segunda-feira, julho 01, 2019

The Nazz


O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente. O que aconteceria se esse adágio popular fosse aplicado a um super-herói? Essa é a premissa básica de The Nazz, minissérie em quatro partes escrita por Tom Veitch e desenhada por Bryan Talbot e publicada pela editora Abril em 1992.
The Nazz surge no rastro de Watchmen, Miracleman, Zenith e outros trabalhos que levaram o gênero super-herois a extremos ainda não experimentados e talvez tenha sido a abordagem mais radical nesse sentido.
Na história, um garoto fascinado pela ideia de poder viaja ao oriente, onde conhece um guru que o inicia em um culto de morte e finalmente o leva aos caminhos místicos que o tornam um ser super-poderoso.
Ao voltar para os EUA, ele monta um culto e monta uma equipe que se tornará rival da equipe de vigilantes do governo, os Retaliadores, criados por uma equipe de relações públicas.
The Nazz é a história de um homem sendo corrompido pelo poder (ou corrompendo o poder, de acordo com a interpetação). Essa transformação é muito bem representada pelas capas. A primeira delas mostra o protagonista ainda um ser humano normal, meditando em meio a um cenário repleto de crânios. A segunda capa o mostra como um pop star, tendo ao fundo histórias em quadrinhos de super-heróis. Na terceira capa ele está gordo, nu, olhar fixo para o leitor, parecendo uma versão decandente de um astro de rock. Na quarta capa ele está transformado de um deus ameaçador.
A influência de Watchmen é nítida não apenas no tema da HQ, mas também na sua narrativa, que une quadrinhos criados por um amigo de Nazz, matérias de jornais, um press-realease e fotos autografadas. Esse conjunto de elementos, embora nem de longe tenham e efetividade narrativa de Watchmen, ajudam a construir uma narrativa coerente.
Tom Veitch relaciona o fenômeno dos super-heróis com as seitas surgidas na década de 1960, seus gurus e fins trágicos.
Há de se destacar também o nome do personagem, Nazz lembra nazismo e evoca super-homem sonhado por Hitler.
O desenho de Bryan Talbot se encaixa perfeitamente no projeto. Poucos desenhistas conseguiriam dar o tom sombrio adequado para essa HQ. Seu traço sujo exterioriza perfeitamente o tema sobre a corrupção do poder.
The Nazz é um daqueles trabalhos que melhor representam uma época e merecia uma republicação.

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