Dark, a primeira produção alemã da Netflix, é uma das melhores
histórias que já vi sobre viagens no tempo.
Ela parte de uma premissa que lembra muito Strange Things: o
desaparecimento de um garoto em uma cidadezinha do interior e as investigações
para encontrá-lo. O caso parece estar relacionado a outro desaparecimento que ocorreu
no mesmo lugar, 33 anos antes.
Mas Dark é muito, muito mais adulto e, principalmente, muito
mais profundo e igualmente mais complexo (e também muito mais difícil de
entender). Há dezenas de personagens e, em alguns casos, suas versões de períodos
diferentes em narrativas que muitas vezes correm paralelas, nos anos de 1953,
1986 e 2019. Isso certamente afastará os leitores mais desatentos. Não é difícil
perder-se nesse emaranhado de presente, passado e futuro. E pode ser mais difícil
ainda compreender as implicações científicas e filosóficas da história.
Durante muito tempo a Alemanha foi o berço de alguns dos mais
importantes filósofos da humanidade, de Kant a Schopenhauer, em um processo que
culminou em Nietzsche. Durante muitos anos dizia-se que só se podia filosofar
em alemão. Da mesma forma, pode-se dizer que uma série como Dark só poderia
surgir na Alemanha. É do caldeirão cultural, filosófico e histórico alemão que
se forma essa estranha história que parte do princípio de que o futuro é capaz
de transformar o passado. Mais do que isso: parte da premissa de que o futuro
determina o passado, uma curiosa inversão do determinismo social e histórico.
Estruturada na forma de quebra-cabeça, em que o expectador vai
aos poucos ligando as peças dessa estranha estrutura, é também uma série que
faz pensar, inclusive sobre sua premissa básica: somos mesmo prisioneiros de um
destino?
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