quinta-feira, março 06, 2025

Perry Rhodan – O sacrifício de Thora

 



Não há spoiler nenhum em dizer que no número 78 da série Perry Rhodan, Thora, esposa do herói, morre. Essa informação já está expressa no título. Sendo ela uma das personagens mais relevantes da franquia, era de se esperar que esse número fosse memorável, mas infelizmente não é o que acontece.

Escrito por Kurt Brand, o livro gira em torno de uma tentativa dos terranos de comprar 100 naves arcônidas. Em uma trama paralela acompanhamos a degenerência da esposa de Rhodan, que, mesmo após receber o soro dos aras, que deveria prolongar sua vida, passou a envelhecer em ritmo crescente a ponto de se tornar uma idosa com dificuldade até mesmo para se levantar da cadeira.

Os médicos aconselham que ela seja incubida de alguma missão, aparentemente como forma de terapia psicológica. Parece uma forma pouco ortodoxa de fisioterapia para uma moribunda, tanto que Rhodan se recusa, mas Bell o convence dizendo que ele está sendo egoísta. Um diálogo, aliás, que não faz o menor sentido.

Metade do livro é dedicado aos preparativos para a viagem, à descrição do estado de saúde de Thora e à conversa entre Bell e Rhodan. Mesmo quando a viagem começa, não acontece nada. Há um desvio totalmente desnecessário para a zona de guerra, que parece ter tido o objetivo apenas de fazer a nave aparecer no meio de uma batalha e dar um pouco de ação ao volume.

Capa alemã. 


Começa a acontecer alguma coisa só lá pela página 120 (o volume tem 169 páginas), quando o computador regente de Árcon aprisiona a comitiva que tinha ido negociar a compra das naves, incluindo Thora.

O título do volume dá a entender que Thora irá se sacrificar pelo bem da humanidade, em um final heróico e apoteótico. Nada disso. A morte dela acontece quando tudo já está resolvido e é mostrada com quase nenhum impacto (culpa de Kurt Brand, que ao invés de focar a narrativa no que está acontecendo, foca em Deringhouse, que sequer está no local dos acontecimentos e só chega quando tudo já aconteceu).

É decepcionante perceber que uma personagem tão querida e tão forte (provavelmente a única personagem feminina de relevância da série nesse período) tenha perdido seu protagonismo no segundo ciclo e termine sua participação na série num livro tão fraco. É possível que os grandes escritores, como Clark Darlton, estivessem ocupados com outros volumes importantes, mas torna-se incompreensível que K.H. Scheer, o coordenador da série, tenha colocado esse volume nas mãos de Kurt Brand ao mesmo tempo em que relegava William Voltz com volumes menos relevantes. Afinal, os dois à época eram calouros na série.

Jornada nas Estrelas – O intruso

 

 

No último episódio exibido na série clássica de Jornada nas Estrelas, a Entreprise responde a um pedido de socorro de uma expedição arqueológica cujos membros estão contaminados por radiação. Entre as pessoas que estão entre a vida e a morte encontra-se a Dra. Janice Lester, que na juventude teve um relacionamento com James T. Kirk.

Quando os dois são deixados sozinhos, Janice prende Kirk em um equipamento que faz com que seu espírito troque de corpo com o capitão.

Uma vez na Enterprise, o Capitão, agora transformado na cientista, precisa provar sua identidade e evitar que a antiga namorada tome o controle da nave.

Parece confuso e é. Mas ótimas obras de ficção científica têm enredos igualmente inverossímeis. Mesmo Jornada tem episódios cujo enredo em um primeiro momento são difíceis de acreditar.

Acontece que na trama há diversos problemas, a começar pela cena em que os dois trocam de corpo. O roteiro exigia que fossem deixados sozinhos então, do nada, Spock afirma que encontrou uma forma de vida e todos saem em busca da mesma. Não faz o menor sentido, já que não há nenhuma busca por seres extraterrestres. Como depois a saída do grupo não é explicada, fica óbvio que era apenas um roteirismo: uma situação criada para que a trama se desenvolvesse.

Na mesma cena há outro problema de roteiro. À certa altura, Kirk para de conversar com a ex-namorada e resolve olhar o equipamento alienígena, sem razão nenhuma, o que dá a ela a oportunidade de colocar seu plano em prática. Não há nenhuma motivação real para ele fazer isso além da necessidade do roteiro.

O outro ponto é a motivação de Janice de se tornar uma capitã de nave estelar. É possível que o objetivo fosse denunciar machismo, mas como foi feito acaba sendo apenas sexista: Janice teve as mesmas oportunidades que Kirk e só não conseguiu por falta de méritos. Talvez o episódio funcionasse melhor com um personagem homem, até porque a relação entre Kirk e Janice é muito mal explorada e explicada.

Além disso, a atuação de Shatner é outro complicador. Embora o ator consiga imprimir uma característica diferente ao personagem, ele não tem nada de feminino. Aliás, algumas cenas em que o processo falha beiram o humor involuntário graças aos exageros de Shatner (eu particularmente gosto desses exageros em alguns episódios, mas não nesse).

O episódio inteiro acaba valendo pelas cenas do julgamento de Spock, uma vez que Janice, no corpo do Capitão, decide submetê-lo a uma corte marcial.

Não existe pré-projeto de pesquisa

 


A palavra projeto vem do latim “projectu”, que significa lançar para a frente. Ou seja, é algo que ainda não existe, é algo que está sendo projetado, que só existirá concretamente no futuro.
Em ciência, projeto significa um planejamento da pesquisa, com tema, delimitação, problema, hipótese, metodologia etc. O futuro do projeto dará origema algo pronto, seja um artigo, uma monografia, uma dissertação de mestrado, uma tese.
No entanto, de uns tempos para cá tornou-se comum usar a expressão ‘pré-projeto” de pesquisa. Como é necessário nomear o projeto final, passaram a usar projeto para o resultado da pesquisa. Assim, a monografia vira um projeto, subvertendo completamente o sentido da palavra “projeto”. Se está pronto, não pode ser projeto.
A situação é tão bizarra que dia desses um amigo arquiteto disse que ia me mostrar o projeto de um prédio. Achei que fosse uma maquete, ou uma planta baixa. Cheguei lá era o prédio pronto.
Provavelmente, em algum momento alguém leu um projeto de pesquisa e comentou que estava tão ruim que não era nem um projeto, mas um pré-projeto, ou seja um esboço. Alguém ouviu, achou a palavra bonita e pensou que fosse um elogio. E aí começou a confusão de se chamar o produto final de projeto e o que vem antes de “pré-projeto”.
Então, crianças: não existe pré-projeto. Se ainda não está pronto, se é apenas um planejamento, é projeto. E o produto final é o produto final, não um projeto, seja uma monografia, uma dissertação ou um edifício. 

O orgulho da ignorância

 

Sócrates dizia que era o homem mais sábio da Grécia justamente porque ele era o único que sabia que não sabia. Esse conhecimento de sua própria ignorância sempre foi o que impulsionou os grandes pensadores. Mas hoje vivemos tempos estranhos, em que não saber algo, ou saber de forma superficial, é considerado um mérito.
Hoje, alguém que viu um meme na internet ou um vídeo de cinco minutos se considera uma autoridade no assunto. Mais: considera-se uma autoridade mais competente do que quem passou a vida estudando aquele assunto, escreveu livros, artigos etc.
Um exemplo: em uma discussão sobre educação, um indivíduo defendia que a solução para a educação no Brasil era apenas mudar a "grade" curricular. Feito isso, tudo se resolvia por mágica. Segundo a pessoa, era preciso esquecer ignorar todos os pensadores da educação e se focar apenas nisso: mudar a "grade". Não sabia exatamente que tipo de mudança, mas sabia que a solução para tudo estava na mudança da "grade". Onde ele aprendera isso? Num meme.
Outro exemplo é a questão dos que defendem que o nazismo era comunista. Leandro Karnall, doutor em história e um dos mais importantes historiadores brasileiros, diz que em décadas participando de congressos internacionais, nunca ouviu falar disso. Mas, segundo os defensores do nazismo-comunista, Leandro Karnall é suspeito para falar justamente por ser um historiador.
Eu já escrevi um livro sobre o nazismo e, durante a pesquisa em vários outros livros e sites sérios na época não encontrei nenhuma referência a isso de nazismo-comunista. Mas, segundo alguns comentadores de internet eu sou suspeito para falar sobre assunto justamente por ter escrito um livro sobre o nazismo. Ou seja: o fato de eu ter pesquisado o suficiente para escrever um livro, faz com que eu tenha menos autoridade para falar sobre o assunto do que uma pessoa que viu um meme com uma imagem de uma moeda com a suástica e a foice e o martelo (uma imagem que ninguém sabe dizer a fonte) ou viu um vídeo de dois minutos.
Por outro lado, os tais "especialistas de meme" são incapazes de explicar, por exemplo, por que os nazistas usavam um símbolo budista sem serem budistas.
São pessoas que não sabem sequer o que é uma variável independente ou o que é um grupo placebo, mas dizem que entendem mais de remédios do que os pesquisadores que pesquisam o assunto há anos. São as mesmas pessoas que dizem que um remédio que nunca passou por um teste científico é mais seguro do que uma vacina testada em milhões de pessoas em todo o mundo seguindo todos os protocolos de uma pesquisa experimental.
Essas são pessoas que fazem campanha contra a mídia e contra os livros. Nos comentários das páginas de jornais é comum encontrar postagens com telefones para cancelar a assinatura. Em postagens sobre livros, os comentários argumentam que livros são mentirosos. Para essa geração, orgulhosa de sua própria ignorância, a verdade está lá fora: no zap zap.
Tristes tempos em que ser ignorante virou motivo de orgulho.

Capitão América – a escolha

 


Em 2007 a Marvel publicou uma série que mostrava os últimos dias de alguns de seus mais famosos personagens escritos e desenhados por autores que tinham uma ligação com eles. O Hulk, por exemplo, era de Peter David e Dale Keown. Para o Capitão América resolveram fazer algo diferente: convidar o escritor David Morrell para escrever a história.
Morrell é autor do livro First Blood, que deu origem à série de filmes de Rambo. É um especialista em histórias de guerra. Para desenhar chamaram Mitch Breiweiser.
A história se passa no Afeganistão. 


A HQ começa com um soldado americano lutando no Afeganistão, contando com a ajuda do Capitão. Parece uma simples patriotada sem muito significado. Mas, pouco depois, quando o soldado e seus amigos ficam presos numa caverna soterrada, a trama ganha peso psicológico tanto para o herói quanto para o soldado. “Como se trata de um sombrio exame psicológico do Capitão América, a caverna é bastante apropriada. Estamos entrando nas profundezas das trevas do Capitão. É essa metáfora que eu buscava”, explicou o autor.
O escritor aproveita para resignificar alguns fatos da história do Capitão, explicando por exemplo, porque alguém tão magro foi escolhido para ser o super-soldado. Na versão de Morrell, todos os grandalhões se revelaram pessoas sem capacidade psicológica para empunharem o escudo, pois o soro do supersoldado extrapolava suas características psicológicas, transformando-os em valentões. Já Steve Rogers é centrado no lema: coragem, honra, lealdade e sacrifício. Coragem, como fica claro na história, não é não ter medo, mas saber lidar com eles.
No final, é uma história que sabe aproveitar o legado do sentinela da liberdade e aprofundar sua personalidade – ao mesmo tempo em que explora sua característica de símbolo.
Essa HQ foi publicada no número 55 da coleção de graphic novels Marvel, da Salvat. Os responsáveis, aliás, cometem um erro logo de cara, que desvaloriza a HQ: acabaram escolhendo a pior capa de toda a série.

Galeão - um mistério a desvendar

 


 
Meu livro Galeão vai ganhar uma nova edição pela editora Avec. A nova versão tem uma nova capa e uma nova e belíssima concepção visual. A edição está em pré-venda no site da editora, com preço promocional. Para comprar, clique aqui



Misturando mistério e fantasia história, Galeão conta a história de um navio desgovernando em pleno oceano Atlântico em que coisas estranhas começam a acontecer. A comida está desaparecendo, pessoas que não poderiam estar ali aparecem no navio e, para piorar, pessoas estão sendo mortas. Se isso não fosse o bastasse, o leitor descobre que cada um dos personagens tem algo a esconder de seu passado. Dessa forma, o livro se torna um mistério a desvendar. 

quarta-feira, março 05, 2025

Perry Rhodan – Gom não responde

 


Gom não responde, volume 47 da série Perry Rhodan é uma continuação direta de Projeto aço arcônida, na qual Bell e um grupo de mutantes vai à conferência dos aras com os superpesados e os mercadores galácticos para tentar mudar as coordenadas da Terra no computador do único que sabe onde fica nosso planeta.

No final do volume, eles escapam, mas uma força paranormal faz com que sua nave caía no planeta Gom. O que acontece com eles e os perigos enfretados é mostrado nesse volume escrito por Kurt Mahr.

Mahr descreve Gom como uma verdadeira ante-sala do inferno: “Gom era um mundo de oxigênio, com uma gravitação na superfície de 1,9 e uma pressão do ar de vinte atmosferas. Um mundo onde o homem não poderia parar de pé mais que dois minutos e onde precisaria de proteção de trajes espaciais para não ser esmagado pela fortíssima pressão”.

Se não bastasse isso, o planeta tem como habitantes locais os solhas, placas marrom escuro que têm grande poder paranormal, sugam matéria e podem se unir em seres gigantescos. Outra ameaça são os bios, seres artificiais criados pelos aras.


A capa original alemã. 

Como é possível perceber, esse volume é um verdadeiro triller de sobrevivência, que vai muito além daqueles que se passavam no planeta Vênus.

Uma surpresa do volume é a forma como Mahr trata Betty Toufry. O volume, escrito no início da década de 1960 mostra a mutante de forma pouco usual naquela época eminentemente machista, em que a maioria das heroínas se limitava a gritar e ser salva pelos heróis.

Quando a nave cai no planeta, por exemplo, todos os homens acreditam que a teriam que voltar para a nave para resgatar a garota que estaria morrendo de medo. Mas encontram Betty sentada numa pedra, sorrindo. Já no final da aventura, Bell aconselha a garota a ficar dentro da nave num momento de perigo: “O negócio vai começar a pegar fogo, senhorita, o melhor é ficar dentro da nave”. “Eu gosto de fogo, senhor Bell.”, responde ela. “Além disso, não gosto que ninguém diga que sou covarde.”.  

A arte impressionante de Jeff Dekal

 


Jeff Dekal é um ilustrador norte-americano que se tornou conhecido após a série de capas produzidas para a revista Journey Into Mystery. Sua carreira começou em 2011 quando ele descobriu que havia um editor da Marvel analisando portfólios em uma convenção. O editor gostou do que viu e poucas semanas depois mandou o convite para a produção das capas. Seu trabalho pintado se destaca pelo realismo e pelas figuras repletas de poder. Apesar de estar pouco tempo na indústria dos comics, é um dos artistas de capas que mais têm se destacado.










Guia de viagem - Montevideo

 


Montevideo é uma boa opção de destino turístico internacional para brasileiros. É fácil chegar na capital do Uruguai via carro ou ônibus. E a cidade vale a pena, principalmente graças aos edifícios e monumentos históricos. 
Uma ressalva: cuidado com os hotéis. Alguns têm fotos maquiadas no booking. O que ficamos foi um desses, Richmond. A diferença entre o hotel real e o que eu lembrava era tão grande que fiz questão de entrar no site do Booking novo para ver as fotos. Era o mesmo hotel, mas com fotos maquiadas. Além disso, o box para banho era tão pequeno que o jeito foi tomar banho com a cortina recolhida, o que molhava todo o banheiro.
Uma curiosidade é a praia. Montevideo tem muitos quilômetros de praias belíssimas e uma extensa beira Rio. Os habitantes locais descem dos prédios com suas cadeiras de armar, suas garrafas terminacas e cuias, afinal um dos principais programas da cidade é tomar o tererê na beira da praia. Talvez por todos já levarem suas própria bebida, não há quiosques ou vencedores ambulantes vendendo água ou água de coco, como no Brasil. Então, leve sua água. 
Prepare o bolso. A comida é cara. A boa notícia é que geralmente o cliente ganha um desconto se pagar no cartão. Então vale a pena usar o cartão em restaurantes.
O prato típico do Uruguai é o chivito, um sanduíche de prato com carne, batata frita, salada, ovo frito, carne, queijo e presunto. Uma verdadeira bomba calórica, mas vale a pena experimentar.  

Um dos locais mais conhecidos para se comer é o Mercado Del Puerto. Ali o churrasco é preparado na hora, de uma forma muito diferente do Brasil. Como usam madeira, ao invés de carvão, a carne é colocada ao lado do fogo, e não em cima. Há um prato chamado parrilha, que é um mix de carnes. Para carnívoros é literalmente um prato cheio. Além da carne costuma vir apenas um acompanhamento, chamado de guarnição, que pode ser pão, arroz, batata frita, purê ou salada, mas todos são pagos, então verifique o preço de tudo antes de pedir.

Atenção: coma nós balcões e não nas mesas chiques. Como chegamos cedo, vimos a organização. Eles simplesmente jogam no chão as toalhas de mesa e guardanapos e separam os que estão muito sujos. Os que ainda estiverem relativamente limpos são colocados de volta na mesa. 
La Fonda, um restaurante especializado em massas artessanais. 

Próximo do mercado um restaurante que gostamos muito foi o La Fonda, especializado em massas artesanais. As massas e molhos são preparados na frente dos clientes. Comemos um nhoque com creme de champions e nozes que estava simplesmente divino. 
As massas são preparadas na hora, na frente do cliente. 
O prato que comemos: nhoque com molho de  champions e nozes.

Uma das vantagens de Montevideo é que a maioria dos espaços públicos, como praças e praias, tem wi-fi gratuito, o que facilita bastante para consultar um mapa ou chamar um Uber, então faça o login e aproveite. 
Uma boa opção para conhecer a cidade é pegar o bus turístico, que percorre os principais pontos turístico. Uma dica: se for descer em locais como o jardim botânico, leve água: ao contrário do Brasil, não se encontra vendedores ambulantes em nenhum local.
Palácio Salvo, uma das atrações turísticas da cidade. 

Um dos locais mais interessantes da cidade é o Palácio Salvo, com a sua arquitetura única. Construído em... el foi durante algum tempo o mais alto da América Latina e ainda hoje está em funcionamento. É possível fazer uma visita orientada paga e subir no mirante, no qual é possível ver uma bela imagem da cidade por cima. 
Vista da cidade a partir do mirante do Palácio Salvo

Palácio Legislativo.


Memorial aos últimos charrúas (índios que habitavam a região) no Jardim Botânico.

A maconha é legalizada no Uruguai e pode ser encontrada em lojas. 

As propagandas da Coca-cola são com pin-ups. 

As lixeiras de Montevideo são uma atração à parte. 

Livraria Más Puro Verso.
Praça Zabala
A cidade fica à beira do rio da Prata. 
Teatro Solis.

Os melhores do mundo

 


Super-homem e Batman são os dois mais famosos heróis da DC. Embora sejam totalmente diferentes um do outro, foram unidos em uma das revistas de maior sucesso da Era de Prata, a Word´s Finest (conhecida aqui como Melhores do Mundo). Um dos fãs dessa revista era o desenhista Dave Gibbons, famoso pela série Watchmen. Gibbons propôs à DC fazer uma série, revivendo a parceria. Para desenhá-la foi escalado Steve Rude O resultado foi uma das melhores publicações da década de 1990.
Em muitos sentidos, Melhores do Mundo é o oposto de Watchmen. Se Watchmen teve como principal mérito a desconstrução dos super-heróis, em uma abordagem extremamente realista, Melhores do Mundo é uma homenagem aos heróis e às suas características mais marcantes.
Pelo que pode-se ler do roteiro no final do volume publicado pela Panini, Gibbons deu total liberdade narrativa a Steve Rude, descrevendo apenas sequências, que o desenhista poderia desenvolver de acordo com sua própria narrativa visual. E, meus amigos, Rude é a grande atração da revista. Seu desenho de linhas simples, limpas, mas repleto de detalhes de fundo, é simplesmente perfeito para o projeto. A sequência em que Bruce Wayne visita o Planeta Diário é um bom exemplo disso. Embora o foco seja a convera de Wayne com Lois Lane, as mulheres que passam por eles e olham maravilhadas para o milionário ajudam a caracterizar o alter-ego do Batman como um galã pelo qual todas as mulhes se apaixonam.
O traço limpo e anatômico de Steve Rude era um alívio numa época em que até os músculos dos heróis tinham músculos.

Na história, os vilões fazem um acordo e trocam de cidade: assim, o Coringa vai para Metrópoles e Lex Luthor tenta dominar Gothan. Esse acordo faz com que o Super-homem e Batman também troquem de cidade.
A caracterização dos dois locais é um dos pontos altos da série: Gothan é uma cidade gótica e sombria, suja, enquanto Metrópolis é uma iluminada e dourada cidade art-decó.
Essa dicotomia se reflete também nos protagonistas. Na primeira vez que se encontram, Bruce Wayne e Clark Kent estão abaixo de um relógio, que marca meia-noite e cinco. Wayne diz: “Boa noite”, ao que o outro retruca: “Bom dia”.
Publicada no início dos anos 1990, Os melhores do mundo era um verdadeiro ponto fora da curva numa época em que os heróis estavam se tornando cada vez mais sombrios e violentos e o desenho se tornava uma atração em si (como se fossem pôsteres), deixando a narrativa em segundo plano. Na década de 1990, até os músculos dos heróis tinham músculos.
A série era uma deliciosa volta aos tempos em que os quadrinhos eram apenas divertidos.

Mary Shelley, o filme

 


A maioria dos fãs de literatura de ficção científica conhece a escritora Mary Shelley e sua obra mais famosa, Frankstein. Poucas pessoas, entretanto, conhecem detalhes da vida da autora. O filme Mary Shelley, dirigido por Haifaa Al Mansour e recentemente lançado na Netflix preenche essa lacuna.
Shelley vinha de uma família de gênios. Seu pai, William Goldwin, foi um autor reconhecido em sua época e um dos precursores do anarquismo. Sua mãe, Mary Wollstonecraft, foi uma das primeiras escritoras britânicas e é considerada a fundadora do movimento feminista. Aliás, a mãe vinha de dois relacionamentos conturbados, com homens com os quais ela não se casou e morreu poucas semanas após o nascimento da filha.
Assim, o filme acompanha a jovem Mary Wollstonecraft Godwin sonhando em ser escritora, inebriada pelo legado da mãe quando uma viagem à Escócia a leva a conhecer o jovem poeta radical Percy Shelley, pelo qual se apaixona. Posteriormente Shelley se torna uma espécie de aluno de William Godwin e o relacionamento entre os dois se concretiza. É quando se descobre que o poeta é casado com uma outra jovem e tem até mesmo um filho com ela. Desconsiderando o conselho paterno, ela foge com o poeta e passa viver com ele, para grande escândalo da sociedade da época.
O breve resumo acima mostra o quanto a vida da autora de Frankstein é tão interessante e romântica quanto o próprio livro a tornou célebre.
A diretora explora bem o clima da época, a personalidade de Mary, as contradições dos personagens e detalha o surgimento do livro, resultado de uma série de experiências pessoais da autora que a inspiraram, incluindo a perda da filha.
Frankstein não é só a obra fundadora da ficção científica. É também um livro genial, de grandesa literária única e forte aspecto filosófico (que nunca foi de fato captado pelas suas versões cinematográficas). E é mais surpreendente ainda considerando-se que a autora só tinha 18 anos quando ele foi publicado. Portanto, é inacreditável que uma cinebiografia da autora só tenha surgido dois séculos depois da publicação de Frankstein, uma falha que é corrigida agora, com louvor.