentar viver numa bolha de ilusão e só traz mais sofrimento.

Mas Buda usou a expressão dukkha, que pode ser traduzida como sofrimento físico, mas também pode ser traduzida como sofrimento psicológico, em especial a insatisfação, o que nos leva à segunda nobre verdade.

A segunda nobre verdade é a causa do sofrimento.

Estamos eternamente insatisfeitos por conta dos desejos, que geram apego. Se estamos num momento de felicidade, desejamos que aquele momento dure para sempre.

Tentar se fixar num momento de felicidade também traz sofrimento, pois tudo muda, tudo é impermanente, tudo é transitório e perecível. Um exemplo é a pessoa que está num relacionamento. Ela diz minha namorada, meu namorado, o que é uma ilusão, apego. Quando o relacionamento acaba, a pessoa é incapaz de aceitar a mudança, o que tem gerado muitas tragédias, inclusive com assassinatos. O apego faz com que a pessoa prefira que a outra pessoa morra a admitir a mudança.

Recentemente tivemos a revelação de um caso de um homem que aprisionou sua companheira e os filhos durante 17 anos, temendo que em algum momento o relacionamento acabasse. Mãe e filhos foram encontrados desnutridos, com vários problemas de saúde e psicologicamente abalados. Casos como esse demonstram todo o sofrimento provocado pelo apego e pelo desejo de manter um relacionamento imutável.

“Os homens temem, naturalmente, o infortúnio, e almeijam a felicidade, mas se estudarmos cuidadosamente essa distinção, verificamos que o infortúnio muitas vezes se torna felicidade e que a ventura se torna felicidade”, afirma o livro A doutrina de Buda. “O sábio aprende a encarar as cambiantes circunstâncias da vida com uma mente imparcial, não se exaltando com o sucesso nem se deprimindo com o fracasso”.

Um outro exemplo: desejamos uma casa para morar. Quando finalmente conseguimos a casa, queremos uma casa maior. Quando compramos a casa maior, pensamos: quero uma casa com piscina. Assim, o desejo nunca será satisfeito, gerando um ciclo de insatisfação.

O apego faz com que não consigamos nem mesmo usufruir dos momentos de felicidade, pois estamos sempre focados no futuro, no que ainda não temos.

Por outro lado, o apego também gera o medo da perda. A pessoa tem o desejo de ter um carro de luxo. Quando o consegue, fica atormentada com a ideia de que um dia possa perdê-la num assalto ou num acidente.

“O mundo sofre de frustação, ânsia e é escravo do desejo”, dizia Buda.

A terceira nobre é verdade diz que é possível escapar desse ciclo de dor provocado pelo apego.

A quarta nobre verdade trata do caminho para a extinção do sofrimento.

Esse caminho é o caminho do meio, ensinado por Buda. 

Jornada nas Estrelas - A licença

 


A licença é um dos episódios menos lembrados da primeira geração de Jornada nas Estrelas. Entretanto, é um dos exemplos de como a série criada por Gene Roddenbery podia abordar todo tipo de trama sem fugir do padrão de qualidade.
Na história, McCoy percebe que a tripulação da Enterprise apresenta sinais de stress e aconselha uma licença em um planeta paradisíaco. O local  não tem animais e nenhum tipo de perigo: apenas uma bela vegetação. Parece o planeta ideal para relaxar.
Entretanto, coisas estranhas começam a acontecer ao grupo de reconhecimento e, quando Kirk desce, o teletransporte deixa de funcionar, assim como as comunicações como a nave.
Os fatos bizarros se sucedem: magro vê o coelho e a garota de Alice no país das maravilhas, Sulu encontra um revólver, uma antiga namorada de Kirk surge do nada.
Emily Banks interpretou o par romântico de McCoy. 

Essa é a típica história em que o encanto está em tentar entender o que está acontecendo. É um episódio leve, com toques de humor e um bom contraponto ao tenso episódio anterior, O equilíbrio do terror.
O episódio dá a entender que há algum tipo de envolvimento amoroso entre McCoy e a ordença Barrows (interpretada pela linda Emily Banks), algo que provavelmente foi esquecido por outros escritores da série. Uma pena, já que o casal parecia ter química.