quarta-feira, janeiro 13, 2021

Conan no jardim do medo

 


Pouco tempo depois de lançada, a revista do Conan se tornou um grande sucesso. Mas o número de histórias de Robert E. Howard com o personagem era limitado. Roy Thomas contornava o problema de duas maneiras: criando histórias originais ou adaptando histórias de outros personagens de Howard, colocando Conan como protagonista.

Exemplo desse segundo tipo de estratégia é “O Jardim do medo”, publicada em Conan the barbarian 9. Na história de Howard, a trama era protagonizada por James Allison, um aleijado, que revive mentalmente sua encarnação passada, o bárbaro nórdico Hunwolf dos aesires. 

Na trama, Hunwolf mata um rival que tenta raptar sua amada e foge com ela para um vale onde vive um povo amistoso, mas dominado por um senhor feudal alado com pele de cor de ébano. Então a moça é raptada pelo ser alado e o herói deve salvá-la.

Thomas aproveitou que Conan já estava viajando com prostituta Jenna desde o número 8 e adaptou tudo para uma aventura do cimério.

Roy Thomas e Barry Smith começaram a história em plena ação, com Conan e sua companheira sendo atacados pela tribo “amistosa”. Duas páginas depois, de fato, a tribo se mostra amistosa inexplicavelmente, com o chefe ordenado que cesse o ataque contra o cimério. No final, parece claro que a única função do ataque inicial era criar uma splash page empolgante, o que de fato acontece, com Jenna caindo do cavalo e Conan segurando firme as rédeas enquanto o animal se assusta com o ataque de pedras.

Então temos o sequestro de Jenna e a jornada de Conan para resgatá-la.

Algumas sequencias valem destaque, como quando o cimério passa pelo meio dos mamutes sem ser atacado ou da belíssima página em que ele mergulha no rio e sai na beira da torre esmeralda, acertadamente sem texto. A página dá um respiro na história, como se o leitor tivesse entrado na água junto com Conan.

Roy Thomas conta que usou de uma estratégia marota para driblar o comics code e mostrar a morte do personagem que é jogado pela figura de ébano meio das flores. O leitor percebe que o personagem morreu porque as flores vão se tingindo de vermelho-sangue. O roteirista sabia que os censores veriam a versão em preto e branco e, assim, não perceberiam que a cena mostrava uma morte. Deu certo e a história acabou aprovada pelos censores.

Particularmente eu gosto muito do texto na sequência da luta entre o cimério e o deus de ébano. Thomas instinga o leitor com várias perguntas que poderiam ser respondidas apenas por aquele ser e no final diz: “Perguntas. Haveria tantas e tantas perguntas... questões que jamais serão formuladas”.

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