sábado, agosto 17, 2024

O casamento do Fantasma

 

Entre as histórias mais famosas do Fantasma estão duas que fogem completamente do modelo de HQs de heróis, trazendo pouquíssima ação. Trata-se do casamento e da lua-de-mel do personagem. 

Desenhada pelo haitiano brasileira André LeBlanc (mas assinada por Sy Barry), a história começa com pedido de casamento. 

Lee falk é um roteirista habilidoso e estica ao máximo o suspense, fazendo com que o Fantasma não consiga pedir a amada em casamento. É alguém que interrompe o casal, é uma carta que chega, ou a simples insegurança. É curioso ver um personagem tão onipotente mostrar essa faceta fragilizada e insegura. 

Diana realiza um trabalho de direitos humanos em uma ditadura militar. 


Quando finalmente ele ganha coragem para fazer o pedido, surge um empecilho. Nesse meio tempoDiana foi escalada para participar de uma comissão de diretoria humanos da ONU para inspecionar as prisões de um país que vive uma ditadura militar, um local em que, para falar com o ditador local, só é possível se a pessoa entrar na sala arrastando pelo chão (LeBlanc acentua esse aspecto ao mostrar apenas os pés do ditador). Diana tenta descobrir o que há realmente por trás das masmorra e acaba sendo presa - e o Fantasma vai em seu auxílio. 

Se lembrarmos que na década de 70 havia várias ditaduras militares espalhas pela America Latina, inclusive no Brasil, é uma opção corajosa de Lee Falk trazer o tema para a trama do casamento.

A cerimônia tem diversos convidados. 


(É irônico, aliás, que a maioria dos fãs do Fantasma, que vibraram com essa aventura, hoje em dia bradem contra os direitos humanos e peçam ditadura militar)

Aliás, Lee falk parece muito avançado para sua época. O Fantasma nunca mata e mesmo quando é atacado por animais, como acontece com leões durante a lua de mel, faz de tudo para não feri-los. 

O casamento se torna grandioso por resgatarem toda a mitologia do personagem através dos convidados. Comparecem os presidente de Luaga e de Ivory-Lana, os chefes tribais, os príncipes das Montanhas da Neblina, Hzz, um ser humanoide e peludo, e muitos outros. Uma curiosidade é que Mandrake é apresentado apenas como o amigo de Lothar, príncipe das sete nações em uma curiosa inversão das tiras clássicas, em que Lothar era o criado do mágico – e demonstra a preocupação de Lee Falk em atualizar suas séries. Aliás, o próprio fato da esposa do Fantasma não largar o emprego ao se casar mostra essa preocupação.

A lua-de-mel acontece em uma praia paradisíaca. 


Mesmo durante a comemoração, vamos descobrindo aspectos culturais. Por exemplo, o brinde é feito com água da nascente, pois o Fantasma proíbe bebidas alcóolicas na Floresta Negra.

A lua-de-mel se passa na praia dourada de Keela-Wee. “Esta cabana de jade foi presente do imperador Joonkoor ao 7º Fantasma”, explica o herói. “Desde então, todo Fantasma passa aqui sua noite de núpcias”.

Quando aparecem bandidos, parece que eles fazem parte da diversão. 


A sequência, claro, não mostra nada de sexo (eles nem mesmo se beijam), mas encanta por mostrá-los se divertindo em meio à natureza. Quando aparecem alguns bandidos, eles são derrotados com tanta facilidade que parece que tudo faz parte do pacote de diversão.

A história foi lançada em formatinho em 1978 pela RGE, dividida em duas partes. Mas os editores logo perceberam que aquela história merecia uma edição especial e lançaram em formato maior, juntanto o casamento e a lua-de-mel em um único volume. A belíssima capa, de Walmir Amaral, mostrava o Fantasma e Diana sobre o cavalo Herói, tendo a caverna da caveira ao fundo. Uma edição histórica, disputada por fãs do espírito que anda.  

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