Isso aconteceu
no início dos anos 1990, muito antes da internet, e numa época em que os
telefones não haviam se popularizado.
As histórias
da dupla Gian-Bené faziam tanto sucesso na revista Mephisto que a editora ICEA
encomendou uma revista nossa, com o nosso tipo de terror.
Nós
conhecíamos alguns artistas que admirávamos, novos talentos, influenciados
pelas mesmas obras que nós, e muitos deles fãs da dupla Gian-Bené. Assim,
depois de semanas de troca de cartas (e algumas ligações de telefones públicos),
conseguimos xerox de algumas histórias para montagem de uma boneca do que seria
a revista Arkanus (para quem não sabe, boneca é uma prévia de uma publicação.
Hoje em dia é feita no computador, mas na nossa época era na base do corta
ecola).
Lembro que
passamos um final de semana inteiro trabalhando nessa boneca. Eu fiz alguns
textos, o Bené fez uma proposta de capa, colocamos algumas histórias nossas,
outras desses novos talentos. Também indicamos como seria a diagramação da
revista. Quando saí na casa do Bené, no domingo, parecia tudo perfeito.
No dia
seguinte, quando fui lá, perguntei se ele já tinha colocado no correio, ele:
- Ih,
compadre, tenho uma notícia ruim.
- Como
assim, que notícia ruim?
- Ontem o
meu primo veio aqui e levou a boneca para a casa dele.
Entrei em
desespero:
- Como assim,
compadre? Onde esse primo mora? Vamos imediatamente lá pegar a boneca da
revista e enviar pelo correio.
- Compadre,
essa não é a notícia ruim.
Olhei-o,
desconfiado:
- Como
assim, o que pode ser pior?
- Ele perdeu
a boneca no ônibus. Não chegou nem na casa dele.
E lá se foi,
junto com o protótipo da revista provavelmente jogado no lixo, o sonho de
termos uma revista seriada com o nosso jeito de fazer quadrinhos de terror.
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