segunda-feira, julho 22, 2024

Barbie, o filme

 


Confesso que nunca na minha vida me imaginei comprando igresso para assistir um filme da Barbie no cinema. Mas o filme dirigido por Greta Gerwig é surpreendente, e isso por muitos motivos.

O primeiro deles diz respeito ao próprio conceito: mostrar o mundo da boneca Barbie. Assim, vemos Margot Robbie acordando numa casa perfeita, mas sem paredes e cumprimentando as vizinhas, todas chamadas Barbie. Ele prepara um café da manhã, com torradas que pulam no seu prato e uma jarra de suco que não contém suco. Ela dirige um carro desproporcional que não tem motor.

Nós já tivemos, em Toy Story, brinquedos em 3D sendo mostrados como pessoas, com suas qualidades e defeitos. Aqui a chave vira e vemos atores interpretando brinquedos, inclusive em sua superficialidade unidimensional. E essa interpretação inclui os mínimos detalhes, incluindo momentos em que os personagens movem as mãos com os dedos juntos e fixos, como bonecos.

Só essa inovação, realizada com maestria por ótimas interpretações, já valeria o filme.

A segunda razão, e talvez a mais importante, é o questionamento da personagem principal, que, de repente, passa a ter medo da morte. Esse é um ponto de virada, equivalente ao de Fahrenheit 451, quando é perguntando ao protagonista se ele é feliz. É o gancho que irá puxar toda a história, mas é também a introdução de um questionamento filosófico e existencial num mundo perfeito de plástico. Um questionamento que irá virar tudo de cabeça para baixo. Embora essa questão existencial seja discutida de maneira leve no filme, ela tem um impacto enorme por ser feito em um filme da Barbie.

Junte a isso as várias referências, como a de 2001, no início do filme, ao Zack Snyder, Rambo e outras. Nem mesmo a própria Mattel escapa ao humor ferino do roteiro, como os diretores da empresa sendo mostrados como bobalhões descerebrados que só pensam em dinheiro. Até mesmo a criadora da boneca, tem sua cota de crítica quando uma fala se refere aos seus problemas com receita norte-americana. Essas referências rendem boas risadas.  

Tudo isso é feito de maneira leve e divertida, o que tem se refletido na bilheteria estrondosa.

Em tempo: muitos estão reclamando que os homens, em especial o Ken é mostrado como um ser superficial e cuja importância é totalmente atrelada à Barbie. Parece que essas pessoas esqueceram que estavam assistindo a um filme da... Barbie!

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