segunda-feira, setembro 01, 2008


Fomos assistir ao filme Bezerra de Menezes, diário de um espírito. É um filme que tinha tudo para agradar, especialmente aos espíritas e aos que simpatizam com essa doutrina. Mas não agrada. Apesar do apuro técnico, especialmente na fotografia, o roteiro peca por vários erros básicos. Há, por exemplo, cenas que não se entende, como aquela em que Bezerra está lendo jornal em seu escritório. O expectador não consegue ver a manchete do jornal e fica sem saber o que está acontecendo, até porque não há diálogo.

Costuma-se dizer que a narração em off é muleta do roteirista, que usa o texto para contar algo que pode ser contado com imagens ou com diálogos. Eu discordo. Há ótimos exemplos da narração em off usada como algo que complementa a imagem, como em Clube da Luta, Anos Incríveis e Tropa de Elite. Mas em Bezerra de Menezes a narração em off é mesmo uma muleta, contando coisas que as imagens poderiam contar (alguém aí se lembra da cena inicial de Dois filhos de Francisco, sem nenhuma narração e sem nenhuma fala, mas que nos explica direitinho a paixão de Francisco pela música?).

Quanto aos diáologos, eles são usados mais para apresentar discursos dos personagens do que conversas. Há pelo menos três discursos de Bezerra, fora discursos de outros personagens. Além disso, a linguagem da época e a transcrição literal de textos do médium parecem forçadas e não funcionam. Sempre achei que a linguagem deve ser atualizada para maior compreensão do público. No caso de um filme sobre espiritismo, isso não seria nenhum problema, já que a doutrina espírita se pretende capaz de renovações de acordo com o desenvolvimento da ciência, da filosofia... e da linguagem.
Também senti falta de um conteúdo mais espiritual, mostrando por exemplo, o desencarne do médium e seu trabalho nas regiões etéreas.
É uma pena, pois a vida de Bezerra de Menezes realmente é muito interessante e poderia dar a origem a um grande filme.

2 comentários:

Ivan Daniel disse...

Eu esperava mais também... mas vou assistir assim mesmo.

Anónimo disse...

você não acha que, depois de se tornar um roteirista a maioria das coisas simplesmente perde a graça?
Um roteirista tentando impressionar o outro deve ser como um magico tentando impressionar o Outro;
"o que ? coelho na cartola ?! Que falta de originalidade ! É tão clichê !"
"ora, você é que não entende a diferença entre clichê e Clássico."
Tens muita razão quanto a textos explicativos. Nos filmes do Scorcese sempre tem um ou mais narradores explicando uma ou outra coisa sobre o que esta ocorrendo ou como o mundo do crime funciona ( já que esta é a tematica preferida dele).
Talvez o filme tenha pretendido ser didatico demais ( não sei, eu não assisti) e quando se faz isso tem que ter muito cuidado.

Meu nome não é Jonnhy.