segunda-feira, dezembro 01, 2025

Mistério à americana

 


Uma das poucas áreas em que os norte-americanos se destacam, em termos literários, é nas histórias policiais. O gênero foi criado por Edgar Alan Poe em abril de 1841, com o conto Os Crimes da Rua Morgue. De lá para cá, quase todos os grandes escritores da terra de Tio Sam se dedicaram, em algum momento de suas carreiras, às histórias policiais, com destaque para Dashiell Hammett e Raymond Chandler. Esses dois últimos chegaram a criar um subgênero, o noir, em que o detetive se envolve com as histórias, em oposição ao estilo inglês, em que o detetive resolve quase todo o caso de seu escritório, utilizando apenas o raciocínio lógico. Assim, a coletânea Mistério à Americana é um prato cheio para os fãs do gênero.
O livro é organizado e tem prefácio de Donald Westlake. Pouca gente o conhece no Brasil, e, no entanto, é um dos mais inventivos escritores que já tive o prazer de ler. Sua especialidade era produzir livros sob uma ótica inusitada. Em O Espião Pacifista ele mostrava um pacifista bicho-grilo envolvido em uma trama internacional de terrorismo e sendo obrigado a trabalhar para o FBI. Em A Vida Secreta de um Homem Sensual ele nos mostra um escritor de erotismo que é um frustrado sexual. Infelizmente, Westlake só organizou o volume, procurando histórias interessantes em antologias, revistas masculinas, como a Playboy, magazine especializados, como a Ellery Queen's Mystery Magazine (que foi editado aqui no Brasil com o nome de Mistéiro Magazine até a década de 70) e até revistas acadêmicas, como Oxford American.
O resultado une de escritores consagrados, como Jeffery Deaver (de O Colecionador de Ossos, que chegou a virar filme) a nomes totalmente desconhecidos.
Os que estão acostumados ao gênero policial mais convencional, no estilo Agatha Christie, vão se decepcionar. A grande maioria da história foge do padrão "Assassinato que deve ser solucionado por um detetive". Na verdade, em muitos casos, nem mesmo há um assassinato e, em outros, não há detetive. Em outras situações, o detetive só se depara com um assassinato quando está investigando um outro crime mais banal. É o que acontece, por exemplo, com "Milagres! Acontecem!", de Dough Allyn. A trama toda gira ao redor de um detetive tentando descobrir a filha desaparecida de uma cantora gospel.
Em "Motel 66"não há nem mesmo um detetive. A história tem como protagonista uma moça ingênua que passa sua lua de mel em um hotel de beira de estrada na famosa Route 66. Anos depois ela volta ao mesmo local e acaba descobrindo que sua estada ali pode estar relacionada a um crime. A história termina com a sugestão de outro crime, num clima que beira o cômico.
Em "Saltando com Jim", um detetive é contratado para proteger o marido de uma bela mulher, que parece estar envolvido com negócios escusos. Sua investigação o leva a descobrir que ele está relacionado com o comércio internacional de mulheres e que o piloto de um avião o está chantageando. Não, contar isso não estraga a história. "Saltando com Jim", assim como "Milagres! Acontecem!" são histórias noir, em que a solução do crime é menos importante que a investigação em si. Já se disse que o policial noir é o mais próximo que a literatura moderna chegou do teatro grego, em que os personagens parecem estar sendo guiados por um destino do qual não podem escapar. O detetive é apenas uma testemunha dessa derrocada.
Há uma história emblemática de Dashiell Hammett em que um detetive bate na porta de uma casa perguntando por um adolescente que fugiu de casa. Os bandidos, que estavam na casa, logo desconfiam e o prendem. Enquanto decidem o que fazer o detetive, eles discutem entre si e acabam se matando. No final descobrimos que o detetive estava mesmo procurando um garoto desaparecido e que sua presença na casa era puramente acidental. É esse tipo de ironia do destino que o leitor encontrará na maioria das histórias de Mistério à Americana.

Guerras Secretas – Uma pequena morte

 


O número seis da série Guerras Secretas é dedicado a dois acontecimentos específicos.

De um lado, Vespa sofre um desastre aéreo e vai parar em um pântano onde encontra com Lagarto. Acontece que a Gangue da Demolição está ali para pegar Lagarto e, no processo, acabam ferindo a heroína, o que provoca a fúria do réptil – como se o roteirista Jim Shooter estivesse ensinando como criar conflito mesmo entre os vilões.

Vespa faz amizade com o Homem-Lagarto. Uma amizade animal! 


Por outro lado, os X-men vão interceptar um grupo de vilões que se aproxima de um vulcão, provavelmente com a intenção de fazê-lo entrar em ebulição. Quando conseguem afastar o perigo, Ciclope atira seus raios oculares no vulcão, fazendo com que ele entre em erupção. Lembro que lá pelos meus 15 anos, quando li, pensei: “Por que ele fez isso?”. Relendo, ainda parece uma atitude impensada, um roteirismo, quando um roteirista faz o personagem fazer algo idiota para que a trama se desenvolva.

Os X-men tentam impedir os vilões de provocarem a erupção de um vulcão... 


No final, a ação de Ciclope acaba sendo acertada, pois a erupção do vulcão faz Galactus paralisar seu trabalho de consumir o planeta. Mas se era assim, por que simplesmente não deixaram os vilões fazerem o trabalho? Teria sido muito mais sensato do que ferir mortalmente o Homem Molecular. Parecia uma atitude de quinta série.

... para logo depois provocar a erupção do vulcão. 


Além disso, uma coisa que já naquela época me chamou atenção é o fato dos X-men extremamente subservientes ao professor Xavier, como se fossem todos pré-adolescentes da fase inicial do título. Todos,  com exceção de Ororo, que parece apenas uma garotinha revoltada, algo sinalizado por seu visual punk. Parecia que Jim Shooter só tinha lido mesmo a fase de Stan Lee e Jack Kirby à frente dos mutantes e dado apenas uma folheada na fase de Claremont e Byrne.