segunda-feira, junho 17, 2024

Sete anos no Tibet

 


Em 1939 o alpinista austríaco Heinrich Harrer tentou escalar o monte Himalaia. Uma avalanche, seguida de tempestade, fez com que ele tivesse que descer a montanha. Quando chegou ao pé do local, foi preso. Tinha começado a II Guerra Mundial e todos os alemães e austríacos na Índia deveriam ser presos (ainda mais ele, que era filiado ao partido nazista).

Desde as primeiras cenas, a impressão que temos de Harrer é de que ele é um homem detestável. Ele vai escalar o Himalaia para não estar presente quando seu filho nascer (a esposa está grávida), ele é arrogante e trata mal os companheiros de escalada. Quando conseguem fugir do campo de prisioneiros, ele demonstra toda a sua arrogância, egoísmo e mesquinharia. Em uma certa situação, por exemplo, eles estão com fome e os locais se interessam pelo relógio do seu companheiro de jornada. “Se tivesse um relógio, eu o trocaria por comida”, diz ele. Algum tempo depois o companheiro descobre que Harrer escondia três relógios em sua mochila.

É esse homem destável que vemos se transformando aos poucos, em sua longa jornada pelo Tibet (o plano da dupla era atravessar o Tibet para chegar à China).

Harrer encontra um país isolado, fundamentado na religião budista, com costumes totalmente estranhos para um ocidental. Para cumprimentar as pessoas mostram a língua, enquanto bater palmas é uma ofensa. É um país totalmente pacífico, que dá grande valor à vida. Em certa cena, por exemplo, o Dalai Lama (ainda criança) pede que ele construa um cinema. Mas, enquanto cavam as fundações do local, os operários simplesmente paralisam o serviço porque descobrem que a terra do local é cheia de minhocas. A solução é simplesmente resgatar todas as minhocas e transplantá-las para um outro local.

Como o filme mostra, esse país totalmente pacífico, em que a vida de qualquer um é valorizada mais que qualquer outra coisa, é invadido pela China, num processo no qual morrem milhões de tibetanos e centenas de templos são destruídos.

Dirigido por Jean-Jacques Annaud (o mesmo diretor de O nome da Rosa), Sete anos no Tibet tem o mérito de extrair uma ótima interpretação de Brad Pitt. Ele consegue passar perfeitamente o homem destável do início para o humanista do final. E, convenhamos, uma jornada de rendenção faz muito mais sentido quando o protagonista era alguém detestável, como, aliás, o próprio diretor já destacou em entrevista. 

Sete anos no Tibet é, portanto, tanto uma grande aventura quanto uma jornada de redenção e, finalmente, um filme histórico e politico sobre uma das invasões mais cruéis da história da humanidade – especialmente por ter sido feita contra um inimigo totalmente idefeso.

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