Recentemente tive a oportunidade de comprar, em sebo, um gibi de Tarzan da Ebal. Pela capa, achava que se tratava de uma publicação da década de 1950 e me surpreendi ao perceber que é de março de 1985.
A imagem da capa mostrava uma imagem de Lex
Barker, ator que fez Tarzan no cinema na década de 1940. A chamada da capa
dizia: “Com desenhos em preto e branco!
Mais lindos! Mais expressivos”, o que sem dúvida era uma forma curiosa de
convencer o leitor de que a economia com a gráfica era um mérito.
O editorial lamentava que os quadrinhos estavam em baixa.
A revista começa com uma sessão chamada
Conversa com o diretor, supostamente escrita por Adolfo Aizen. Ali pelo meio,
uma notinha: “As revistas em quadrinhos estão mesmo em baixa. Aparecem e
desaparecem. E deixam um rastro de prejuízo às editoras que tentam mantê-las e
reerguê-las”.
A notinha é no mínimo estranha, pois,
justamente nessa fase, a editora Abril estava bombando com as revistas em
quadrinhos Marvel e, em menor nível, com os quadrinhos DC, que antes pertenciam
à Ebal. Fazia apenas três anos que a Abril tinha lançado Superaventuras Marvel
(a revista de maior sucesso do núcleo de quadrinhos) que publicava à essa
altura, X-men de John Byrne e Chris Claremont e Demolidor de Frank Miller. Apenas
doís anos depois, em 1987, a Abril lançaria Cavaleiro das Trevas, um campeão de
vendas absoluto, que levaria a Abril a lançar diversas graphic novels e
minisséries de luxo.
Macacos gigantes, vespas gigantes... o roteirista não parecia muito inspirado.
A mesma sessão informa que, a partir daquele
número, a pedido dos leitores, voltariam a ser publicadas as histórias da
década de 1940 e 1950.
Nesse número específico, a revista trouxe
três histórias desenhadas por Jesse Marsh, artista que ilustrava Tarzan para a
Dell Comics na década de 1950.
Embora o desenho dele fosse elegante, em
alguns momentos parecia tosco. As histórias eram bizarras, geralmente
envolvendo animais gigantes.
O desenho de Jesse Marsh era simples, mas elegante.
Na primeira história, Tarzan enfrenta macacos
gigantes e na segunda, vespas gigantes, o que mostra que o roteirista
provavelmente estava com falta de ideias.
É impressionante a falta de ação: tudo
acontece muito lentamente e as cenas de luta, por exemplo, nunca são mostradas,
provavelmente reflexo do comics code que amordaçou os quadrinhos na década de
1950. Colaborando com esse ritmo modorrento, a diagramação é padrão, com seis
quadros iguais por página.
Em uma das histórias, Tarzan encontra com
árabes... e eles estão vestidos como indianos!
A tradução dos diálogos é primorosa. À certa
altura, Boy (o filho de Tarzan?) diz: “Aonde vais?”, ao que o homem macaco
responde: “Muviro to dirá”.
A impressão que dá é de que as pessoas que
traduziam os textos tinham no mínimo 60 anos.
Na comparação com as revistas da Abril e sua
linguagem descolada, quadrinhos repletos de ação e aventura, personagens
complexos, a exemplo do Demolidor de Frank Miller e os X-men de claremont e
Byrne, essa revista, lançada pela Ebal em 1985 parece uma discrepância.
O ritmo das história era lento.
A se acreditar na notinha, segundo a qual as
histórias de Jesse Marsh tinham voltado a pedido dos leitores, os leitores da
revista tinham pelo menos 40 anos, ainda assim, o editor parece acreditar que se
trata de crianças, pois introduz, no final do volume, trechos de uma entrevista
da escritora Tatiana Bellinky sobre como estimular as crianças a lerem.
Confesso que, embora eu frequentasse as
bancas assiduamente em 1985, não vi essa revista nas bancas. Mas é provável que
eu tenha visto e ela tenha se tornado invisível. Provavelmente era invisível
para muitos outros leitores da minha idade. É que àquela altura a Ebal tinha
perdido o bonde da história. Só restava ao editor lamentar que os quadrinhos
estavam mesmo em baixa.
Em tempo: se nas revistas de linha a Ebal
parecia perdida, nas edições especiais, como Príncipe Valente e Flash Gordon, a
editora certamente abriu caminho para diversas outras editoras posteriores, que
focaram em um público mais adulto e de maior poder aquisitivo.
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