Durante muito tempo, assassinos seriais eram mostrados de
maneira equivocada nos quadrinhos. Geralmente no final da história eles se revelavam
vítimas da sociedade, pessoas em busca de amor ou com boas razões para matar. Talvez
a primeira vez em que um psicopata assassino foi mostrado de forma realista nos
quadrinhos foi em Swamp Thing 44.
A história, escrita por Alan Moore e desenhada por Stephen
Bissette e John Totleben, já se tornava memorável pela capa, com o protagonista
andando na direção do leitor e ao fundo uma bandeira dos EUA na qual as listras
vermelhas vão se tornando manchas de sangue. A imagem é provavelmente uma referência
ao fato de que os EUA são a pátria de alguns dos mais famosos e mortais assassinos
seriais de todos os tempos.
A história é contada do ponto de vista de um serial killer. |
A história começa num bar, onde dois homens conversam. “Me
teste. Vamos lá, pense num número!”. O outro diz cinquenta e oito. “Cinquenta e
oito. Vejamos... ela tinha olhos cinza esverdeados como umas bolinhas de gude
que já tive, só com que pintas ocre junto da pupila”.
O leitor, logo perceberá que o autor da frase é um psicopata
e cada número se refere a uma de suas vítimas, das quais ele se lembra dos
olhos como uma espécie de troféu.
Batman faz uma constrangedora participação especial. |
Há uma jogada narrativa impressionante nessa HQ. De tempos em
tempos vemos os olhos das vítimas entremeados à ação, mas nunca vemos os olhos
do psicopata. A história toda é mostrada do ponto de vista dele. Normalmente a
visão subjetiva é usada para criar uma empatia do leitor com o personagem, mas
aqui funciona ao contário. Os olhos representam a humanidade. Ao não mostrarem
os olhos do assassino, os autores o identificam como alguém frio, sem
sentimentos.
O psicopata tira o homem do bar e o para o pântano, onde
pretende mata-lo. Mas, logo depois do crime, ele se depara com o Monstro do Pântano.
Uma curiosidade dessa história é que Batman faz uma participação
especial.
Imagens dos olhos das vítimas são entremeadas à trama principal. |
John Constantine está conversando com um desconhecido quando
a dupla é inquirida pelo defensor de Gothan: “Aqui fora é perigoso. A maioria já
se recolheu para um ambiente fechado”. “Sem problema, parceiro. Meu amigo aqui é
de um de vocês. Já ouviu falar de Mento?”. Batman tenta se lembrar: “Espere.
Seria aquele Mento ligado à Patrulha do Destino?”. “Isso mesmo. Mais exatamente
sou casado com alguém da Patrulha. Você esteve no nosso casamento!”.
A cena é constrangedora. Batman despende-se de maneira
desajeitada e sai correndo, como alguém que não consegue lidar com convenções
sociais.
Sem comentários:
Enviar um comentário