domingo, abril 21, 2024

Void Indigo

 

Void Indigo surgiu como uma proposta do escritor Steve Gerber de renovar o Gavião Negro. Como a DC não topou a proposta, ele modificou o projeto e procurou editoras indepentes. Após várias recusas, ele procurou a Marvel, que estava lançando a série Épic, nas quais os direitos dos personagens ficavam para criadores. Surpreendentemente a Casa das Ideias aceitou publicar o material na série Graphic Marvel. A proposta era que essa edição especial fosse uma espécie de piloto para uma série em seis capítulos. Infelizmente, a reação da crítica à violência da história foi tão negativa que o editor Archie Goodwin desistiu de levar a série adiante. Essa reação negativa é muito estranha, pois na mesma época estavam sendo lançados trabalhos muito adultos, com violência explícita, a exemplo do Cavaleiro das Trevas.

Feiticeiros fazem sacrifício para manter seu poder, mas não conseguem... 


Curiosamente, a Abril resolveu publicar a história piloto no número 10 da sua série Graphic Novel. Confesso que na época deixando passar, principalmente por conta da capa, que não parecia muito chamativa e contava muito pouco sobre o tipo de história que poderia se encontrar no miolo. A contracapa, aliás, é mais interessante. Quando, anos depois, comprei e li, fiquei surpreso tanto com a qualidade do texto e da trama quando com o desenho de Val Mayerik, que consegue trazer elementos da espada e magia ao mesmo tempo misturando esses elementos com um traço sujo e muitas vezes deformado, que se encaixa perfeitamente na proposta.

A história se passa no período que separava a submersão de Atlântida e a fundação de Jericó. Feiticeiros sobreviventes de Atlântida conquistam um império, impondo um reinado de terror. Mas tribos bárbaras, comandadas por Athagaar avançam sobre o império. Isso ocorre exatamente quandos os feiticeiros estão velhos e com poderes enfraquecidos. A forma de tentar retomar o poder e a juventude é através de sacrifícios precedidos de torturas. A história deixa claro que quanto mais sofrem as vítimas, maior o poder do encantamento. Mas mesmo matando milhares de jovens, o sofrimento deles não é suficiente para renovar os bruxos. “Mesmo ante a face da morte, esses jovens perderam a razão de lutar. Sua apatia enfraquece a vontade de viver. E quando a vida deixa de ter valor, a tortura nada significa”, explica um deles.

... O que os leva a sequestrar e torturar o chefe dos bárbaros. 


A solução encontra é sequestrar o bárbaro Athagaarr e sua amante e submetê-los ao sacrifício.

Essa é a parte em que o texto de Gerber chega ao seu auge e, apesar da qualidade, provavelmente é a razão pela qual a série foi alvo de tantas críticas. Um exemplo: “Seu sofrimento dura dias. Incansavelmente, e com precisão cirúrgica, os lordes negros submetem seu corpo a uma initerrupta série de punições. Ele é queimado com ferro em brasa, açoitado com chicotes farpados, cortado, furado, espancado e retalhado. O estimulante frio do norte, a espada de seu pai, os triunfos da adolescência. Sua iniciação na arte de guerrear... ele se refugia em todas as lembranças, até que cada delas se mistura com as outras e com o presente... tornando-se, sem exceção, dolorosas. A vitória é dolorosa. A tortura é dolorosa. O abraço de Ren é doloroso”.

A cena da totura é visceral e provavelmente a razão pela qual a publicação recebeu críticas negativas.


Embora o desenho não seja explícito, ele funciona muito bem para demonstrar toda a angústia do personagem.

A trama da série começa depois da morte do protagonista. A narrativa pula séculos e o vemos no futuro, como um ser alienígena que cai na terra, descobre seus passado e começa uma jornada de vingança. O último quadro, inclusive, é um gancho para isso.

É uma pena que a série não tenha dado certo.   

1 comentário:

ANTONIO CARLOS disse...

A capa na época também não me atraiu, que pena deixei de ler uma boa história. Mas sempre ficava com um pé atrás na época era muito jovem, estava muito influenciado pelo traço certinho dos gibis da DC e desenhos com muitos "rabiscos" me faziam colocar várias obras de lado. Hoje reconheço as qualidades artísticas de outros estilos.