Sandman foi um dos quadrinhos que mais me influenciaram no início de carreira. |
Na prática da escrita não existem gênios que surgem do nada, com um estilo próprio e revolucionário. Todo grande escritor é fruto de suas leituras. Todo grande escritor se assenta sobre os ombros dos que vieram antes dele. Só para citar um exemplo mais famoso: O nome da Rosa, de Umberto Eco é o resultado de uma série de influências, entre elas, principalmente Conan Doyle (o nome do protagonista, Guilherme de Barskerville, é uma referência direta a um dos romances de Sherlock Holmes) e Jorge Luís Borges (o nome do vilão, Jorge, é uma homenagem direta ao escritor argetino).
Na verdade, o estilo de um escritor é o
resultado de suas influências literárias em conjunto com sua experiência de
vida. Essa sopa, bem temperada, dá origem às grandes obras.
Isso não significa copiar um autor, mas absorver
um pouco de vários e digerir essas influências misturando-as com suas próprias
experiências pessoais. Com um autor você pode aprender narrativa, com outro
diálogo, com outro a forma de lidar com as elipses quadrinísticas, com outro a
estrutura da trama... cada um tem algo a nos ensinar.
Quando comecei a escrever quadrinhos durante
algum tempo tive uma produção prolixa, já que a editora Nova Sampa, para a qual
eu trabalhava, comprava praticamente tudo que eu escrevia. Isso me permitiu
fazer um exercício que recomendo a todos novos autores: fazia histórias
imitando o estilo deste ou daquele roteirista. Em uma HQ seguia o modo de
escrever de Neil Gaiman, em outro, o de Grant Morrison e em outro, o de Alan
Moore (só para citar os que mais me influenciaram). Para fazer isso eu
precisava estudar o estilo de cada um para fazer a “história homenagem”.
Acabei gostando da brincadeira e produzi um
fanzine literário, Ideias de Jeca-tatu em que, a cada número publicava a
biografia de um escritor e um conto-homenagem no estilo dele. Foram
homenageados Monteiro Lobato, Machado de Assis, Edgar Allan Poe, entre outros.
Com cada um eu aprendia algo, fosse o humor lobatiano, o clima poético de Poe,
o sarcasmo sutil de Machado.
Ao final, meu próprio estilo foi se definindo.
Um estilo que não era uma imitação de nenhum desses escritores ou roteiristas,
mas uma mistura de todos eles, uma sopa antropofágica da qual emergiu minha
própria maneira de escrever e bolar tramas.
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