Vivemos em um mundo em que
cada vez mais se torna difícil distinguir realidade de ficção. Um exemplo disso
ocorreu em 2014, quando a personagem Valdirene, vivida pela atriz Tatá Werneck,
da novela Amor à vida, tornou-se participante do Big Brother Brasil 14.
A atriz permaneceu 12
horas dentro da casa, imersa em sua personagem, convivendo com os outros brothers como se fosse um deles.
Sem acreditar que estava
realizando seu sonho antigo, a personagem Valdirene cruzou a porta amarela em
êxtase e soltou sua primeira pérola: "Esqueci minha escova de
dentes".
Ao som de “Piradinha”, sua
trilha sonora, ela rodou pela festa, instigando os concorrentes. A cada grupo
disse para alguém: "Você é o mais forte da casa". Perguntou a Clara
se queria combinar voto e se esta jogava na "dança da pélvis" com os Brothers bonitões.
Enquanto isso, os
personagens da novela assistiam ao programa, comentando os acontecimentos.
Por outro lado, no “mundo
real” ela se tornava assunto nas redes sociais com internautas comentando sua
participação no programa. A hashtag #ValdireneNoBBB14, que ficou entre os
tópicos mais populares no Twitter.
O episódio testou os
limites entre a realidade e a ficção em programas como o BBB. Uma personagem
ficcional se tornou a grande estrela de um programa que tem como base a ideia
de mostrar a vida real (há de se perguntar o que ocorreria se ela tivesse
continuado no programa – teria ganhado a simpatia do público e sobrevivido até
a final?) e levanta uma questão: os Brothers
também não estariam atuando? Até que ponto o programa não é uma ficção? O BBB
não seria ele também uma simulação da vida real?
Um exemplo de como o mundo
se tornou uma construção hiper-real é o projeto acadêmico da designer holandesa
Zilla van den Born realizado em 2014. Como o objetivo de provar o quanto é
fácil forjar situações em redes sociais, ela arrumou as malas, despediu-se de
seus pais no aeroporto Schiphol e, ao perdê-los de vista, pegou o trem de volta
para sua casa em Amsterdã, onde mora sozinha.
Nas semanas seguintes ela
produziu, através de programas de computador, fotos que a mostravam nas praias
da Tailândia, saboreando comidas exóticas e até meditando em um templo budista.
A foto em que ela aparece
mergulhando, por exemplo, foi tirada na piscina de sua casa e adornada com
peixes falsos, mas hiper-reais adicionados via Photoshop.
Durante cinco semanas ela
publicou as fotos e recebeu diversas curtidas e comentários elogiosos por parte
de seus parentes e amigos. Ninguém desconfiou que a viagem fosse falsa.
O caso levantou uma
questão: até que ponto o que vemos nas redes sociais é forjado, uma simulação
(dos sorrisos forçados às fotos em locais paradisíacos) para impressionar seus
seguidores?
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