domingo, maio 22, 2022

Mulher Maravilha – sangue

 


Nas décadas de 1980 e 1990, a maioria das histórias era publicada em edições econômicas, em papel jornal. As melhores histórias ganhavam formato maior e papel couchê. Ao se deparar com uma graphic novel, você sabia que estava diante de algo muito acima da média. Hoje em dia qualquer história ganha papel couchê e capa dura, a exemplo de Mulher-Maravilha sangue, de Brian Azzarello e Cliff Chiang.

A história começa com uma sequência realmente interessante. Uma personagem misteriosa (depois descobrimos que se trata da deusa Hera), vestida com um manto de penas de pavão mata dois cavalos em uma fazenda, transformando-os em centauros para matar uma garota. Mas um ser azul com pés de pássaro (o deus Hermes) a salva, enviando a moça para o apartamento da Mulher Maravilha.

Com o decorrer da história, descobrimos que a moça está grávida de Zeus e a trama é uma vingança de Hera, que tenta a todo custo matar o filho bastardo do rei do Olimpo. Por outro lado, revela-se também que Zeus está morto, o que provoca uma disputa de poder entre os deuses.

A sequência inicial é empolgante. Mas o resto... 


É uma trama interessante e Azzarello escreve bem. Chiang também é um bom desenhista e fez uma capa realmente chamativa (embora tenha a tendência de fazer a Mulher Maravilha excessivamente queixuda em algumas imagens). Mas os autores cibernéticos já diziam que o todo é maior que a soma das partes. É o que vemos aqui. As partes não encaixam em uma trama que realmente se mostre relevante ou coesa.

Há também outros problemas.

Um deles é a mania de mostrar versões modernizadas dos deuses. Isso foi interessante quando Neil Gaiman fez, trinta anos atrás, mas agora parece apenas repetição ou uma forma de fazer a HQ parecer descolada.

Mas o maior problema é que Azzarello escreve bastante em diálogos e textos irrelevantes, mas não o faz quando o texto é realmente necessário. Na sequência final, em que a trama é resolvida, ele deixa tudo por conta do desenhista, e esse não consegue mostrar com o desenho o que de fato está acontecendo (sério, eu li três vezes tentando entender!). No final, lemos que a Mulher Maravilha resolveu tudo, mas não temos a menor ideia de como isso aconteceu.

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