Entre os vários personagens da Marvel apresentados no Brasil
pela RGE, certamente um dos que mais chamaram a atenção dos leitores foi Nova,
criado por Marv Wolfman e Len Wein (com uniforme definitivo idealizado por John Romita).
O personagem, surgido em 1976 já com título próprio, foi pensando
como um Homem-aranha com toques de ficção científica.
Essa mistura já era óbvia na primeira página da revista de
estréia. A imagem mostrava uma nave singrando o espaço enquanto o texto dizia:
“Gravação de registro dados 409: Não consigo me mover, meus braços e pernas
foram esmagados por Zoor. Mas ainda preciso persegui-lo... aos confins da
galáxia se for preciso”.
A página inicial sintetiza todos os elementos da série. |
Logo abaixo, numa grande cena de impacto, vemos um garoto
franzino perdendo a bola de basquete para uma garota. O texto, criativo,
conversava com o leitor: “Onde você estava ontem às 16h15? Se estava tomando
sorvete de morango com refri no salão das delícias do Tio Calda, havia chance
dessa história ser sobre você!”. E continuava:
“Contudo, no infortúnio de você não ter sido sortudo o bastante para
estar lá, nós, da Marvel, sugerimos que se sente numa poltrona confortável,
tire os sapatos e aproveite a eletrizante origem do novo herói mais espetacular
sobre o qual você já teve o privilégio de ler... Nova!”.
Só nessa única página temos todos os elementos que fariam a
fórmula de sucsso do personagem: o enredo de ficção científica, o protagonista
azarado, vítima de bullying o texto divertido e a identificação com o leitor
adolescente.
O protagonista é vítima do valentão da escola. |
O protagonista era um garoto de 17 anos, Richard Rider, que
recebe poderes de um ser espacial para combater um vilão espacial que destruiu
o planeta do Nova original e pretende conquistar a Terra.
A série era tão calcada no Homem-Aranha que Marv Wolfman até
se permite um momento de metalinguagem em um balão de pensamento enquanto o
herói enfrenta Zoor, o conquistador: “Sou super-herói há cinco minutos e já
faço frases de efeito que nem o Wood Allen! Acho que lá no fundo há algo de tão
bizarro e artificial em ter poderes especiais que você tem que fazer piadas
durante as lutas”. O comentário é, sem dúvida, uma referência ao costume do
aracnídeo de sempre fazer comentários jocosos enquanto troca socos com algum
vilão.
A forma como era mostrado o herói voando era inovadora. |
Algo interessante no personagem, introduzido por John
Romita, é a forma como ele é mostrado voando. A parte de baixo
de seu corpo desaparece e no lugar surge um rastro de luz amarela. Nenhum outro
personagem voador havia sido mostrado nos quadrinhos dessa forma. O efeito é
impressionante.
No Brasil esse personagem era carinhosamente conhecido pelos leitores como "Cabeça de balde".
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