Há uma regrinha básica do jornalismo que nem sempre é dita nos cursos de graduação: as fontes não devem ver o texto final e muito menos opinar sobre esse texto.
Imaginem,
por exemplo, que a matéria é uma denúncia. O jornalista vai repassar o texto
para o denunciador e o denunciante? Os dois vão querer fazer modificações no
texto, retirar trechos, destacar trechos. Pode ser, por exemplo, que alguém deu
uma declaração e depois se arrependeu dela. Ao ver o texto final e perceber que
a parte denunciada se defendeu com argumentos sólidos, ela pode querer tirar a
fala (para evitar problemas de processo, a maioria das entrevistas é arquivada
para o caso de uma ação judicial). Outra situação: o denunciado pode querer
pedir para retirar partes das falas do denunciante para atenuar a denúncia.
Além disso,
o jornalista sempre edita a fala do entrevistado. Ele tira trechos que não
tenham relação com o tema da matéria, tira marcas de oralidade, redundâncias,
digressões. Sem falar da questão do limitação do tamanho do texto. Na maioria
das vezes o jornalista tem um espaço X a ser ocupado e, para isso, precisa resumir
as falas dos personagens. Mas nem todo entrevistado entende isso.
A fonte,
portanto, não é editor, não pode e não deve sugerir mudanças no texto. Jornalismo não é assessoria de imprensa.
Isso de
mostrar o texto para a fonte pode virar um problemão até mesmo em matérias
corriqueiras, que não têm nada de polêmicas. Aconteceu comigo uma vez.
Eu
trabalhava num jornal de Paranaguá, cidade portuária do Paraná, e fui
entrevistar o diretor da Santa Casa sobre algum assunto (talvez a abertura de
uma nova ala no hospital, confesso que não lembro). No meio da entrevista ele
citou todas as pessoas que ele achava que mereciam um agradecimento e deveriam
aparecer na matéria. E exigiu ver o texto final. Como era um jornalista novato
eu concordei não só em colocar os nomes na matéria, como em mandar o texto por
fax.
Quando o
editor viu aquilo, cortou a lista de agradecimentos. E com toda razão. Uma das
características do jornalismo é interesse público. Aquela lista de agradecimentos
só interessava ao diretor do hospital e seus amigos.
Então a
matéria foi para as bancas sem a lista de agradecimentos.
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