No início da década de 1980 a aclamada série Crise
nas infinitas terras havia remodelado o universo DC, acabando com os universos
paralelos e com todos os problemas de cronologia decorrentes do conceito. A editora
aproveitou para refazer a origem de seus principais personagens sob a batuta de
estrelas do mercado: Miller escreveu Batman Ano Um, George Peres produziu uma série
da Mulher Maravilha e John Byrne renovou o Superman. A nova versão do
personagem abandonava toda a mitologia da era de prata em prol de uma versão
mais realista (sumima personagens como o super-cachorro Kripto).
Julius Schwartz, editor da revista até então,
aproveitou as duas últimas edições do personagem antes da chegada de Byrne para
fazer uma espécie de fechamento da era de prata, uma história imaginária, que o
herói morria e todas as pontas soltas eram amarradas.
Para escrever a história, o editor pensou em Jerry
Siegel, co-criador do personagem, mas motivos legais tornaram isso impossível
(provavelmente esses motivos legais tinha algo a ver com o fato de Siegel estar
processando a DC).
Então, como resolver o dilema de quem poderia
escrever essa última história? Conta a lenda que Alan Moore, ao saber que Schwartz
estava procurando um escritor para essas duas edições, agarrou o pescoço do
editor e ameaçou esganá-lo caso ele não lhe desse a honra de ser o roteirista.
Escolhido o escritor, faltava escolher a equipe artística.
Para desenhar a história, Julius chamou o mais célebre artista do Superman de
todos os tempos: Curt Swan, o homem que praticamente modelou o personagem na era
de prata. Para arte-finalizar a primeria história foi chamado George Perez, que
tinha o sonho de fazer arte-final para curt Swan e essa seria sua última
chance. A segunda parte ficou por conta de Kurt Schaffenberger. Para arte-finalizar
a capa o editor escolheu Murphy Anderson, um dos mais importantes artistas da
DC na era de prata.
Era uma equipe de talentos absoluta e a história
que produziram ficou à altura, tornando-se um dos maiores clássicos do
personagem e, para muitos, a melhor história do superman de todos os tempos.
Na HQ, os vilões do Superman que sempre foram meros
incômodos, como Bizarro, começam a atacar metrópoles, matando dezenas de pessoas.
Em um ataque do Mestre dos Brinquedos e do Galhofeiro a identidade o herói é
revelada.
Percebendo que os incômodos do passado haviam
voltado como assassinos, o homem de aço antevê um perigo extremo para seus
amigos e os leva para a fortaleza da solidão. Lá, Lex Luthor, sob controle de
Brainiac levanta uma redoma energética que deixa todos os outros heróis do lado
de fora. É nessa situação tensa, com a fortaeleza pondendo ser atacada a
qualquer momento que se desenrola alguns dos mais tocantes momentos da HQ.
Alan moore revisita não só todos os inimigos do herói,
mas também amigos, como a Legião dos Super-heróis, que aparecem do século 31
para, aparentemente, se despedir do homem de aço e dar-lhe um presente (que será
fundamental para o desfecho da trama).
“O que aconteceu...” é mais que uma homenagem ao
superman da era de aço. É uma história tocante de despedida.
Lembro que quando a li pela primeira vez, no
formatinho, na revista Super-powers 21, fiquei impressionado.
A imagem que eu tinha do homem de aço era do
certinho escoteiro azul de Cavaleiro das Trevas, um personagem anacrônico e
desinteressante.
Além disso, a mitologia parecia boba, especialmente
se comparada com os avançados heróis da Marvel. Que diabo de herói tinha um
cachorro de estimação que também se transformava em super-herói?
Moore mudou completamente minha percepção sobre
isso. Essa história era simplesmente genial e tinha sido feita com o herói clássico,
respeitando suas principais características. Até mesmo o que parecia idiota, como
o supercão ou os amigos que se tornavam heróis tomando porções ou se banhando
em um lago mágico parecia ter seu charme.
Moore já havia mostrado em Miracleman que não
existem personagens ruins, mas apenas maneiras ruins de trabalhá-lo. Mas em
miracleman ele mudara tudo e colocara o conceito de super-heroi de cabeça para
baixo. Em “O que aconteceu...” Moore fizeram isso respeitando toda a mitologia
clássica do mais clássico dos heróis.
Da mesma forma que o herói da capa do gibi, eu
derramei uma lágrima ao final da HQ. E minha percepção do homem de aço jamais
foi a mesma.
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