sexta-feira, novembro 01, 2024

O fim da eternidade, de Isaac Asimov

 

Quando pensa em ficção científica, a grande maioria das pessoas costuma lembrar em grandes batalhas espaciais e tramas repletas de ação. Existem obras, no entanto, que se baseiam principalmente nas questões lógicas e científicas relacionadas ao desenvolvimento tecnológico. São obras que têm como principal objetivo desafiar o leitor, estimular sua imaginação e raciocínio. O fim da eternidade, de Isaac Asimov (lançado no Brasil pela editora Aleph), é um ótimo exemplo disso.
Publicado originalmente em 1955, O fim da eternidade trata de viagens no tempo. Mas o enfoque é totalmente original. Imagine se o ser humano, ao descobrir as viagens temporais, não se contentasse em vagar para o passado ou futuro, mas se dedicasse a mudar a história. Pequenas modificações poderiam criar novas realidades, menos danosas ao ser humano. Para isso, é fundada toda uma sociedade de viajantes do tempo, centrada nos observadores, técnicos e computadores (a expressão aqui não é no sentido de pessoas que coordenam todo o processo de mudança da realidade).
Ao contrário do que a maioria das pessoas poderia imaginar, as mudanças na realidade têm como base pequenas, sutis modificações.
Um exemplo:
“Ele havia alterado a realidade. Havia adulterado um mecanismo (a embreagem de um carro) por alguns minutos do século 223 e, como resultado, um jovem não conseguiu assistir a uma palestra sobre mecânica à qual deveria ter comparecido. Nunca estudou engenharia solar e, em consequência, um invento perfeitamente simples teve seu desenvolvimento adiado por dez anos cruciais. Uma guerra no 224, espantosamente, sumiu da realidade como resultado”.
Asimov, muito à frente de seu tempo, antecipa alguns conceitos fundamentais da teoria do caos, como o efeito borboleta, também chamada de dependência sensível das condições iniciais. Esse conceito costuma ser exemplificado com a frase: uma borboleta batendo suas asas na mulhara da China pode provocar uma tempestade em Nova York.
O interessante é que esse fenômeno só foi observado pela primeira vez pelo metereologista Edward Lorenz, em 1963, e só se tornaria popular com o coletivo de sistemas dinâmicos, na década de 1970. Ou seja: Asimov antecipa, na ficção, o que a ciência só viria a observar de fato, quase dez anos depois. Mais, ele lança a ideia, hoje comum nos meios científicos, de que a realidade é feita de diversas bifurcações, pequenas escolhas. Eu vou para o trabalho usando a rua da esquerda ou da direita? O resultado dessa escolha pode provocar grandes alterações na realidade. A cada bifurcação, é como se uma nova realidade estivesse sendo escolhida. Então, o real seria resultado de uma quantidade infinita de bifurcações e, portanto, de uma infinidade de realidades paralelas.
O fim da eternidade, é, portanto, um livro sobre lógica e sobre como o desenvolvimento tecnológico afeta a realidade. O conflito aqui não está na ação, no embate de punhos, mas no embate de ideias, teorias e conceitos. Asimov se aventura até mesmo na teoria da evolução, ao postular que as constantes mudanças na realidade, ao criarem as melhores condições para a humanidade, emperrariam a evolução do ser humano, uma vez que a evolução decorre do ajustamento às situações ambientais desfavoráveis.
Surpreendentemente, o autor consegue transformar essa trama puramente cerebral em um verdadeiro triller de suspense. Passadas as primeiras páginas, dedicadas quase que exclusivamente à descrição da eternidade e seus agentes, o leitor logo se vê em uma trama complexa cheia de reviravoltas.
O fim da eternidade é um daqueles livros que exercitam o cérebro.

Mosquito, Mosquete e Moscardo

 


Mosquito, Mosquete e Moscardo é um desenho animado da Hanna-Barbera exibido pela primeria vez em 1964.

Os personagens principais são três cachorros mosqueteiros atrapalhados que servem a um rei. Os três são tão patetas que muitas vezes acabam se dando mal sozinhos, sem a necessidade de nenhum inimigo, seja dando de cara com uma porta fechada ou ferroando um amigo com a espada sem querer.

As histórias giram normalmente em torno de ordens recebidas pelos mosqueteiros e a forma desastrada com a qual agem – o que acaba colocando o soberano em situações dolorosas. O bordão do rei, aliás, é “preciso de guardas para me salvar dos meus guardas”.

Em A bruxa bucho, uma bruxa transforma o rei em sapo, o que faz com que os mosqueteiros levem o soberano para convencer a bruxa a transformá-lo em humano de novo e só conseguem o intento quando a bruxa, sem querer toma uma porção que a transforma numa bela e boa donzela.

Em O fora da lei na lei, a rainha decide que seu irmão deve se tornar um mosqueteiro. Mas durante todo o processo de instrução do rapaz, o máximo que ele consegue é machucar o rei das mais variadas formas possíveis, seja atingindo-o com uma flecha, com uma bola de canhão ou aplicando-lhe golpes de judô.

O desenho teve uma temporada com 23 episódios curtos. 

Homem-Animal – O demônio e o mar profundo

 

Uma das histórias mais interessantes da fase de Grant Morrison à frente do Homem-Animal é um conto singelo sobre como o personagem tenta impedir a caça a golfinhos nas ilha Faroe.

Chamada de  'grindgráp', essa caçada é feita há séculos. Barcos formam um semi-círculo em volta de golfinhos em migração, forçando-os na direção da praia. Lá eles ficam encalhados na areia e se tornam presas fáceis. Centenas às vezes milhares de golfinhos são mortos, fazendo com que a água fique tingida de sangue. Embora essa atividade antigamente fosse uma forma de conseguir comida, hoje em dia é apenas uma diversão sangrenta.

Algumas páginas trazem a narrativa de um golfinho. 


Na história, o Homem-Animal se une a um grupo de ecologistas que pretende sabotar a caçada daquele ano. Uma segunda heroína, chamada Delfim, se une ao grupo.

Morrison traz algumas sequências com a narrativa de um golfinho e simula seu pensamento em um texto sem pontuação: “Harmonias de dor uma tempestade de ruídos confusão sofrimento frenesi agonia”.

A história é sobre o massacre de golfinhos na ilha Faroe. 


Esse golfinho, aliás, tem a companheira e o filho mortos por um dos pescadores, justamente aquele que o Homem-Animal, enfurecido, leva pelos ares e joga no meio do oceano. E o golfinho, que tinha todos os motivos para se vingar, acaba salvando o pescador. A narrativa do golfinho diz que o modo de ser dos tristes homens é a matança, o demarramento de sangue de inocentes: “O nosso modo é diferente”.

O roteiro surpreende o leitor ao mesmo tempo em que constrói uma fabula moral e deixa em aberta uma pergunta: somos de fato os seres mais inteligentes do planeta?

Os heróis tentam impedir a caçada afastando os golfinhos da costa.


Tudo isso é feito sem as tramas complicadas que caracterizariam Morrison no futuro. A história é comovente em sua simplicidade. Embora seja pouco lembrado, vale destacar o papel dos desenhistas Chas Troug e Doug Hazlewood nesse resultado. O traço aqui não tem nada de revolucionário ou chamativo. É um traço unicamente a serviço da história que está sendo contada.

Essa história foi publicada no número 15 da edição americana e, no Brasil, no número 26 da DC 2000.