sexta-feira, novembro 01, 2024

Homem-Animal – O demônio e o mar profundo

 

Uma das histórias mais interessantes da fase de Grant Morrison à frente do Homem-Animal é um conto singelo sobre como o personagem tenta impedir a caça a golfinhos nas ilha Faroe.

Chamada de  'grindgráp', essa caçada é feita há séculos. Barcos formam um semi-círculo em volta de golfinhos em migração, forçando-os na direção da praia. Lá eles ficam encalhados na areia e se tornam presas fáceis. Centenas às vezes milhares de golfinhos são mortos, fazendo com que a água fique tingida de sangue. Embora essa atividade antigamente fosse uma forma de conseguir comida, hoje em dia é apenas uma diversão sangrenta.

Algumas páginas trazem a narrativa de um golfinho. 


Na história, o Homem-Animal se une a um grupo de ecologistas que pretende sabotar a caçada daquele ano. Uma segunda heroína, chamada Delfim, se une ao grupo.

Morrison traz algumas sequências com a narrativa de um golfinho e simula seu pensamento em um texto sem pontuação: “Harmonias de dor uma tempestade de ruídos confusão sofrimento frenesi agonia”.

A história é sobre o massacre de golfinhos na ilha Faroe. 


Esse golfinho, aliás, tem a companheira e o filho mortos por um dos pescadores, justamente aquele que o Homem-Animal, enfurecido, leva pelos ares e joga no meio do oceano. E o golfinho, que tinha todos os motivos para se vingar, acaba salvando o pescador. A narrativa do golfinho diz que o modo de ser dos tristes homens é a matança, o demarramento de sangue de inocentes: “O nosso modo é diferente”.

O roteiro surpreende o leitor ao mesmo tempo em que constrói uma fabula moral e deixa em aberta uma pergunta: somos de fato os seres mais inteligentes do planeta?

Os heróis tentam impedir a caçada afastando os golfinhos da costa.


Tudo isso é feito sem as tramas complicadas que caracterizariam Morrison no futuro. A história é comovente em sua simplicidade. Embora seja pouco lembrado, vale destacar o papel dos desenhistas Chas Troug e Doug Hazlewood nesse resultado. O traço aqui não tem nada de revolucionário ou chamativo. É um traço unicamente a serviço da história que está sendo contada.

Essa história foi publicada no número 15 da edição americana e, no Brasil, no número 26 da DC 2000.

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