sábado, março 30, 2024

Perry Rhodan – A nave dos antepassados


Entre as muitas possibilidades da ficção científica está a de poder imaginar sociedades do futuro, cuja estrutura é diferente da conhecida por nós. Foi isso que fez Clark Darlton no volume 81 da série Perry Rhodan.

Esse livro é praticamente um conto isolado, em que o único personagem da série que aparece é Gucky, e só no final – o que leva a crer que essa era uma história que Darlton tinha bolado como um livro isolado e acabou encaixando na saga.

A história se passa em uma nave imensa, de um quilômetro e meio, construída aos moldes arcônidas, ou seja, no formato esférico. Ela percorre lentamente o espaço na direção de um destino desconhecido pelo seus tripulantes. A narração de Darlton, que abre o livro, é tanto sintética quanto poética: “A gigantesca esfera metálica vagava pela imensidão infinita do Universo. (...) Se mantivesse a velocidade atual, a esfera só chegaria ao destino dentro de algumas dezenas de milênios”.

A capa alemã. 


Essa nave, pela longevidade da viagem, acaba se transformando em uma sociedade  com regras próprias. As pessoas, por exemplo, não têm nome, sendo nomeadas por sua função e um número. Por exemplo, Maquinista 7, abreviado para M7, ou Médico 3, abreviado para M3, ou Psicólogo 5, abreviado para Ps5. E, finalmente o comandante, C1.

Cada pessoa da tripulação é morta a partir de uma certa idade quando seu corpo é jogado em um reator, ajudando a criar energia para a nave. Sua função é substituída por uma pessoa mais nova. Homens e mulheres são mantidos separados e se encontram apenas em ocasiões especiais, com o único objetivo de procriação.

As ordens para o assassinato de quem chegou à idade certa são executadas por robôs, chamados de vigias.

Quem conhece o filme e o seriado Logan´s run, conhecido no Brasil como Fuga do século XXIII, vai com certeza perceber que os enredos são muito parecidos. Ambos descrevem uma distopia sobre pessoas vivendo em um ambiente fechado e sendo mortas como forma de controle populacional. E em ambas o inimigo, que implantou tal distopia, é um robô.

Ocorre que A nave dos antepassados foi lançado em 1963. O livro Logan´s run, que deu origem ao filme e ao seriado, foi lançado só em 1967, quatro anos depois.

Esse volume é um daqueles exemplos de como a série Perry Rhodan antecipou muitos dos conceitos da ficção científica, que só seriam explorados anos depois pela indústria cultural norte-americana.  

Em tempo: ao final do volume a situação se resolve, principalmente graças à intervenção de Gucky (Darlton adorava o personagem) com direito inclusive a um plot twist.

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