sexta-feira, julho 19, 2024

Tarzan – A volta do formato original

 


Recentemente tive a oportunidade de comprar, em sebo, um gibi de Tarzan da Ebal. Pela capa, achava que se tratava de uma publicação da década de 1950 e me surpreendi ao perceber que é de março de 1985.

A imagem da capa mostrava uma imagem de Lex Barker, ator que fez Tarzan no cinema na década de 1940. A chamada da capa dizia: “Com desenhos em  preto e branco! Mais lindos! Mais expressivos”, o que sem dúvida era uma forma curiosa de convencer o leitor de que a economia com a gráfica era um mérito.

O editorial lamentava que os quadrinhos estavam em baixa. 


A revista começa com uma sessão chamada Conversa com o diretor, supostamente escrita por Adolfo Aizen. Ali pelo meio, uma notinha: “As revistas em quadrinhos estão mesmo em baixa. Aparecem e desaparecem. E deixam um rastro de prejuízo às editoras que tentam mantê-las e reerguê-las”.

A notinha é no mínimo estranha, pois, justamente nessa fase, a editora Abril estava bombando com as revistas em quadrinhos Marvel e, em menor nível, com os quadrinhos DC, que antes pertenciam à Ebal. Fazia apenas três anos que a Abril tinha lançado Superaventuras Marvel (a revista de maior sucesso do núcleo de quadrinhos) que publicava à essa altura, X-men de John Byrne e Chris Claremont e Demolidor de Frank Miller. Apenas doís anos depois, em 1987, a Abril lançaria Cavaleiro das Trevas, um campeão de vendas absoluto, que levaria a Abril a lançar diversas graphic novels e minisséries de luxo.

Macacos gigantes, vespas gigantes... o roteirista não parecia muito inspirado. 


A mesma sessão informa que, a partir daquele número, a pedido dos leitores, voltariam a ser publicadas as histórias da década de 1940 e 1950.

Nesse número específico, a revista trouxe três histórias desenhadas por Jesse Marsh, artista que ilustrava Tarzan para a Dell Comics na década de 1950.

Embora o desenho dele fosse elegante, em alguns momentos parecia tosco. As histórias eram bizarras, geralmente envolvendo animais gigantes.

O desenho de Jesse Marsh era simples, mas elegante. 


Na primeira história, Tarzan enfrenta macacos gigantes e na segunda, vespas gigantes, o que mostra que o roteirista provavelmente estava com falta de ideias.

É impressionante a falta de ação: tudo acontece muito lentamente e as cenas de luta, por exemplo, nunca são mostradas, provavelmente reflexo do comics code que amordaçou os quadrinhos na década de 1950. Colaborando com esse ritmo modorrento, a diagramação é padrão, com seis quadros iguais por página.

Em uma das histórias, Tarzan encontra com árabes... e eles estão vestidos como indianos!

Àrabe ou indiano? 


A tradução dos diálogos é primorosa. À certa altura, Boy (o filho de Tarzan?) diz: “Aonde vais?”, ao que o homem macaco responde: “Muviro to dirá”.

A impressão que dá é de que as pessoas que traduziam os textos tinham no mínimo 60 anos.

Na comparação com as revistas da Abril e sua linguagem descolada, quadrinhos repletos de ação e aventura, personagens complexos, a exemplo do Demolidor de Frank Miller e os X-men de claremont e Byrne, essa revista, lançada pela Ebal em 1985 parece uma discrepância.

O ritmo das história era lento. 


A se acreditar na notinha, segundo a qual as histórias de Jesse Marsh tinham voltado a pedido dos leitores, os leitores da revista tinham pelo menos 40 anos, ainda assim, o editor parece acreditar que se trata de crianças, pois introduz, no final do volume, trechos de uma entrevista da escritora Tatiana Bellinky sobre como estimular as crianças a lerem.

Confesso que, embora eu frequentasse as bancas assiduamente em 1985, não vi essa revista nas bancas. Mas é provável que eu tenha visto e ela tenha se tornado invisível. Provavelmente era invisível para muitos outros leitores da minha idade. É que àquela altura a Ebal tinha perdido o bonde da história. Só restava ao editor lamentar que os quadrinhos estavam mesmo em baixa. 

Em tempo: se nas revistas de linha a Ebal parecia perdida, nas edições especiais, como Príncipe Valente e Flash Gordon, a editora certamente abriu caminho para diversas outras editoras posteriores, que focaram em um público mais adulto e de maior poder aquisitivo.

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