quinta-feira, agosto 08, 2019

Os syndicates



Um dos fatores mais importantes para a popularização das histórias em quadrinhos em todo o mundo foi a criação dos syndicates. Acusados pelos nacionalistas de terem sufocado os quadrinhos regionais, impondo a dominação norte-americana, os syndicates são empresas distribuidoras de tiras de páginas dominicais.
     O primeiro syndicate surgiu devido ao problema jurídico com os personagens da série “Os sobrinhos do capitão’.
     Essa HQ foi baseada em uma história infantil alemã, Max e Moritz, de autoria do poeta e cartunista Wilheim Bush. Essa obra, publicada originalmente em 1865, chegou a ser lançada no Brasil com o nome de Juca e Chico, com tradução de Olavo Bilac.
     Ainda menino, William Randolph Hearst viajou para a Europa com sua mãe e lá comprou diversos livros, entre eles Max e Moritz.
     Anos mais tarde, quando já era um magnata da imprensa norte-americana, decidiu incluir quadrinhos infantis em seu periódico, o New York Journal, e lembrou-se daquela história que o encantara quando criança. Assim, ele chamou um talentoso desenhista de origem alemã, Rudolf Dirks para criar personagens baseados em Max e Moritz.
     Dirks criou a série Katzenjammer Kids, algo como os garotos ressaca. Nela, são apresentados dois gêmeos, Hanz, de cabelos escuros, e Fritz, de cabelos claros, que passam o dia fazendo traquinagens. A mãe dos dois pestinhas, Mama Katzenjammer (no Brasil Dona Chucrutz) acha que tem dois anjinhos em casa e passa o dia fazendo deliciosas tortas para os dois.
     As vítimas inevitáveis da arte dos garotos são o capitão e inspetor escolar. Esses dois malandros gostariam de passar o tempo vadiando, mas acabam gastando metade do dia castigando os gêmeos e a outra metade sendo vítimas deles.
     Em 1913, Dirks passou seus personagens para o New York World, de propriedade do Joseph Pulitzer, o maior inimigo de Hearst. Esse considerou a deserção uma ofensa e resolveu brigar nos tribunais pelos personagens (anteriormente, Hearst já havia roubado Yellow Kid de Pulitzer).
     Travou-se uma longa batalha judicial, mas o tribunal decidiu-se por uma solução conciliadora. Dirks poderia continuar desenhando seus personagens para o World, mas teria que trocar o título e Hearst poderia continuar publicando em seu jornal os personagens com o título e personagens originais. Para isso, o dono do New York Journal chamou o talentoso Harold Kner, que manteve o mesmo nível de qualidade da HQ.
     A discussão com os personagens de Dirks teve como resultado o primeiro syndicate: a International News Service - que ficaria conhecida mais tarde como King Features Syndicate.
     A partir daí os artistas deixavam de trabalhar para os jornais e passavam a produzir para os syndicates, que reproduziam suas histórias e vendiam para vários jornais. Isso ba¬rateou muito o preço das HQs, pois a mesma tira era vendida para diversos jornais dos EUA e posteriormente de todo o mundo.
Um dos primeiros personagens a serem internacionalizados foi Pafúncio, de George MacManus. Desenhado em estilo “art-decó”, Pafúncio e Marocas (esse era o nome da série no Brasil) refletia a abastança da classe média americana no início do século. A pompa e a futilidade do norte-americano médio foram muito bem satirizadas nessa tira diária de MacManus.
A onda de quadrinhos humorísticos acabaria com a crise de 1929, que fez com que os leitores preferissem os quadrinhos de aventura.

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