segunda-feira, outubro 23, 2006

Queria ser Jean-Michel Charlier


O relançamento de Blueberry pela editora Panini fez com que eu reencontrasse um velho ídolo, a pessoa que eu gostaria de ser: o roteirista belga Jean-Michel Charlier.
Charlier foi uma das mentes brilhantes que projetaram a HQ franco-belga pela Europa e construiram um gênero que une qualidade a popularidade, pelo menos no velho mundo.
A primeira vez que tive contato com seu trabalho foi no número 21 da série Graphic Novel, da editora Abril, que pubicou a primeira história de Blueberry. Quando li a biografia e vi sua foto com o sorriso bonachão, os óculos pendurados e um charuto na boca, disse para mim mesmo: esse é o cara!
Charlier, além de ter um texto genial, era eclético. Escrevia em qualquer gênero, para qualquer desenhista e qualquer faixa etária. Para os desenhos de Uderzo (ilustrador de Asterix) criou uma série de aventuras sobre dois aviadores, Tanguy e Laverdure. Para o traço clássico de Hubinon criou uma série infantil, Barba Negra. Além disso, escreveu programas de televisão e reportagens especiais.
Mas sua maior criação foi Blueberry, o cowboy cara de pau, inveterado jogador de pocker. O sucesso do personagem não foi só por sua causa. Blueberry juntou o melhor roteirista da Europa com o melhor desenhista do velho continente: Moebius, que começa tímido nos primeiros capítulos e depois solta todo o seu traço detalhista, mais apreciado nas cenas de saloons, nos quais se podia contar 20, 30 pessoas. Cada vinheta de Blueberry é um verdadeiro quadro, a ser apreciado com gosto e atenção.
E Blueberry era um personagem perfeito para os novos tempos: não era um mocinho que sempre fazia o bem, mas constumava se importar com os índios, característica que fez dele um diferencial nos quadrinhos de faroeste. Além disso, bebia e parecia ter tantos defeitos quanto qualidades (anos depois, essa tendência de cowboy humano seria muito bem aproveitada em Ken Parker).
Levei muitos anos vasculhando sebos, encontrando aqui e ali edições portuguesas de Tangui e Laverdure e do Barba Ruiva. E a cada álbum que lia eu me encantava mais. Gostava especialmente do fato de que Charlier não parecia estar querendo fazer uma obra-prima, mas simplesmente contar uma boa história. Roteirista que se levam a sério demais, que se acham gênios, costumam ser maçantes.
O lançamento da Panini é uma ótima oportunidade de outros conhecerem o melhor roteirista europeu, aquele que eu gostaria de ser: Jean-Michel Charlier.

Em tempo: tanto Blueberry quanto Aldebaran e XIII podem ser encontrados na maioria das bancas de Macapá.

4 comentários:

Anónimo disse...

Oi Ivan, também estou no blogspot agora. depois passa lá ... http://bolseta.blogspot.com/

"Finalmente chegou em Macapá os álbuns europeus XIII e Aldebaran. "

onde encontrar ????

bejo

Carol Assis

jeanokada disse...

Falou tudo sobre os roteiros. Gosto de textos assim também... Interessante que os europeus fazem HQs ambientadas nos EUA sem culpa, né? Aqui, se vc faz isso, as patrulhas ideológicas surgem de todos os lados pra te apontar um dedo acusador e te chamar de "vendido" e "traidor da cultura nacional". =)

Dessas séries européias publicadas no Brasil, tenho acompanhado só o XIII (queria ler o Aldebaran tb, mas a grana tá curta... vou ver se encontro os scans). Tenho aprendido muito de narrativa com esse título. Os autores vão na contra-mão do quadrinho americano atual, fazendo uma narrativa super-comprimida (e sem carregar no texto!), condensando o máximo de informação em cada página, fazendo com que aconteça um monte de coisas em cada história. Pra mim tá sendo uma aula!

Gian Danton/Ivan Carlo disse...

Oi Carol,
os álbuns europeus podem ser encontrados nas bancas.
Jean,
concordo com vc. os europeus falam de temas norte-americanos sem dor na consciência, mas eles fazem isso do jeito deles. Blueberry é um faroeste completamente diferente do faroeste dos quadrinhos norte-americanos. Os britânicos escrevem super-heróis numa boa, mas colocam seu tempero. A lição é: vc pode falar do que quiser, mas fale do seu jeito.

Anónimo disse...

Ivan, o e-mail do nery é jrney@hotmail.com , ele está morando em belém tem algum tempo.