Entre as histórias mais famosas do Fantasma
estão duas que fogem completamente do modelo de HQs de heróis, trazendo
pouquíssima ação. Trata-se do casamento e da lua-de-mel do personagem.
Desenhada pelo haitiano brasileira André LeBlanc
(mas assinada por Sy Barry), a história começa com pedido de casamento.
Lee falk é um roteirista habilidoso e estica
ao máximo o suspense, fazendo com que o Fantasma não consiga pedir a amada em
casamento. É alguém que interrompe o casal, é uma carta que chega, ou a simples
insegurança. É curioso ver um personagem tão onipotente mostrar essa faceta
fragilizada e insegura.
Diana realiza um trabalho de direitos humanos em uma ditadura militar.
Quando finalmente ele ganha coragem para
fazer o pedido, surge um empecilho. Nesse meio tempoDiana foi escalada para
participar de uma comissão de diretoria humanos da ONU para inspecionar as
prisões de um país que vive uma ditadura militar, um local em que, para falar
com o ditador local, só é possível se a pessoa entrar na sala arrastando pelo
chão (LeBlanc acentua esse aspecto ao mostrar apenas os pés do ditador). Diana
tenta descobrir o que há realmente por trás das masmorra e acaba sendo presa -
e o Fantasma vai em seu auxílio.
Se lembrarmos que na década de 70 havia
várias ditaduras militares espalhas pela America Latina, inclusive no Brasil, é
uma opção corajosa de Lee Falk trazer o tema para a trama do casamento.
A cerimônia tem diversos convidados.
(É irônico, aliás, que a maioria dos fãs do Fantasma,
que vibraram com essa aventura, hoje em dia bradem contra os direitos humanos e
peçam ditadura militar)
Aliás, Lee falk parece muito avançado para
sua época. O Fantasma nunca mata e mesmo quando é atacado por animais, como
acontece com leões durante a lua de mel, faz de tudo para não feri-los.
O casamento se torna grandioso por resgatarem
toda a mitologia do personagem através dos convidados. Comparecem os presidente
de Luaga e de Ivory-Lana, os chefes tribais, os príncipes das Montanhas da
Neblina, Hzz, um ser humanoide e peludo, e muitos outros. Uma curiosidade é que
Mandrake é apresentado apenas como o amigo de Lothar, príncipe das sete nações
em uma curiosa inversão das tiras clássicas, em que Lothar era o criado do mágico
– e demonstra a preocupação de Lee Falk em atualizar suas séries. Aliás, o próprio
fato da esposa do Fantasma não largar o emprego ao se casar mostra essa
preocupação.
A lua-de-mel acontece em uma praia paradisíaca.
Mesmo durante a comemoração, vamos
descobrindo aspectos culturais. Por exemplo, o brinde é feito com água da
nascente, pois o Fantasma proíbe bebidas alcóolicas na Floresta Negra.
A lua-de-mel se passa na praia dourada de
Keela-Wee. “Esta cabana de jade foi presente do imperador Joonkoor ao 7º Fantasma”,
explica o herói. “Desde então, todo Fantasma passa aqui sua noite de núpcias”.
Quando aparecem bandidos, parece que eles fazem parte da diversão.
A sequência, claro, não mostra nada de sexo
(eles nem mesmo se beijam), mas encanta por mostrá-los se divertindo em meio à
natureza. Quando aparecem alguns bandidos, eles são derrotados com tanta facilidade
que parece que tudo faz parte do pacote de diversão.
A história foi lançada em formatinho em 1978
pela RGE, dividida em duas partes. Mas os editores logo perceberam que aquela
história merecia uma edição especial e lançaram em formato maior, juntanto o
casamento e a lua-de-mel em um único volume. A belíssima capa, de Walmir
Amaral, mostrava o Fantasma e Diana sobre o cavalo Herói, tendo a caverna da
caveira ao fundo. Uma edição histórica, disputada por fãs do espírito que anda.
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