terça-feira, abril 30, 2024

ENCANTARIAS: a lenda da noite

 


                               O álbum Encantarias, a lenda da noite é um trabalho conjunto dos integrantes do estúdio Casa Velha, de Belém, entre eles Volney Nazareno (criação e roteiro), Julião Cristo (argumento), Fernando Carvalho (arte-final e pintura), Aline Oliveira (letras) e Otoniel Oliveira (roteiro, desenho e pintura) lançado de forma independente em 2006.

                               A história em quadrinhos conta a origem da noite, segundo a tradição indígena. Com uma premissa dessas, o caminho mais fácil seria fazer uma narrativa tradicional, mas o grupo mistura a tradição com o novo, ao apresentar inovações narrativas.

                               O roteiro é melhor que o de Belém Imaginária, o outro trabalho do grupo, talvez por não ter a obrigação de ser um quadrinho infantil. Isso deixou os artistas mais soltos para experimentar.



                               O desenho se mostra pródigo ao retratar mulheres voluptuosas (um aspecto facilitado pelo fato de serem retratadas índias...), mas também demonstra um grande domínio da narrativa em quadrinhos. Em uma seqüência, por exemplo, os personagens estão subindo um morro. A leitura é feita de baixo para cima e quando os olhos sobem, nós os encontramos lá em cima.

                               Outra seqüência impressionante é quando a cobra Honorato enfrenta sua irmã Caninana. Para quem está lendo, é como se tivesse de repente deparado com duas serpentes imensas. Para isso, os autores exploram os ângulos, mostrando Caninana sempre de baixo para cima, deixando o leitor em posição inferior. A única imagem aérea só é mostrada quando o leitor se acostuma com o tamanho enorme da cobra Canina e então aparece seu irmão Honorato, muito maior.  

                               A história é uma espécie de Senhor dos Anéis tucuju: três guerreiros estão a serviço de tupã e precisam encontrar um alguidar que encerra a noite. Para cumprir sua missão, o trio enfrenta os mais terríveis perigos e encontra com os mais variados elementais amazônicos, da Iara ao Curupira.

                               Uma leitura reconfortante que mostra que não só temos uma cultura rica, como ela pode ser bem aproveitada nos quadrinhos.

                               A história tem um único senão: há um número talvez excessivo de balões-legenda, todos com texto em cor vermelha o que, se por um lado ajuda no visual, atrapalha na leitura.

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