sábado, junho 03, 2023

Conto Zen - O tigre e o morango

 


Certa vez um homem andava pela floresta quando foi perseguido por um tigre faminto. Sem outra opção, ele se agarrou a um arbusto e se pendurou num abismo na tentativa de escapar da fera. Quando olhou para baixo, percebeu que havia um outro tigre lá embaixo.

Ou seja: se a queda não o matasse, o felino o faria.

Mas o arbusto não era forte o bastante e a raiz começou a se desprender do solo. Além disso, dois ratos começam a roer a raíz.

A morte era certa.

Nisso, ele olhou para o lado e um viu morango crescendo na parede do penhasco. Largando uma das mãos, ele pegou o morango e comeu.

Foi o morango mais delicioso que ele já comera em toda a sua vida.   

Esse é uma das histórias mais famosas do zen-budismo. Ela reflete sobre assuntos essenciais: o homem pendurado no penhasco, à beira da morte representa todos nós, que em algum momento iremos morrer. Afinal, ninguém é imortal, a morte é inevitável.

Mas sua atitude é extremamente sábia. Ele percebe que a única forma de lidar com isso é viver o momento. Comer o morango representa isso, aproveitar o aqui e agora ao invés de nos preocuparmos com o passado ou o futuro. Isso é chamado no budismo de atenção plena.

Por outro lado, a certeza da morte, da transitoriedade da vida, faz com que cada momento seja especial. Talvez, se saboreasse a fruta em qualquer outra situação, o homem não se espantasse com seu sabor, mas ali, prestes a despencar no abismo, o sabor se torna inigualável. Como dizia Raul Seixas: “Morte morte morte que talvez seja o segredo dessa vida”.

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