quarta-feira, julho 22, 2009

Bibliotecas


Recentemente consegui pela Internet uma verdadeira tonelada de livros virtuais, alguns dos quais totalmente raros, outros que nunca foram lançados no Brasil e que boas almas resolveram traduzir e disponibilizar na rede. Entre eles, um livro Intitulado A Biblioteca, de Umberto Eco.
O livro começa com uma afirmação interessante: “Um dos mal-entendidos que dominam a noção de biblioteca é o fato de se pensar que se vai à biblioteca pedir um livro cujo título se conhece. Na verdade acontece muitas vezes ir-se à biblioteca porque se quer um livro cujo título se conhece, mas a principal função da biblioteca, pelo menos a função da biblioteca da minha casa ou da de qualquer amigo que possamos ir visitar, é de descobrir livros de cuja existência não se suspeitava e que, todavia, se revelam extremamente importantes para nós. A função ideal de uma biblioteca é de ser um pouco como a loja de um alfarrabista, algo onde se podem fazer verdadeiros achados, e esta função só pode ser permitida por meio do livre acesso aos corredores das estantes”.
Infelizmente, o modelo de biblioteca que prolifera é exatamente o oposto: nele, os livros devem ficar escondidos, enclausurados, muitas vezes inacessíveis, especialmente nas situações em que os bibliotecários consideram que o leitor é um inimigo dos livros. Nesses casos, antes que seja entregue a obra, o requisitante é bombardeado por mil perguntas, como se fosse um suspeito sendo interrogado pela polícia.
Ainda assim, deve-se entregar um livro de cada vez, pois é imaginável que o leitor que faz várias leituras cruzadas ao mesmo tempo, como se o curso dos pensamentos ou a criação de idéias fosse uma via de mão única.
Além disso, os horários das bibliotecas públicas devem ser pensados para impedir que a pessoa que trabalhe a freqüente.
É comum ouvir professores reclamando que seus alunos não freqüentam a biblioteca. Um dizia que perguntou quantos haviam visitado a biblioteca durante o semestre, e o resultado foi pífio.
No entanto, que incentivo os alunos têm de freqüentar a biblioteca? Na maioria das vezes, parece predominar o paradigma de que um aluno só deve ir à biblioteca se o professor mandar e já com um livro específico na cabeça, livro esse sugerido pelo professor.
O prazer de freqüentar os livros pela simples fruição, pela beleza de percorrer corredor e encontrar um mundo que não se imaginava, em dialogar com autores que nem se pensava existir, mas que são mágicos, nada disso é estimulado nos alunos. Desde a tenra idade, os estudantes vêem a biblioteca como um local intocável e venerável no qual eles só podem entrar se tiverem uma ordem expressa de um assunto a pesquisar.
A biblioteca deveria ser o local mais visitado da escola na hora do intervalo, ou mesmo depois das aulas, mas não é isso que acontece.
Rememorando minha trajetória intelectual, lembro o quanto as bibliotecas foram importantes para mim. Mas lembro também que como elas eram inatingíveis na escola, com funcionários sempre dispostos a perguntar quem era o professor que pedira a pesquisa e para qual disciplina era... e livros afastados, distantes de nós por um balcão, de modo que tínhamos que espichar o pescoço para tentar escolher um livro qualquer. Quando descobríamos um bom livro, ao alcance dos olhos, nós o devorávamos até as migalhas.
Posteriormente encontrei na Biblioteca Pública funcionários cientes de suas responsabilidades, que me incentivavam a não só escolher o que queria ler, como faziam sugestões e até me pediam resenhas, que eram disponibilizadas para outros leitores, de modo que já naquela época eu não só aprendia a ler e gostar de ler, como ainda aprendia a analisar criticamente o que estava lendo. Infelizmente iniciativas como essas são raras e há grande desconfiança por parte dos funcionários das bibliotecas com relação aos leitores, vistos ou como vagabundos ou como ladrões. Acrescenta-se a isso a visão de que a leitura é leitura apenas de letras, de palavras (na época em que eu freqüentava a biblioteca, um diretor mandou fechar o acervo de músicas, pois dizia que eram apenas perda de tempo) e temos a receita certa para a ojeriza aos livros e às bibliotecas e uma piora cada vez maior da educação como um todo.

2 comentários:

Anónimo disse...

eu trabalhei numa Biblioteca onde os livros mais modernos tinham mais de 40 anos e quando resolvi disponibilizar livros para os jovens pesquisarem e fazer seus trabalhos escolares e estudarem tive que começar a escrever para editoras e conseguir livros atualizados por meu esforço individual, pois meu chefe não permitia que eu adquirisse livros e sequer que incentivasse as criançasa usar aBiblioteca que era dirigida para cadetes de uma das forças armadas. Resolvi ao arrepio de meu chefe reformular o uso da Biblioteca e organizei às minhas espensas, uma seção de uso e onde ajudava as crianças carentes da cidade a frequentar e confeccionar seus trabalhos escolares em grupoou individuais, começando a incentivá-los distribuindo-lhes livros queeu conseguia sobre assuntos como de preservação do meio ambiente e de ecologia. Terminei reservando até um espaço para algumas bacharelandas de Psicologia que estudaram e foram aprovadas em Concurso para a Prefeitura Municipal e hoje são Psicólogas da Rede de Ensino e que poderam usar este espaço para estudarem durante os meses que antecederam suas provas.
Tive que lutqr contra a má vontade de funcionários antigos, que ao chegar para fazer meu trabalho como encarregado já tinham criado vícios de trabalho que prejudicavam os consulentes deste estabelecimento subutilizados. Sei que deixei uma história de cooperação e até uma humilde e voluntariosa maneira que granjeou marketing para esta Biblioteca que tenha mais de 30 anos e poderia ter prestado serviços relevantes como cultuei ao ensinar e incentivar jovens a lerem e pesquisar não só matérias curriculares, mas de abrirem suas cabeças para a liberdade e para a arte que transmiti para eles em bate-papos informais, procurando fazê-los ver que a vida pode ser atraente para quem lê, estuda e procura caminhos para seu desenvolvimento e progresso pessoal e familiar, ajudando sua comunidade a crescer também com a ajuda aos menores que habitam seu viver. Amém!

gefferson brito disse...

PERGUNTA: é possível mudar o sistema educacional brasileiro, onde a leitura sempre foi tratada como obrigação? Muitas vezes o título ao qual foi indicado pelo professor em sala é, geralmente, novidade para o aluno, aluno este que mal sabe que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil (informação dos livros oficiais de história, não dos livros "rebeldes"). Enfim, resolvi postar a pergunta acima pois a maioria dos brasileiro levam as coisas de forma desleixada. Ah, lembrei de algo que parece não ter muito haver, mas tem. Muitos transformam o seu veículo automotor em revólver e a bala, lógico, é o próprio motorista. Resultado: roleta russa nas ruas e muitas mortes provocadas por acidentes...mas o que vale é a bebida circulando no corpo e a alma no céu, inferno ou sei lá o quê. Brasileiros morrem no trânsito, mas a leitura certamente terá o destaque que merece nas escolas...Papai Noel ainda existe ou já morreu em acidente aéreo? Abraços, professor.