Confesso que nunca na minha vida me imaginei comprando
igresso para assistir um filme da Barbie no cinema. Mas o filme dirigido por Greta
Gerwig é surpreendente, e isso por muitos motivos.
O primeiro deles diz respeito ao próprio conceito: mostrar o
mundo da boneca Barbie. Assim, vemos Margot Robbie acordando numa casa
perfeita, mas sem paredes e cumprimentando as vizinhas, todas chamadas Barbie. Ele
prepara um café da manhã, com torradas que pulam no seu prato e uma jarra de
suco que não contém suco. Ela dirige um carro desproporcional que não tem
motor.
Nós já tivemos, em Toy Story, brinquedos em 3D sendo
mostrados como pessoas, com suas qualidades e defeitos. Aqui a chave vira e
vemos atores interpretando brinquedos, inclusive em sua superficialidade
unidimensional. E essa interpretação inclui os mínimos detalhes, incluindo
momentos em que os personagens movem as mãos com os dedos juntos e fixos, como
bonecos.
Só essa inovação, realizada com maestria por ótimas
interpretações, já valeria o filme.
A segunda razão, e talvez a mais importante, é o
questionamento da personagem principal, que, de repente, passa a ter medo da
morte. Esse é um ponto de virada, equivalente ao de Fahrenheit 451, quando é
perguntando ao protagonista se ele é feliz. É o gancho que irá puxar toda a
história, mas é também a introdução de um questionamento filosófico e existencial
num mundo perfeito de plástico. Um questionamento que irá virar tudo de cabeça
para baixo. Embora essa questão existencial seja discutida de maneira leve no
filme, ela tem um impacto enorme por ser feito em um filme da Barbie.
Junte a isso as várias referências, como a de 2001, no início
do filme, ao Zack Snyder, Rambo e outras. Nem mesmo a própria Mattel escapa ao
humor ferino do roteiro, como os diretores da empresa sendo mostrados como
bobalhões descerebrados que só pensam em dinheiro. Até mesmo a criadora da
boneca, tem sua cota de crítica quando uma fala se refere aos seus problemas
com receita norte-americana. Essas referências rendem boas risadas.
Tudo isso é feito de maneira leve e divertida, o que tem se
refletido na bilheteria estrondosa.
Em tempo: muitos estão reclamando que os homens, em especial
o Ken é mostrado como um ser superficial e cuja importância é totalmente
atrelada à Barbie. Parece que essas pessoas esqueceram que estavam assistindo a
um filme da... Barbie!
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