sábado, novembro 01, 2008

Apocalipticos e intregrados

No livro Apocalípticos e Integrados, Umbeto Eco faz uma crítica às duas principais teorias de comunicação deste século. Os integrados seriam os funcionalistas norte-americanos. Para eles, tudo que a Indústria Cultural faz é uma maravilha. Tudo é bom. O melhor programa de TV é aquele que tem a maior audiência, a melhor
música é aquela que está na moda. Se o É o Tchan faz sucesso, não tenha dúvida: a sua música é de ótima qualidade, senão não venderia tanto.
Os apocalípticos seriam os adeptos da escola de Frankfurt. Para eles, a Indústria Cultural é má por princípio, pois ela manipula as pessoas. As propagandas manipulam você para que você tome Coca-Cola, para que você fume cigarros Hollywood. Grupos como É o Tchan fazem sucesso porque o público é manipulado para gostar deles.
Os defensores mais radicais da escola de frankfurt defendem que nada que a Indústria Cultural produz é arte, pois arte não é feita para ser vendida. Assim, Spirit (a história em quadrinhos que revolucionou a linguagem da HQ) não é arte, Cidadão kane (considerado o melhor filme de todos os tempos) não é arte. São apenas iscas para nos
enganar e nos fazer acreditar que a Indústria Cultural pode produzir arte. Os apocalípticos têm como bandeira a divisa: “Tudo que faz sucesso é de má qualidade”.
Eles ignoram que somos capazes de perceber a manipulação e resistir a ela. Eu, por exemplo, odeio Coca-Cola e acho cigarro um vício fútil. As propagandas de cigarro e Coca-Cola só contribuíram para me afastar desses produtos. E não sou o único. (Devo admitir, entretanto, que já tive os meus dias de apocalíptico. Houve um tempo em que eu acreditava piamente que era impossível escrever uma boa telenovela. Mudei de
opinião quando vi Renascer, de Benedito Rui Barbosa).
A posição apocalíptica freqüentemente redunda em algo como “Os filmes de Charles Chaplin não têm valor estéticos e foram feitos apenas para inculcar a ideologia norte-americana nos países do terceiro mundo”.
Por outro lado, a posição integrada pode ser exemplificada por aqueles que adoram toda e qualquer coisa que é produzida pela Indústria Cultural. Pessoas que assistem televisão sem diferenciar o que é um bom programa de um péssimo programa. Aliás, a maioria dessas pessoas, prefere os péssimos programas, pois são os mais assistidos.
Os integrados costumam ligar a televisão de manhã e só desligá-la à noite, transformando-a numa caixinha hipnotizadora que nos atrai e nos impede de realizar qualquer atividade mais criativa.
Nenhuma dessas posições me parece a melhor para ver a questão. Concordo plenamente que a maior parte do que é produzido pela Indústria Cultural é lixo. Basta ligar a televisão num dia de Domingo para constatar isso. Há momentos em que se tem apenas programas de auditório imbecilizantes em que o máximo de raciocínio que se pede o expectador é tentar advinhar quem vai acertar a torta na cara de quem.
Mas também acredito que é possível fazer coisas boas em qualquer gênero, em qualquer formato. A existência de programas televisivos como A Comédia da Vida Privada (que infelizmente durou pouco tempo) e Simpsons provam isso.
O humor de Simpson ou da Cómédia são daquele tipo que obriga o expectador a pensar. Se não houver raciocínio, não há o riso. Um pouco diferente dos programas de auditório em que o público é condicionado a rir em determinado momento. É como se os diretores dissessem “Atenção. No momento em que a gravata do personagem subir,
todo mundo ri, certo?”. E, para ter certeza de que o expectador tenha realmente compreendido a mensagem, eles ainda colocam risos de fundo. E a mesma piada é repetida duas, três, quatro, cinco vezes....
No campo da música, um exemplo de que há um público ávido por coisas inteligentes foram os Beatles. Mesmo fazendo uma música revolucionária e difícil, eles conseguiram vender mais que qualquer outro grupo musical.
Na verdade, o público inteligente só não é maior porque há poucas opções.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Ivan, acompanho teu blog há algum tempo e também já li algo de tua produção em quadrinhos. Como a internet supera em muito a geografia, pouco importa que tu estejas aí no Amapá e nós aqui no Sul.

Admiro teu trabalho e tuas idéias e me identifico com a maioria delas. Considero a questão da produção cultural uma das mais importantes, junto com a educação. Me parece que há aí um dilema, que decorre da necessária liberdade que precisam (e devem ter) os artistas e a própria indústria. As obras podem tomar vários caminhos e muitas vezes seguem o rumo do lucro fácil, banalizando-se.

Como a censura é inadmissível (a queremos bem longe...) o que podemos fazer é "peneirar", separar o joio do trigo. O que nem sempre é simples, muitas vezes é subjetivo, sei. Posso não perceber nada de mais num certo filme, mas pode ser enriquecedor para outra pessoa.

Bem, parabéns pelo blog e tudo mais. Deixo o convite para dares uma passada em nosso blog (feito a quatro mãos com um colega, fora as mãozinhas de alguns outros amigos), O Planeta É Nosso! (oplanetaehnosso.blogspot.com)
Lá falamos com freqüência sobre filmes antigos, mas também seriados, música, livros, etc. Há algum tempo até transcrevemos um comentário sobre o filme LOGAN'S RUN que acho que conheces bem!
Um abraço!

Taiguara (Thintosecco).