Em 1970, o roteirista Dennis O´Neil participava de
abaixo-assinados, passeatas e apoiava Martin Luther King. Também era jornalista,
fã dos grandes nomes do Novo Jornalismo e do Gonzo, como Tom Wolfe e Hunter
Thompson. E ele se perguntava: seria possível fazer nos quadrinhos um
equivalente do Novo Jornalismo? Quando o convidaram para renovar o Lanterna
Verde, ele resolveu testar essa hipótese. E o melhor de tudo: o título seria
desenhado por Neal Adams, o nome mais quente do mercado de quadrinhos à época.
O resultado foi publicado em Green Lantern 76.
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Adams coloca os créditos num caminhão. |
A capa desse número era uma típica imagem do editor "Julie"
Schwartz, com uma situação bizarra que seria elucidade ao longo
da edição. Nela, o Lanterna está fazendo o seu juramento e recarregando seu
anel, mas o Arqueiro atira uma flecha na lanterna e grita: “nunca mais!”.
A história começa com o herói sobrevoando a cidade, num
daquelas imagens impressionantes de Neal Adams. O texto, misturado ao título,
dizia: "esta não é uma história alegre... nem simples. O que você está
prestes a testemunhar talvez seja inevitável. O nome dele, claro, é Lanterna
Verde e ele sempre jurou que o mal sucumbirá ante minha presença, mas Hal andou
se enganando...”. Detalhe: Adams, além de providenciar uma splash page lindíssima,
ainda colocou os créditos na carroceria de um caminhão, numa estratégia que
lembrava Will Eisner.
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O Lanterna acha que será recebido como herói, mas isso não acontece. |
O herói vê um homem sendo agredido e resolve intervir. Ele coloca
o agressor numa jaula e o envia à delegacia. Mas, quando se prepara para
receber os aplausos dos circundantes, descobre, espantado, que estão jogando
lixo nele e no homem que ele salvou. Antes que o Lanterna revide, aparece o Arqueiro:
“Até eu tive vontade de jogar uma lata nessa cabeça oca”. “Não estou entendendo
Arqueiro Verde!”, “Não? Então chega mais que eu te mostro como o outro lado
vive”.
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O que você fez pelo povo negro? |
Eles entram num cortiço e o Arqueiro explica que o homem lá
fora é o dono do local e quer despejar todos os inquilos para fazer um
estacionamento. Surge um velhinho e sua fala é sintomática: “ Cê trabalha para
uns homenzinhos azuis... e ajudou uns sujeitos laranjas em outro planeta. Também
deu uma forcinha prum povo roxo! Só que cê andou esquecendo uma cor... por que
cê nunca ajudou os negros?”. O herói é incapaz de responder (e aqui o destaque
vai para o desenho de Neal Adams que o mostra cabisbaixo, com os ombros caídos).
O Lanterna tenta fazer o homem desistir de vender o cortiço,
em vão, e ainda é chamado pelos Guardiões e colocado de castigo quando tenta
atacar o vilão.
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Neal Adams estava na sua melhor forma. |
No final, os heróis descobrem que o homem tem várias atividades
ilícitas e criam uma arapuca para ele se delatar na presença de um promotor. Ele
é preso e tudo parece ser resolvido. Se terminasse aí, essa seria mais uma das
típicas histórias da DC Comics no final dos anos 60 e início dos 70. Mas O`neil
acrescenta um epílogo, em que os guardiões aparecem para dar outra bronca em Hall
Jordan, mas acabam ouvindo é uma lição de moral do Arqueiro, que os convence a
mandar um representante para ver os problemas da hunidade. No final, eles
embarcam numa caminhonete. “O trio viaja junto, passando por cidades, vilarejos
e maravilhas da natureza... em busca de um tipo especial de verdade... em busca
de si mesmos”, diz o texto.
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