terça-feira, março 25, 2025

Miracleman - Assassinato azul

 

Moore revoluciona ao mostrar uma abordagem realista dos super-heróis. 

O embate entre Miracleman e Kid Miracleman foi um evento tão grandioso que parecia que a história só poderia decair depois disso. De fato, a história seguinte é quase toda focada em uma visita ao campo de Mike Moran e sua esposa nas quais eles testam seus poderes.

A sequência é uma pérola da metalinguagem. A mulher usa como referência gibis americanos de super-heróis. Mas, ao mesmo tempo, percebe que aqueles poderes não fazem sentido. Por exemplo, quando Miracleman joga para o alto uma rocha imensa e deixa que ela caia em sua cabeça: “A rocha que te atingiu deveria ter cravado seus pés na terra macia, não importa o quanto sua pele seja forte”, explica ela. A explicação lógica é de que o herói tem algum tipo de campo de força.

Kid Miracleman voltou a ser uma criança, mas é uma bomba prestes a explodir. 


Em apenas três páginas, Alan Moore virou do avesso o gênero dos super-heróis.

Essa abordagem realista dos poderes de um super-herói teve um impacto enorme sobre a indústria dos comics, para o bem e para o mal. Levou a obras importantes, como Watchmen, mas também levou a abordagens equivocadas, como o Novo Universo da Marvel ou os filmes de Zack Snyder.

A sequência também inclui a confissão de Liz, que admite estar grávida – o que gera um conflito com Mike, uma vez que o filho é do Miracleman. Mas não são, afinal, os dois a mesma pessoa? A história mostra que não. “Ele é muito melhor do que eu em tudo. Seus pensamentos são como poesia”, reclama o repórter.

Uma sequência de duas páginas, mas de grande impacto. 


De fato, há uma sequência em vemos o herói voando e o texto reflete isso: “Como uma pipa que perdeu a guerra contra o vento, eu flutuo crucificado no céu... suspenso entre o solo e as estrelas, entre o paraíso e a terra, entre os símios e os anjos”.

Mas estamos falando de uma história de Alan Moore e ele não deixa o ritmo cair. Nessa HQ singela, ele introduz um dos personagens mais interessantes da série, o assassino com dentes de safira, Senhor cream. Ele é contratado para descobrir a identidade secreta do Miracleman e deduz que é um dos jornalistas que estavam presentes na usina. A única pessoa que poderia lhe dar essa informação é um dos terroristas que estava próximo quando Mike Moran se transformou e teve quase todo o corpo queimado, além de uma lesão nos ouvidos que o tornou surdo. 

Os pensamentos de Miracleman são como poesia. 


Cream o visita no hospital e se comunica com ele através de recados em um caderno. Alan Moore consegue transformar isso em uma sequência aterrorizante. O leitor percebe que está diante de um assassino frio e calculista, capaz de qualquer coisa para realizar seus objetivos. Mas ele conseguiria matar Miracleman? Sim, ele consegue arranjar uma maneira de matar um homem invulnerável, como vemos no final surpreendente da história.

Em apenas duas HQs de seis páginas, Alan Moore, agora com o traço de Alan Davis, conseguiu revolucionar os super-heróis, estabelecer um novo e poderoso vilão e ainda criar pelo menos duas situações de grande impacto com esse vilão.

Um desses roteiristas novos levaria umas trinta edições tentando e não conseguiria.

Sem comentários: