segunda-feira, outubro 22, 2007

Deuses, apenas deuses


Estou lendo os Novos Deuses, de Jack Kirby, lançado em três edições pela Opera Graphica. No início da década de 1970, Kirby saiu da Marvel, na qual havia criado a base visual dos heróis da editora, e foi para a DC na qualidade de astro. A editora lhe deu liberdade total e Kirby resolveu criar toda uma mitologia. A história começa com a morte dos velhos deuses (como se o autor estivesse matando Thor, com o qual trabalhou durante anos para a Marvel). Novos Deuses apresenta Darkside, Orion, Nova Gênese, muitos personagens que depois seriam a base de mega-sagas na DC.

Em Novos Deuses, vemos Kirby em estado puro, sem a interferência de escritores ou editores. É uma explosão de ação e imaginação, angulações estranhas... a serviço de uma mitologia poderosa, que, embora não tenha feito muito sucesso na época, iria influenciar artistas por muitos e muitos anos.

Mas, embora tudo seja muito bom, falta algo: humanidade. Os poucos personagens humanos que aparecem são apenas escadas para os Novos Deuses, e mesmo Orion parece distante e pouco humano. O melhor personagem é justamente o menos humano de todos: Darkside.

É a falta que faz um Stan Lee. Ele equilibrava a imaginação desenfreada do Kirby, contrapondo as tramas estelares com dramas humanos. O Surfista Prateado, por exemplo, apesar de alienígena, é muito humano.

Uma curiosidade: Kirby evidentemente se identifica com o caladão e briguento Orion (sua primeira fala é: Eu ouvi a palavra, e a palavra é batalha!), mas aparece o brincalhão Lightray, que parece ter uma personalidade parecida com a de Stan Lee. Inconscientemente, Kirby estaria com saudades do seu velho amigo da Marvel?

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