A primeira temporada do seriado Bom dia, Verônica parecia tão redondinha, tão fechada, que uma segunda temporada tinha tudo para ser forçada. Afinal, o psicopata Brandão, vilão da trama, havia morrido no final. Continuar a história, portanto, era uma aposta arriscada. No entanto, o roteiro acabou sendo amarrado de tal forma que a continuação consegue ser tão boa quanto.
Na segunda temporada o vilão é Matias Carneiro, um líder religioso que usa sua posição para abusar de mulheres, praticar tráfico humano e criar uma milícia que se infiltra em todas as instâncias do poder, em especial na polícia.
Se na primeira tempora o grande destaque era Camila Morgado, no papel de esposa do psicopata Brandão, aqui o destaque fica por conta de Klara Castanho, que interpreta a filha de Matias Carneiro.
A relação pai e filha é marcada por uma superfície de amor e carinho, representada pela cena inicial, em que Matias acorda a filha com a caixa de música de bailarina. O que vemos ali é um pai apaixonado pela filha criança, que parece dedicar toda a sua atenção e compreensão a ela.
Mas, por trás dessa superfície, existe uma história de abusos que fica o tempo todo implícita.
As cenas entre os dois parece sempre oscilar entre dois momentos, um de carinho paterno e outro de violência, violência que aparentemente nunca se revela, mas sempre está ali, em olhares, em pequenas expressões, sempre implícita. Para isso contribui muito a atuação de Reynaldo Gianecchini no papel de Matias, que com seu olhar calmo e sua voz doce consegue ser capaz de manipular qualquer um.
É curioso como os roteiristas Raphael Montes e Ilana Casoy conseguem costurar essa trama quase caseira com a história de Verônica, que continua investigando as conexões do psicopata da primeira temporada. A relação entre as duas histórias vai se tornando cada vez mais estreita até os episódios finais, que são simplesmente hipnotizantes.
Vale destacar também como o contexto religioso é muito bem aproveitado, com destaque para a cena em que Matias e sua filha cantam a música “Quando o sol bater na janela do seu quarto”, do Legião Urbana. A cena resume toda a base de aparente carinho e, ao mesmo tempo, tensão.
Em tempo: Matias Carneiro é evidentemente inspirado em João de Deus, o curandeiro envolvido em diversos crimes, entre eles estupros e assassinatos.
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