Em 1985 um tribunal argentino surpreendeu o mundo ao colocar no banco dos réus os militares que haviam comandado uma ditadura de sete anos, que se acabara dois anos antes. Era algo único, que só poderia ser comparado com o tribunal de Nuremberg. Com uma diferença: no tribunal de Nuremberg os nazistas julgados por crimes de guerra haviam sido plenamente derrotados, enquanto que no chamado Julgamento das juntas militares, os réus ainda continuavam detendo muito poder – a ponto de ameaçar até mesmo o promotor e testemunhas.
O caso era tão assustador que a maioria dos promotores não
aceitou ajudar o colega Julio César
Strassera, de forma que coube ao iniciante Luis Gabriel Moreno Ocampo e
uma equipe de adolescentes reunir em tempo recorde toneladas de provas do mais
importante julgamento da história argentina.
É essa história que Santiago
Mitre conta em Argentina 1985, filme lançado aqui pela Amazon Prime Video.
O promotor contou com o apoio de equipe jovem.
Mitre faz mais do que um
filme de tribunais. É um triller de suspense, pois nunca sabemos se o
julgamento irá de fato até o final ou se alguém da equipe de acusação – ou seus
familiares – será morto. Mas é também um drama que encontra seu ponto alto nos
depoimentos das testemunhas, incluindo pessoas que eram crianças quando foram
sequestradas pelos militares. Nas matérias sobre o filme há declarações dos próprios
juízes do caso de que os relatos eram aterradores e é justamente essa sensação
de terror que o filme nos passa. Dezenas de milhares de pessoas foram mortas e
centenas de milhares presas e torturadas, inclusive pessoas que haviam sido
aprisionadas por engano. Toda a mensagem desse filme impactante (talvez o
melhor do ano) pode ser resumida na peça de acusação, lida pelo promotor: “Temos
a responsabilidade de estabelecer uma paz baseada não no esquecimento, mas na
memória. Não na violência, mas na justiça. Essa é a nossa oportunidade. Talvez seja
a última”.
Em tempos sombrios nos
quais vivemos, nos quais pessoas se entricheiram na frente dos quartéis pedindo
pela retomada de tempos sombrios, em que qualquer pessoa poderia ser presa,
tortura e morta por suas opiniões políticas, Argentina 1985 é um filme
essencial.
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