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Moore revoluciona ao mostrar uma abordagem realista dos super-heróis. |
O embate entre Miracleman e Kid Miracleman
foi um evento tão grandioso que parecia que a história só poderia decair depois
disso. De fato, a história seguinte é quase toda focada em uma visita ao campo
de Mike Moran e sua esposa nas quais eles testam seus poderes.
A sequência é uma pérola da metalinguagem. A
mulher usa como referência gibis americanos de super-heróis. Mas, ao mesmo
tempo, percebe que aqueles poderes não fazem sentido. Por exemplo, quando
Miracleman joga para o alto uma rocha imensa e deixa que ela caia em sua
cabeça: “A rocha que te atingiu deveria ter cravado seus pés na terra macia,
não importa o quanto sua pele seja forte”, explica ela. A explicação lógica é
de que o herói tem algum tipo de campo de força.
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Kid Miracleman voltou a ser uma criança, mas é uma bomba prestes a explodir. |
Em apenas três páginas, Alan Moore virou do
avesso o gênero dos super-heróis.
Essa abordagem realista dos poderes de um
super-herói teve um impacto enorme sobre a indústria dos comics, para o bem e
para o mal. Levou a obras importantes, como Watchmen, mas também levou a
abordagens equivocadas, como o Novo Universo da Marvel ou os filmes de Zack
Snyder.
A sequência também inclui a confissão de Liz,
que admite estar grávida – o que gera um conflito com Mike, uma vez que o filho
é do Miracleman. Mas não são, afinal, os dois a mesma pessoa? A história mostra
que não. “Ele é muito melhor do que eu em tudo. Seus pensamentos são como
poesia”, reclama o repórter.
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Uma sequência de duas páginas, mas de grande impacto. |
De fato, há uma sequência em vemos o herói
voando e o texto reflete isso: “Como uma pipa que perdeu a guerra contra o
vento, eu flutuo crucificado no céu... suspenso entre o solo e as estrelas,
entre o paraíso e a terra, entre os símios e os anjos”.
Mas estamos falando de uma história de Alan Moore e ele não deixa o ritmo cair. Nessa HQ singela, ele introduz um dos personagens mais interessantes da série, o assassino com dentes de safira, Senhor cream. Ele é contratado para descobrir a identidade secreta do Miracleman e deduz que é um dos jornalistas que estavam presentes na usina. A única pessoa que poderia lhe dar essa informação é um dos terroristas que estava próximo quando Mike Moran se transformou e teve quase todo o corpo queimado, além de uma lesão nos ouvidos que o tornou surdo.
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Os pensamentos de Miracleman são como poesia. |
Cream o visita no
hospital e se comunica com ele através de recados em um caderno. Alan Moore
consegue transformar isso em uma sequência aterrorizante. O leitor percebe que
está diante de um assassino frio e calculista, capaz de qualquer coisa para
realizar seus objetivos. Mas ele conseguiria matar Miracleman? Sim, ele consegue
arranjar uma maneira de matar um homem invulnerável, como vemos no final
surpreendente da história.
Em apenas duas HQs de seis páginas, Alan
Moore, agora com o traço de Alan Davis, conseguiu revolucionar os super-heróis,
estabelecer um novo e poderoso vilão e ainda criar pelo menos duas situações de
grande impacto com esse vilão.
Um desses roteiristas novos levaria umas
trinta edições tentando e não conseguiria.
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