Quando era criança, havia uma profusão de
quadrinhos em minha casa. Minha mãe morava em São Paulo e eu e minha vó
morávamos em Mococa, interior do estado. Sempre que minha mãe ia me visitar
levava um pacote de gibis, que eu devorava como sofreguidão.
Eu sempre acreditei que era minha mãe que
comprava, mas não era. Na época ela trabalhava na contabilidade das lojas
Mappin e tinha um amigo na repartição, um senhor já de idade, que adorava
quadrinhos. Mas tinha vergonha de comprar e mais vergonha ainda de ser visto
com gibis. Assim, ele comprava dizendo que era para o “filho da Amélia” e lia
antes de enviar ao destinatário.
Era principalmente Disney e um ou outro Turma
da Mônica. Ele pelo jeito adorava as histórias italianas da Disney, pois li
muitas quando era criança – a ponto de conseguir identificar que aquelas eram
diferentes das outras.
Uma curiosidade é que a revista que ele mais
gostava era a humorística MAD, mas essa ele não mandava para mim, pois achava
que não era leitura para crianças. Anos mais tarde eu conheci a revista
comprando inicialmente em sebos e virei um fã. Lembro de mais de uma situação
em que eu estava lendo em um local público, como ônibus, e passava pelo
constrangimento de cair na gargalhada sob o olhar intrigado dos outros.
Muito tempo depois eu virei roteirista da MAD –
e foi quando minha mãe me contou a história do benemérito que comprava gibis e
me enviava quando eu era criança. Surgiu a ideia de tentar achá-lo e enviar uma
MAD com roteiro meu autografada. Infelizmente, nossa busca nunca deu resultado
e nunca pudemos enviar essa revista.
E fica a pergunta: será que ele imaginava que
estava criando uma paixão que me levaria a um dia, escrever a revista que ele
mais gostava?
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