Pouco tempo depois de lançada, a revista do Conan se tornou
um grande sucesso. Mas o número de histórias de Robert E. Howard com o
personagem era limitado. Roy Thomas contornava o problema de duas maneiras:
criando histórias originais ou adaptando histórias de outros personagens de
Howard, colocando Conan como protagonista.
Exemplo desse segundo tipo de estratégia é “O Jardim do medo”,
publicada em Conan the barbarian 9. Na história de Howard, a trama era
protagonizada por James Allison, um aleijado, que revive mentalmente sua
encarnação passada, o bárbaro nórdico Hunwolf dos aesires.
Na trama, Hunwolf mata um rival que tenta raptar sua amada e
foge com ela para um vale onde vive um povo amistoso, mas dominado por um
senhor feudal alado com pele de cor de ébano. Então a moça é raptada pelo ser
alado e o herói deve salvá-la.
Thomas aproveitou que Conan já estava viajando com prostituta
Jenna desde o número 8 e adaptou tudo para uma aventura do cimério.
Roy Thomas e Barry Smith começaram a história em plena ação,
com Conan e sua companheira sendo atacados pela tribo “amistosa”. Duas páginas
depois, de fato, a tribo se mostra amistosa inexplicavelmente, com o chefe
ordenado que cesse o ataque contra o cimério. No final, parece claro que a única
função do ataque inicial era criar uma splash page empolgante, o que de fato
acontece, com Jenna caindo do cavalo e Conan segurando firme as rédeas enquanto
o animal se assusta com o ataque de pedras.
Então temos o sequestro de Jenna e a jornada de Conan para resgatá-la.
Algumas sequencias valem destaque, como quando o cimério
passa pelo meio dos mamutes sem ser atacado ou da belíssima página em que ele
mergulha no rio e sai na beira da torre esmeralda, acertadamente sem texto. A página
dá um respiro na história, como se o leitor tivesse entrado na água junto com Conan.
Roy Thomas conta que usou de uma estratégia marota para
driblar o comics code e mostrar a morte do personagem que é jogado pela figura
de ébano meio das flores. O leitor percebe que o personagem morreu porque as
flores vão se tingindo de vermelho-sangue. O roteirista sabia que os censores
veriam a versão em preto e branco e, assim, não perceberiam que a cena mostrava
uma morte. Deu certo e a história acabou aprovada pelos censores.
Particularmente eu gosto muito do texto na sequência da luta
entre o cimério e o deus de ébano. Thomas instinga o leitor com várias
perguntas que poderiam ser respondidas apenas por aquele ser e no final diz: “Perguntas.
Haveria tantas e tantas perguntas... questões que jamais serão formuladas”.
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