A última história desenhada por Steve Ditko foi publicada em
The Amazing Spider-man 38 e é uma perfeita demonstração de como o embate do
desenhista com o roteirista Stan Lee estava chegando a um ponto crítico.
A história é focada em Joe, um pugilista fracassado a ponto
de escorregar e cair fora do ringue durante as lutas. Ele é contratado como
ator de um filme de ficção-científica e, enquanto atua destruindo um cenário,
um refletor desaba sobre produtos químicos, concedendo ao desconhecido Joe uma
força sobre-humana. Mais do que isso, o composto faz com que ele mude de
personalidade: “Sempre disseram que eu não sou lutador porque não tenho
instinto assassino... Não tenho sangue de lutador! Mas ninguém mais vai repetir
isso!”.
O vilão é um pugilista fracassado que ganha poderes.
Ao sair para a rua, Joe dá de cara com o aranha, que tenta
detê-lo e leva uma surra.
Pouco depois vemos a primeira o primeiro ponto de
discordância entre Stan Lee e Steve Ditko. Lee queria que o Duende Verde, o
mais famoso vilão da franquia fosse Norman Osborn, pai de um dos amigos de
Peter Parker. Ditko achava que isso tiraria a verossimilhança da história e
defendia que o vilão tinha que ser um desconhecido. Essa foi a gota d´água para
que ele saísse da série, sendo essa sua última história.
O pomo da discórdia: Ditko não queria que Osborn fosse o Duende Verde.
Pois bem, na página 9 Norman Osborn aparece pagando para
bandidos se livrem do aracnídeo. A sequência é estranha, como se Ditko pensasse
numa coisa e Lee em outra, de modo que desenho e diálogos parecem não se
encaixar (na história posterior, já desenhada por John Romita, Osborn na verdade usa os campangas
para lançarem uma substância que tira do herói o seu sentido de aranha).
Mas é na página seguinte que vemos mais claramente a
diferença de abordagem. Peter Parker chega ao colégio e dá de cara com uma
manifestação. “Outro protesto? O que é dessa vez?”, pergunta. “Estão
protestando contra o protesto desta noite”, responde alguém.
Os manifestantes tentam fazer com que Parker pegue uma placa, mas ele se recusa. “Não quer salvar o mundo? E não quer matar aula também?”, pergunta alguém. A sequência inteira era Steve Ditko criticando a juventude norte-americana da década de 1960 – exatamente os jovens que tinham transformado o gibi do aracnídeo num enorme sucesso!
Ditko incluía crítica aos jovens da década de 60 nas histórias. |
Imaginem o desespero de Stan Lee ao colocar texto em
sequências com essa, que certamente poderiam impactar nas vendas da revista.
A história tem uma sequência interessante: enquanto enfrenta
o adversário, o aranha pergunta diversas vezes o nome dele. Isso poderia ser a
deixa para toda uma série de situações de ironias do destino, com o personagem
ficando famoso, mas ninguém sabendo seu nome. Mas à essa altura a dupla Ditko –
Lee estava tão disfuncional que provavelmente ninguém pensou em aproveitar essa
oportunidade narrativa.
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