domingo, junho 25, 2006

A escola do jardim


No ano de 306 a.c. o filósofo grego Epicuro, então com 36 anos, abriu sua escola em Atenas. Epicuro comprara para tal uma casa com jardim e, ao invés de trancafiar-se em uma sala com os alunos, preferia ficar ao ar livre, conversando com seus alunos.
Observadores da época diziam que não parecia um mestre rodeado de alunos, mas sim um grupo de amigos que filosofavam juntos.
O objetivo da filosofia epicurista era descobrir como o homem podia ser mais feliz. Para Epicuro, a felicidade estava na busca do prazer. Mas prazer para ele era a ausência de sofrimento. Assim, só devemos procurar aqueles prazeres que não trazem nenhum sofrimento, nem para nós nem para os outros.
Além disso, buscar o prazer não significava ser dominado pelos desejos. Segundo Epicuro, devemos fruir o prazer de cada situação, sem nos preocuparmos com o que não temos. “Não deves corromper o bem presente com o desejo daquilo que não tens; antes deves considerar que aquilo que agora possuis se encontrava no número dos teus desejos”, dizia.
Para enriquecer um homem, não é necessário dar-lhe tesouros, mas diminuir-lhe os desejos. Quem se satisfaz com o que tem é um homem feliz.
Mas, para Epicuro só podemos apreciar o prazer através do amor e da paz de espírito.
Uma filosofia como a de Epicuro não poderia se disassociar-se de seu método de ensino. O próprio jardim era exemplo disso. Por que trancar-se em uma sala se era muito mais prazeroso dar aulas no jardim?
Na escola do Jardim as aulas não tinham hora para início ou fim. Epicuro podia ser visto a qualquer momento discutindo com seus alunos.
A amizade também era essencial. Epicuro era antes de mais nada um amigo de seus pupilos. Até os inimigos louvavam essa amizade fraternal que envolvia os epicuristas. Dizem que jamais houve brigas entre eles.
Embora dois milênios nos separem da escola do Jardim, ainda podemos aprender muito com ela.
Epicuro nos ensinou que não existe educação sem prazer. Se aprender algo não foi uma experiência prazerosa, o aluno logo esquecerá. O prazer da descoberta é sufocado por um grande número de professores e escolas, que tomam a educação como obrigação. Confesso que desde a época da faculdade fiz uma promessa para mim mesmo: jamais leria algo que não me desse prazer. Como professor, devo ler muito, mas sempre vejo nisso como uma oportunidade de prazer, não como uma obrigação. E, confesso, se um livro não está me dando prazer, vou procurar outro sobre o mesmo assunto.
Epicuro também nos ensina que a educação não deve se prender a quatro paredes, ou os 50 minutos de aula. O aprendizado pode se dar em qualquer hora, em qualquer situação. Há professores que simplesmente se negam a responder perguntas dos alunos fora da sala de aula, ou fora do horário. Esses são no máximo transmissores de conhecimento, mas nunca mestres. O verdadeiro mestre, o é 24 horas por dia, até porque muitas vezes o aluno aprende mais com uma pergunta no corredor, um bate-papo na hora do lanche, ou um texto indicado por um professor. Confesso que fico muito feliz quando um aluno diz que leu um texto meu na internet e afirma que aprendeu algo com ele.
Por fim, a amizade. Um bom professor precisa ter domínio do conteúdo, precisa dominar didática, gostar de dar aulas, mas também precisa gostar dos alunos.
Já ouvi professores dizerem que não suportam os alunos. Como ensinar algo a alguém que se odeia? Até porque o respeito é fruto muito mais da admiração, do afeto, do que da força. Todas as pessoas que tentaram impor o respeito pela força acabaram mal. Mussolini, por exemplo, foi linchado. Hitler teve de tomar veneno e deixar ordens para queimarem seu corpo para que não acontecesse o mesmo com ele. Por outro lado, pessoas como Gandhi são até hoje respeitadas justamente pelo amor que emanavam.
O professor que não é amigo dos alunos jamais desenvolverá neles a curiosidade intelectual e jamais será respeitado como mestre. Sem afetividade, a escola vira apenas uma fábrica de diplomas.

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