sexta-feira, setembro 01, 2006


Texto de uma aluna da FAMA. Bonito e sensível:


A BONECA VELHA

Tereza Cristina Sampaio Lima

De baixo de um escaldante, as três da tarde, o homem parecia não se incomodar com a demora do transporte, mas estava atento ao menor sinal que o ônibus pudesse dar.
A sacola de supermercado junto aos pés calçados por uma velha chinela de dedo, não tinha forma alguma, e por isso não dava para identificar o seu conteúdo, mas pelo suor que lhe escorria pelo rosto, sabia-se que naquela sacola existia algo muito precioso, pois pesada parecia estar e mesmo ao chão ele a protegia como um excelente cão de guarda. Com certeza era fruto de seu esforço em algum trabalho pesado.
O rosto cansado, envelhecido com o tempo, já não tinha mais expressão alguma, mas sim um alívio por mais um dia cumprido de trabalho e a tão esperada volta para casa, depois de dois sem ver a família.
Ao olhar para as mãos ansiosas, cheias de calos e sujas, certifiquei-me que já era velho, um senhor de idade.
Mais meia-hora naquele sol, e o ônibus passava-lhe pela frente ignorando o seu sinal...
Não é a primeira vez que isso acontece, mas o que fazer diante do pouco caso que muitos motoristas dos coletivos, fazem ao ver um idoso ou uma pessoa humilde nas paradas?
Posso afirmar que me senti me senti tão ofendida quanto aquele pobre senhor.Não é por ser velho, pobre, sujo, que um ser humano deva ser tratado com indiferença.
Pesquisas são feitas demonstrando a quase extinção do preconceito e do racismo em nosso país, mas será mesmo?
Alguns minutos foram o suficiente para saber que o senhor José, pedreiro, pobre, pai de quatro filhos, estava fora de casa há dois dias, pois arranjara um emprego como ajudante de pedreiro aos 52 anos de idade, para conseguir cem reais para ajudar em casa, e levara como presente para filha pequena, uma velha boneca que ganhara da filha do seu patrão, aquela boneca seria o presente de aniversário de 8 anos da menina, que lhe esperava ansiosa em casa pelo presente que o senhor José lhe havia prometido.
Foram cinco minutos, avistei o ônibus que eu iria pegar, e subi, enquanto ao senhor José não sei quantas meia-horas mais ele ainda teve que esperar para ir para casa dá o presente da pequena Rita.

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