Em 1984, eu tinha 13 anos e dinheiro apenas
para comprar uma única revista – Superaventuras Marvel, a que eu colecionava.
Comprar qualquer outra publicação, só se fosse em sebos, ou encalhadas em
bancas. Funcionava assim: você percebia que determinada revista que você queria
não tinha sido recolhida e ficava monitorando, esperando que a inflação corroesse
seu valor e torcendo para que ninguém mais tivesse a mesma ideia.
Foi assim que eu comprei a Heróis da TV 66. A
revista tinha trabalhos de alguns craques da Marvel, como John Buscema e Gerry
Conway no Thor, e David Michelin e John Romita Jr no Homem de Ferro.
O desenhista filipino conseguia mostrar toda a magia das mil e uma noites. |
Mas o que me chamou realmente a atenção foi uma
história de Simbad. O que estaria fazendo Simbad numa revista Marvel? Seria o
mesmo Simbad dos filmes da sessão da tarde? Ainda por cima a história era
escrita pelo desconhecido John warner e ilustrada pelo ainda mais desconhecido
Sonny trindad. Mas quando fui ler, descobri que era a melhor história do gibi.
Não tanto pelo roteiro, cheio de falhas. Warner parecia não dominar o ritmo da
história e e alguns momentos usava textos enormes para narrar vários fatos,
pulando sequências inteiras. Para piorar, a pessoa responsável pelo balonamento
tinha trocado dois desses textos de lugar, de modo que a sequência pulava de
Simbad iniciando uma viagem para outra em que sua esposa, Princesa Parisa,
entrava numa lâmpada mágica e conversava com um gênio.
Os textos foram trocados de lugar. |
O que de fato me espantou na história foi o desenho
do filipino Sonny Trindad. Na época eu nem sabia que filipinos desenhavam para
a Marvel. Mas era nítido demais que aquele traço não era de um americano. E era
um traço lindo. Trindad desenhava mulheres como ninguém, conseguia repassar
toda a ideia de luxo e misticismo que imaginamos nas histórias de mil e uma
noites. Até mesmo os textos imensos e maçantes eram emoldurados por belíssimas
ilustrações detalhadas.
Essa história foi publicada em Marvel Spotlight
25, de 1975. Infeizmente a capa não era de Trindad.
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