Assim que assumiu os desenhos na revista do Demolidor, Frank Miller
chamou atenção por seu senso narrativo e começou a dar sugestões para o título,
sugestões que foram acatadas pelo roteirista Roger McKenzie.
Esses pitacos já podem ser observados na segunda história
desenhada por Miller, em Daredevil 159. Essa edição já destoa do tom
super-heroiesco da revista até então, aproximando-se mais do gênero policial.
Na história um homem misterioso, cujo rosto não vemos em
detalhes, contrata um mafioso chamado Slaughter para matar o Demolidor,
prometendo um pagamento de meio milhão de dólares.
A página dupla é um exemplo da maestria narrativa de Miller. |
As primeiras páginas já são um ótimo exemplo do estilo
narrativo que seria característico de Miller (vale lembrar que na Marvel usa-se
o Marvel way, em que o desenhista recebe apenas um resumo, desenvolve
visualmente a história e depois o roteirista coloca o texto). A primeira página
mostra trechos de uma batalha entre o Demolidor e o Mercenário em quatro
imagens com uma variedade de ângulos e planos.
Então o leitor se depara com uma imagem em página dupla. Um
homem misterioso apontando para a tela, onde passam as imagens do conflito
enquanto o mafioso, em primeiro plano, tem seu cigarro aceso por um lacaio e
diz: “Tudo é possível por um preço... até mesmo assassinato!”. O impacto é
enorme.
Miller varia planos, ângulos, joga com a luz e a sombra. |
O mafioso manda bandidos ameaçarem Matt Murdock e enviarem
uma mensagem para o Demolidor: ele deve comparecer no cais à meia-noite. Claro
que o local está infestado de malfeitores, armados até os dentes, prontos para
matar o herói.
Mas o Demolidor usa seu sentido de radar e sua audição
super-desenvolvida par ir eliminando os adversários um a um em sequências de
ação simplesmente magistrais. Miller joga com luz e sombras, varia ângulos e
planos, usa a elipse quadrinística com genialidade, faz quadros verticais que
se esticam por toda a lateral da página quando o Demolidor cai na água, usando
o recurso para mostrar visualmente sua queda.
Uma curiosidade é que Miller introduz aqui um personagem que
seria usado à exaustão como alívio cômico na sua fase como roteirista do
título: o criminoso Tucão.
No final descobrimos que quem está por trás dessa tentativa
de assassinato é um vilão Mercenário. A história termina com a promessa de um
grande confronto.
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